Ventríloquo é aquela
pessoa que treina a sua voz, manipulando-a, dando fala a um boneco, sem mexer a
boca, havendo um diálogo entre o artista e a peça inanimada – o Paulo Mamulengo é
um deles, criou e manipula o boneco “Negão”, fazendo a festa da petizada na
Vila de Paricatuba (Iranduba) e nos bares de Manaus ,aprontando todas.
O Paulo de Tarso é natural
de Capina Grande, na Paraíba, mas, faz muito tempo adotou a Vila de Paracatuba,
em Iranduba, no Estado do Amazonas, como a sua terra para viver até a sua morte
– ele é polivalente: bonequeiro (fez os bonecos da Banda da BICA, do Cinco
Estrelas e da Malhação de Judas do Bar Cipriano), repentista (com um bandeiro
não tem igual), poeta (escreveu um poema para o meu pai “A Gaveta do Luthier”),
filósofo (formado na UFAM), líder comunitário, membro do grupo Mamulengo,
ecologista e ventríloquo (criador do boneco Negão).
Foi escolhido por uma equipe
de filmagem para o papel principal do filme “O Conde Stradelli”, um barão
italiano que trocou toda a riqueza da sua terra natal, para viver na Amazônia,
foi acometido da hanseníase, morreu pobre, sendo sepultado em Paricatuba –
depois das filmagens, o Paulão ficou conhecido como o “Dom Paulo de Las Picas,
o Conde de Paricatuba”, um título prá lá de nobiliárquico!
Pois bem, o Negão foi
idealizado e parido na oficina do Paulão, na Praça da Ponta Branca – aprendendo
desde cedo a falar somente putaria, um desbocado da melhor qualidade, querido e
amado por muitos e, odiado por alguns, principalmente dos prefeitos e
vereadores de Iranduba.
Certa vez, estive em
Parituba, para prestigiar o relançamento do Instituto Afonso Pena (Presidente
do Brasil que esteve por lá em 1906), foi um ideia de um dos filhos saudoso
governador Gilberto Mestrinho – o Paulo e o Negão foram animar a festa nas
ruínas de Paricatuba.
A época o prefeito de
Iranduba era o Muniz – foi até o evento para puxar o saco do filho do ex-governador e,
o Paulão aproveitou para largar o pau no alcaide.
Antes da autoridade
chegar, o Paulo fez um show para a petizada de Paricatuba:
- Negão, dá um bom dia
para a gurizada.
- Bom dia molecada!
Escreveu não leu, o pau comeu!
- Negão, nada de palavrão,
vamos respeitar! Vamos falar sobre coisa séria e que possa ser útil para a
garotada.
- Na hora!
- Em quantas partes se
dividem o corpo humano?
- Depende da porrada!
- Mas, negão, como se
chama 24 em inglês?
- Twenty four.
- Muito bem! E em
português?
- É viado mesmo!
- E 99 em japonês? Agora
eu quero ver!
- kuazi xein!
- Negão, olha quem acaba
de chegar!
- Quem é o filho de rapariga que está chegando atrasado?
- Deixe disso, Negão, o
cara é o Muniz, o Prefeito da cidade.
- Aquele que rouba o
dinheiro da merenda da escola das criancinhas de Paricatuba?
- Negão, deixe disso, o
homem rouba, mas faz!
- Ele tá cheio de processo nas costas.
- Ele tá cheio de processo nas costas.
- Negão, assim você me ferra
- sou merendeiro da escola e ele pode suspender o meu pagamento!
- Não tô nem ai!
- Negão, sou teu patrão,
se eu ficar desempregado, estaremos na pior!
- Eu é que sou o teu
padrão, sem o meu trabalho, não roda o chapéu, nem com nojo!
- É por falar em chapéu,
vou passar agora, será que o prefeito vai dar uma nota de cemzinho?
- Esse miserável ai só dá
grana para negas dele!
Pois bem, o prefeito saiu
do local cuspindo fogo, depois, mandou suspender o pagamento do Paulo. O Paulão e o Negão aprontaram com outro prefeito, o Nonato - teve
que fazer greve de fome juntamente com o Negão, na Praça dos Poderes, em
Iranduba, para poder receber os seus últimos seis salários.
O Paulão e o Negão já
estão envelhecendo, mas, continuam aprontando, vez e outra se apresentam no Bar
do Armando, no centro antigo de Manaus. È isso ai.
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