Ao morar no bairro da
Cidade Nova, zona norte da cidade de Manaus, pude observar algumas cenas que,
com o passar dos tempos, ficaram restritas a periferia e ao interior do nosso
Estado do Amazonas – uma delas foi acompanhar um cidadão que criou um garrote
(boi pequeno) até virar churrasco em grande festa em sua comunidade.
Ao lado do meu barraco
existe um terreno baldio, onde crescem a vontade muitos capins, principalmente,
do tipo canarana – foi exatamente neste local onde o dono de um garrote o
deixou se alimentar até alcançar a sua vida adulta.
Depois de um ano, perguntei
a um vizinho sobre aquele senhor e seu mascote, que criava como fosse seu
filho.
Fui informado que o homem
era um interiorano, um peão de fazenda do Baixo Amazonas (cidade de Parintins),
onde passou grande parte de sua vida cuidando de gados e, aquele animal, fora
ganho num torneio de futebol em uma comunidade rural de Manaus.
Por ter sido peão de
fazenda, ficou responsável pela criação do animal até chegar a hora do abate.
O animal foi criado longe
de outros bois, sendo domesticado pelo velho peão, aprendendo a mugir e a berrar
com os humanos, o resto sendo puro instinto animal.
Durante dois anos fiquei a
observar aquela cena entre o criador e o seu pupilo – os dois tinham uma
linguagem própria, com muito afeto e interação.
As cinco da tarde, o
animal ficava exaltado, mugia alto, era a hora de voltar para casa e dormir.
Quando o velho peão chegava,
o boi balançava o rabo para lá e para cá, girava freneticamente a cabeça e mugia de alegria
com a presença do seu dono.
As crianças e os jovens
quando iram e vinham da escola, ficavam extasiados com aquele boi, pois somente
tinham visto um animal daquele em açougues ou na forma de bifes, churrascos e picadinhos
em suas mesas.
Certa vez, o boi e o velho
deixaram de aparecer no terreno baldio, fazia uma semana – questionei um
vizinho sobre o paradeiro dos dois:
- Vizinho, o boi foi para
o abate ou o peão foi abatido e subiu para o andar de cima?
Ele respondeu:
- Meu Vizinho, o peão
abateu o animal, vendeu três quartos e fez churrasco de um quarto na
comunidade, na festa de São João.
Depois de algum tempo,
notei que o velho peão voltava ao terreno baldio, ficava a observar os capins,
talvez com saudades ou remorsos de ter abatido, vendido e comido o boi, o
mascote do seu coração! É isso ai.
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