segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

O SERINGUEIRO E AS GRANDES CORPORAÇÕES DA INGLATERRA E DOS ESTADOS UNIDOS






Duas pontas de todo um processo de extração e comercialização da época áurea da borracha, de um lado, as grandes corporações sediadas em Liverpool e Nova York, com lucros astronômicos, na outra ponta, o seringueiro, vivendo num sistema de semi-escravidão e fadado à morte prematura.


As grandes casas aviadoras (fornecedoras de mercadorias e dinheiro) e exportadoras, sediadas em Manaus e Belém, na sua grande maioria estavam vinculadas as empresas importadoras, sediadas no exterior. Com o advento da vulcanização, a demanda pela borracha cresceu demasiadamente nos grandes centros consumidores da Europa e dos Estados Unidos, o centro produtor em maior escala era a Amazônia brasileira, portanto, o foco dos grandes capitalistas era formar vínculos com as empresas aqui sediadas. Com a concentração de toda a produção nas mãos dessas corporações, obtiveram fabulosos lucros com a comercialização com as empresas de manufaturas e automobilísticas.


Até chegar ao pobre coitado do seringueiro, existia toda uma cadeia de intermediários, com exceção daquele, todos conseguiram amealhar lucros extraordinários. As grandes casas fornecedoras de mercadorias e dinheiro ficavam nas capitais do Amazonas e Pará, o sistema era mais ou menos assim: a casa aviadora fazia o aviamento das mercadorias e também concedia empréstimos (agiotagem) para os intermediários e estes pagavam com borracha, a troca sempre era desfavorável para o fornecedor do produto “in natura”, este processo ia descendo até chegar ao seringueiro, este era obrigado a produzir cada vez mais, pois sempre estava em desvantagem com o seringalista. A cadeia produtiva funcionava dessa forma: Casas Aviadoras e Exportadoras ==> Comerciantes ou Aviadores de 1ª. Linha ==> Seringalista e Barracão ==> Seringueiro – o de cima sempre fornecendo os suprimentos e dinheiro e do debaixo pagando com a produção extrativa.


Para driblar o esquema acima, existia a figura do regatão, comerciantes formados por sírios, libaneses e judeus, utilizavam barcos regionais, faziam compras no comércio de Manaus e Belém, depois iam para o interior vender esses produtos diretamente ao seringueiro, trocavam os produtos por borracha, o seringueiro levava sempre a desvantagem, pois o regatão utilizava um método perverso chamado de regatear, ou seja, pechinchava e comprava mais barato a borracha e vendia por um preço exorbitante os seus produtos.


O escritor Pontes Filho no seu livro Estudos de História do Amazonas, da Editora Valer - escreve com muita clareza como era a figura do seringueiro “consistia no trabalhador que se inseria no interior da floresta para extrair o látex e produzir a borracha, seu melhor retrato era o nordestino despossuído e fugitivo da seca daqueles sertões. Trabalhava dezesseis horas por dia, em média, uma barraca de palha era a sua moradia, sem proteção contra o frio, a chuva, os insetos ou feras da floresta e alimentando-se de farinha d´água, do jabá, do arroz e de conservas, esses vassalos da borracha tornava-se alvo fácil de fatalidade na região. Bem cedo, acompanhando os primeiros lumes do alvorecer, erguia-se para seguir uma das duas ou três trilhas, nas quais trabalhava em dias alternados, parando a cada seringueira, fazia-lhe um talhe, deixando a tigela para posterior coleta do látex; de volta para casa, fazia a primeira refeição ao meio-dia e uma breve sesta, em seguida, retomava o percurso, coletando o liquido acumulado na tigela e retornando à cabana para iniciar a etapa final do longo trabalho diário: a coagulação do látex. Isolado no seio da mata, a solidão era a única e constante companheira no dia-a-dia da saga do seringueiro. Em suas noites, recordando-se das festas, procissões e quermesses de sua terra, sentia profunda tristeza de um exílio necessário, suportado somente diante da esperança de um grande retorno, levando fartura à terra da seca. Porém, endividado desde a chegada, o seringueiro lutava, lutava e nunca vencia, as dívidas só aumentavam, cortando os gastos com a própria comida, frágil ficava diante das epidemias, e foi assim que muitos dormiram e não mais acordaram, desaparecendo no sonho de um retorno impossível, sem sequer dar adeus ao próprio regresso”.


Com a derrocada da borracha, as grandes casas aviadoras fecharam as suas portas, os seringalistas faliram, os seringueiros que conseguiram sobreviver migraram paras as capitais, os imponentes prédios ficaram abandonados, foi os caos econômico e social, porém os grandes banqueiros e empresários do eixo Nova York-Liverpool passaram décadas e décadas gastando e fazendo novos investimentos no resto do mundo, com o dinheiro advindo da comercialização da borracha, fruto do sangue do pobre seringueiro da Amazônia.

Um comentário:

Flávia Reis disse...

Excelentes informações! Respondeu muitos de alguns dos meus questionamentos!
Gracias!
Flávia