sexta-feira, 27 de setembro de 2013

PAULO MAMULENGO, O VENTRÍLOQUO DE PARICATUBA

Ventríloquo é aquela pessoa que treina a sua voz, manipulando-a, dando fala a um boneco, sem mexer a boca, havendo um diálogo entre o artista e a peça inanimada – o Paulo Mamulengo é um deles, criou e manipula o boneco “Negão”, fazendo a festa da petizada na Vila de Paricatuba (Iranduba) e nos bares de Manaus ,aprontando todas.

O Paulo de Tarso é natural de Capina Grande, na Paraíba, mas, faz muito tempo adotou a Vila de Paracatuba, em Iranduba, no Estado do Amazonas, como a sua terra para viver até a sua morte – ele é polivalente: bonequeiro (fez os bonecos da Banda da BICA, do Cinco Estrelas e da Malhação de Judas do Bar Cipriano), repentista (com um bandeiro não tem igual), poeta (escreveu um poema para o meu pai “A Gaveta do Luthier”), filósofo (formado na UFAM), líder comunitário, membro do grupo Mamulengo, ecologista e ventríloquo (criador do boneco Negão).

Foi escolhido por uma equipe de filmagem para o papel principal do filme “O Conde Stradelli”, um barão italiano que trocou toda a riqueza da sua terra natal, para viver na Amazônia, foi acometido da hanseníase, morreu pobre, sendo sepultado em Paricatuba – depois das filmagens, o Paulão ficou conhecido como o “Dom Paulo de Las Picas, o Conde de Paricatuba”, um título prá lá de nobiliárquico!

Pois bem, o Negão foi idealizado e parido na oficina do Paulão, na Praça da Ponta Branca – aprendendo desde cedo a falar somente putaria, um desbocado da melhor qualidade, querido e amado por muitos e, odiado por alguns, principalmente dos prefeitos e vereadores de Iranduba.

Certa vez, estive em Parituba, para prestigiar o relançamento do Instituto Afonso Pena (Presidente do Brasil que esteve por lá em 1906), foi um ideia de um dos filhos saudoso governador Gilberto Mestrinho – o Paulo e o Negão foram animar a festa nas ruínas de Paricatuba.

A época o prefeito de Iranduba era o Muniz – foi até o evento para puxar o saco do filho do ex-governador e, o Paulão aproveitou para largar o pau no alcaide.

Antes da autoridade chegar, o Paulo fez um show para a petizada de Paricatuba:

- Negão, dá um bom dia para a gurizada.
- Bom dia molecada! Escreveu não leu, o pau comeu!
- Negão, nada de palavrão, vamos respeitar! Vamos falar sobre coisa séria e que possa ser útil para a garotada.
- Na hora!
- Em quantas partes se dividem o corpo humano?
- Depende da porrada!
- Mas, negão, como se chama 24 em inglês?
- Twenty four.
- Muito bem! E em português?
- É viado mesmo!
- E 99 em japonês? Agora eu quero ver!
- kuazi xein!
- Negão, olha quem acaba de chegar!
- Quem é o filho de rapariga que está chegando atrasado?
- Deixe disso, Negão, o cara é o Muniz, o Prefeito da cidade.
- Aquele que rouba o dinheiro da merenda da escola das criancinhas de Paricatuba?
- Negão, deixe disso, o homem rouba, mas faz!
- Ele tá cheio de processo nas costas.
- Negão, assim você me ferra - sou merendeiro da escola e ele pode suspender o meu pagamento!
- Não tô nem ai!
- Negão, sou teu patrão, se eu ficar desempregado, estaremos na pior!
- Eu é que sou o teu padrão, sem o meu trabalho, não roda o chapéu, nem com nojo!
- É por falar em chapéu, vou passar agora, será que o prefeito vai dar uma nota de cemzinho?
- Esse miserável ai só dá grana para negas dele!

Pois bem, o prefeito saiu do local cuspindo fogo, depois, mandou suspender o pagamento do Paulo. O Paulão e o Negão aprontaram com outro prefeito, o Nonato - teve que fazer greve de fome juntamente com o Negão, na Praça dos Poderes, em Iranduba, para poder receber os seus últimos seis salários.


O Paulão e o Negão já estão envelhecendo, mas, continuam aprontando, vez e outra se apresentam no Bar do Armando, no centro antigo de Manaus. È isso ai.

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