domingo, 12 de agosto de 2012

A SEDE SOCIAL DO BANCRÉVEA CLUBE


Muito antes de ser o Banco da Amazônia, ele já fora chamado de Banco de Crédito da Borracha, conhecido como Hevea, com a junção das palavras, o clube dos funcionários ficou conhecido como “Bancrévea”, uma justa homenagem a nossa sofrida e explorada “Seringueira”, a árvore que com o seu látex (água nascente) escravizou e trouxe miséria para muitos e muitos caboclos e, enriqueceu muitos poucos espertos - a sede social dessa instituição financeira foi inaugurada em 1972, permanecendo até hoje na mente de muitos manauaras, pois marcou várias gerações, inclusive a minha.

No ano de 1972, exatamente quarenta anos atrás, os funcionários do Banco da Amazônia S.A., inauguravam a sua sede social na Avenida Getúlio Vargas, no centro de Manaus, um trabalho incansável dos diretores da agremiação, mais precisamente do Hiram Carvalho e do Jorge Motta.

O interessante é que, esta sede obteve verbas para a sua construção, em decorrência de fazer parte alusiva às comemorações do sesquicentenário (150 anos) da independência da nossa pátria.

A sua construção iniciou-se em 1965, com o projeto do arquiteto amazonense Alcerglan Moreira da Silva, tendo como membros da sua equipe os engenheiros mineiros José Moreira Marques e Isaac Feeram – pode-se dizer que, o prédio possuía linhas arrojadas, acredito que fora inspirada pelas construções de Brasília, era um primor da arquitetura, mas, não resistiu ao progresso devastador, onde tudo deve ser destruído para se construir outro de mau gosto no mesmo local.

A diretoria do Bancrévia Clube atuava desde 1962, além dos citados acima, fazia parte o Paulo Benigno de Lima, Fernando Marques, Oswaldo Antunes, Freddye Lima, Gentil Souza, Darwin Carvalho e outros – eles eram muito atuantes, chegando apresentar um patrimônio social avaliando, a época, em sete milhões de cruzeiros, sendo um dos maiores de Manaus.

Eles iniciaram também, a recuperação da sede campestre no bairro de Flores, que ficava nas proximidades da sede a AABB (Associação Atlética dos Funcionários do Banco do Brasil), por detrás da cabeceira da pista de pouso e decolagem do Aéreo Clube de Manaus – por sinal, eram clubes privativos, mas, muito frequentado pelos jovens manauara.

Quando éramos todos jovens, pense numa lisura (sem grana) total, era uma cambada (um montão) de caboclos conhecidos como “Surubim” (um tipo de peixe), liso, mas, cheio de pinta (bonitões) – pois é mano velho, no Bancrévia Clube não dava para “furar” (entrar sem pagar), alguns se aventuravam em adentrar pelo Colégio Brasileiro Pedro Silvestre, pela Rua Dez de Julho, escalar os muros e, penetrar numa boa nas festas do “acocho” (dançar, assediando as gatinhas) – para quem não conhece o “Amazonês, mister se faz a tradução para o “Português!

Lembro muito bem dos embalos de sábados à noite – ficava tudo no escuro, somente na “luz negra”, tinha três ambientes, com o segundo andar disputado a tapa, pois ali ficavam as mulheres mais bonitas e onde se apresentavam os conjuntos musicais “Os Embaixadores, The Blue Birds e The Rocks”, com o Jander, Chain, Manoel Batera e Betão, fazendo a festa.

Tinha um detalhe: as festas acabavam exatamente às dez horas da noite, quando era cantada aquela música que ninguém gostava:  “Ai, ai, ai, ai, está chegando a hora, o dia está raiando, meu bem e, tenho que ir embora...” – muito “neguinho” passava a maior vergonha, pois quando acendiam as luzes e, quem estivesse “armado”, aparecia logo aquele defeito do alfaiate na calça.    
Passados os tempos bons, a nova geração começou a curtir os DJ famosos de Manaus, com o Raidi Rebello mandando ver – começaram a surgir as galeras (turma de mau elementos), o “pau” (brigas) corria solto, a negada não ia para dançar e/ou paquerar a mulherada, o negócio era partir logo para a “porrada”, com o “couro comendo no centro”!

Com o decorrer do tempo, a sede do Bancrévia Clube serviu para tudo, menos para os famosos bailes e das "dancer music" - casa de bingos, clínicas médicas, clubes de mães, sede de partidos políticos e, até de igreja evangélica, para exorcizar os capetas que rondavam aquele local! É mole!

Mas, como tudo o que é bom, um dia se acaba, o Bancrévia Clube foi vendido à revelia dos funcionários do BASA - os donos das faculdades UNINORTE destruíram completamente a sede e, construíram uma academia de “Fitness”, com equipamentos de última geração, porém, elitista e sem a menor graça, sepultando para o todo e sempre parte da memória dos jovens da minha e de outras gerações. É isso ai.

Um comentário:

Marcelo disse...

Belo post. Tempos manauaras que jamais voltarão. Pen.