Esta postagem foi publicada em 2011 e, republicada, hoje, em homenagem ao meu amigo Trindade, falecido, recentemente.
Ele é uma figura de pessoa, um homem polivalente,
formado em Direito, foi policial civil, chegando ao posto de Delegado, onde
conquistou a sua merecida aposentadoria; exerceu por muitos anos a função de
"Tradutor Juramentado", o homem conhece muito bem as línguas
francesa, inglesa e a espanhola; gostava e, ainda aprecia muito um boteco e as
cunhantãs; ele é um gozador nato, tendo uma preferência muito grande para com o
trocadilho.
Como sabemos, a figura do Delegado de Polícia Civil
é a de uma pessoa que exerce as atividades de polícia judiciária e de apuração
de infrações penais, geralmente utiliza um grande óculos escuro para disfarçar,
anda armado e não dá bobeira na sua segurança pessoal, mas, o Trindade parecia
um arremedo de policial, o cara nunca pegou numa arma, acho que nem sabia
atirar direito ou torto.
Ele era sempre escalado para ser plantonista, ou
seja, para resolver pequenas broncas acontecidas à noite, as coisas pesadas
ficavam para o pessoal da manhã seguinte. Tinha um detalhe: ele gostava de
“esticar a baladeira” (atar a rede de dormir) no próprio gabinete, somente
levantava quando chegava um Advogado, mesmo assim, ele despachava se embalando
na rede! Mas, nada desabonou a sua conduta, foi um policial íntegro e
respeitado por todos.
A família Trindade é formada por intelectuais,
muitos deles tornaram-se Despachantes Aduaneiros, são bastante conceituados na
Praça de Manaus. O nosso Trindade trabalhou um bom tempo nesta função,
colaborando com os seus irmãos. Por ser um poliglota, prestou bons serviços
para os empresários do Distrito Industrial, na tradução de documentos para
serem apresentados à Aduana brasileira.
O cara ficou famoso nos botecos de Manaus, não por
brigas ou confusões, não é a praia dele, mas, pela sua irreverência extremada.
Gosta de gritar alto: - Lucinda, Lucinda, Filha da P...! Au, au, au, que
diabos de casa é essa, somente os cachorros que me esperam! Heeei, olha o
Pajurá do racha, Jaca mole e Pupunha sem caroço!
Para quem não sabe, a Lucinda era esposa de um
vizinho do Trindade, o seu marido tomava todas, chegava de madrugada, gritava
pela mulher e, ela não abria a porta, soltava somente os cachorros! Adotou o
mote de um vendedor de frutas do bairro do São Raimundo, o caboclo dava um
berro que assustava todo mundo, tudo para anunciar os seus produtos. Esse berro
é ainda muito utilizado no Bar do Armando, deixando o lusitano puto da vida!
Não desejo entrar na vida particular do meu amigo
Trindade, mas, todo notívago biriteiro tem os seus problemas com a “Dona
Encrenca”, ele teve os seus, tanto que chegou a separar-se várias vezes e, para
tirar o atraso da vida, dava com força em cima de uma cunhã (mulher jovem).
Adora falar: - Todo cavalo velho gosta de um capim novo! Certa vez, uma
coroa retrucou: - Toda porteira velha gosta de uma estaca nova! Sem
chance, pois ele nunca foi de "rasgar uma velha!". Eu, hein, nem
pensar!
Por ser um homem culto, gosta muito do trocadilho,
para ele “O Trocadilho é do Trocaralho!”. A Paronomásia (o popular trocadilho)
é uma figura estilística que utiliza as palavras parônimas (com sonoridade
semelhante), muita utilizada em discursos humorísticos e publicitários – no
caso do nosso amigo, ele utiliza na forma de cacofonia, com fins maliciosos ou obscenos.
Trindade, a trilogia, a tríade e o terno, é verdade! Podes crer!
O Trindade é muito querido por todos, faz parte da
Banda Independente da Confraria do Armando (BICA) e da Banda do Sete Estrelas,
muito conhecido no meio etílico manauense. Ele depois que toma umas e outras,
gosta de declarar: - Copo aqui, copular! Terapia alcoolpassional! Hoje o
clima está pro piço!
O Trindade é um amante da natureza, tanto que
adquiriu um enorme sítio, na Vila de Paricatuba, em Iranduba, conservou-o
durante anos, ele tinha um projeto para construir um “Redodrómo”, uma imensa
casa onde os turistas ficariam alojados em redes de dormir! Parece que não deu
certo, tanto que ele anuncia a venda do imóvel.
Gosta muito de viajar, passa temporadas no
Nordeste, inclusive, comprou um apartamento em João Pessoa, assim como é
querido em Manaus é também por lá.Certa vez, ele estava no Aeroporto
Val-de-Cans, em Belém, estava aguardando um voo da madrugada para Manaus.
Aproveitou o tempo vago para tomar umas geladas, quando entrou no avião ficou
na última poltrona.
Quando todos estavam dormindo, com as luzes
internas apagadas, ele gritou: - Lucinda, FDP! Todo mundo se acordou e
as luzes foram acesas; quando voltavam a dormir, gritava novamente, fez isso
uma dezena de vezes, na décima segunda, ele apenas falava bem baixinho: -
Lucindaa....! Os passageiros em coro respondiam bem alto e, em bom tom: - Filha
da Puta! Até a tripulação entrou na brincadeira! Foi assim até o avião
aterrissar no aeroporto de Manaus!
Esse é o nosso Trindade, uma figura de Manaus! É
isso ai.
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