terça-feira, 22 de dezembro de 2009

A CABANAGEM



Foi um movimento popular, ocorrido no período de 1835 e 1840, na província do Grão Pará, em decorrência da extrema pobreza das populações ribeirinha e do sentimento de abandono em relação ao governo central – o nome “cabanagem” se deu em homenagem as cabanas, moradia dos ribeirinhos da Amazônia.


O livro “EnTOADA”, da Liduína Mendes, comenta a letra de uma toada do Garantido, composição do Tadeu Garcia/Paulinho Du Sagrado, chamada  – TEMPOS DE CABANAGEM –

A HISTÓRIA NOS CONTA
O MUNDO DOS ÍNDIOS E NEGROS
VIVENDO O TEMPO E O LUGAR DE ESCRAVIZAR

O autor busca, nos fundamentos históricos, os momentos e os locais da escravidão indígena e negra que influenciaram decisivamente nos modos e costumes do povo amazônida.

AMAZÔNIA – COLÔNIA DOS BRANCOS
VIERAM EM DEGREDO EXPLORAR OS SEGREDOS
DA FLORA E DO RIO-MAR

O “descobrimento” da Amazônia encerra muitas datas e diferentes povos, no entanto, a sua colonização propriamente dita se iniciou em 1616, com a fundação do forte Presépio (Belém) pelos portugueses, loteando-a em capitanias hereditárias. Os primeiros colonizadores (capitães de aldeia) eram pequenos camponeses sem terra do norte de Portugal, filhos de portugueses do nordeste do Brasil ou, sobretudo, degradados punidos com o exílio por algum crime cometido. Conforme afirmação do Pe. Antônio Vieira, a prisão de Limoeiro, em Portugal, se constituiu numa das principais fontes de colonizadores para a Amazônia. Para incremento econômico da Coroa tornava-se necessário explorar as riquezas da flora e ocupar o grande rio para sustentar a posse das terras disputadas por protagonistas estrangeiros.

IMPUSERAM AOS ÍNDIOS SUA TABA
(MORADA GERAL)
ISOLADO O NATIVO PERDIA O SENTIDO
E O ESTILO DA VIDA TRIBAL

A Amazônia sempre foi um universo que abrigava centenas de povos indígenas, com variantes e complexas formas de organização social, tendo a taba (morada coletiva) como célula definidora dos aspectos do poder, das normas morais, das crenças religiosas, das relações de produção, resultando em elementos culturais comuns da sociedade primitiva, onde são impossíveis a desigualdade, a exploração e a divisão.

“DESCIMENTOS” NO ALTO DOS RIOS – LEVAVAM OS GENTIOS
PRISIONEIROS EM “RESGATES”
LOGRARAM OS PERDIDOS – MENOS OPRIMIDOS
SEGUIAM A CHORAR

A ruptura da sociedade tribal se deu em função da necessidade da força de trabalho indígena para um novo sistema de vida próximo aos núcleos habitacionais. Os “descimentos” eram expedições efetuadas, primeiramente por missionários e depois pelos capitães de aldeia, sob escolta militar e de acordo com a lei vigente à época. Os nativos assim deslocados para “aldeias de repartição” eram considerados “livres”, em oposição aos escravos. No entanto, esses índios eram alugados e distribuídos “repartidos” entre os colonos, os missionários e o serviço real da Coroa Portuguesa, em troca de um “salário” pago em algodão e não em moeda. Os “resgates” eram expedições armadas, com objetivo de troca comercial entre os portugueses e as tribos consideradas aliadas. Os portugueses permutavam objetos europeus: ferramentas, miçangas e quinquilharias por índios capturados durante as guerras intertribais. Esses índios que se encontravam presos e amarrados, seriam escravizados, em retribuição ao seu salvador que o livrou da morte. Por desmerecer a história, o autor omite a mais perversa forma de escravidão que os colonizadores chamavam de “guerra justa”, com que se buscava capturar indiscriminadamente os índios, incluindo mulheres e crianças, sob a proteção da lei que incitava o aprisionamento dos nativos que atacavam os portugueses ou não consentissem com a difusão do Evangelho.

NEGRO VEIO PELA CORRENTE
SUOR E DOR INCLEMENTE
QUE O PODER BRUTO DO BRANCO É O FOGO
E NÃO PODE PARAR

A introdução de negros na Amazônia se deu em 1680, para trabalhos forçados nas empresas dos colonos, através da Cia. de Comércio do Maranhão e Grão-Pará, cujo nível de preços, comparativamente aos escravos indígenas, alcançava uma relação 25:1, o que exigia, proporcionalmente, maior esforço (suor e dor inclemente) e maiores castigos diante da exigência dos colonos.

“DESCIMENTOS” NO ALTO DOS RIOS – LEVAVAM OS GENTIOS
PRISIONEIROS E
ERGUEM A FORÇA DA CABANAGEM
LUTAM PELA LIBERDADE
  PRA QUE NUM FUTURO
VIVAMOS EM PAZ

Os sistemas adotados até o século XIX não trouxeram liberdade absoluta e, contra tudo isso, a população da Amazônia se revoltou na maior insurreição da história do país. A Cabanagem foi um movimento nativista popular armado, envolvendo grupos indígenas autônomos, índios escravos das aldeias, índios destribalizados, negros e caboclos mestiços contra o domínio português na região. Não obstante o resultado final desfavorável, torna-se reveladora a capacidade de luta dos amazônidas pela liberdade e pala paz.

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