Acredito que a grande
maioria dos nossos leitores não entendeu o título da nossa postagem, mas, para
aquelas pessoas que curtiram a juventude da minha época, ao ver a fotografia do
automóvel, sabem perfeitamente que ela possui sentido, na realidade, trata-se
de um automóvel utilitário, que fez muito sucesso na cidade de Manaus, nas
décadas de setenta e oitenta.
A empresa Braga Veículos
& Companhia, pertencia aos irmãos João, Carlos e Ernesto Braga, eles foram
os pioneiros na revenda de automóveis da fábrica General Motors, uma empresa
norte-americana fabricante dos veículos da marca Chevrolet.
Alguns brasileiros ainda
lembram muito bem da declaração do Color de Mello, presidente do Brasil de 1990
a 1992, ao afirmar que, os carros fabricados no Brasil não passavam de uma
carroça (comparando-os a um carro com tração animal, para o transporte de cargas
e passageiros), pois, desejoso de abrir o mercado para o exterior, batia de
frente com a indústria automobilística brasileira, atrasada “no balde”
tecnologicamente (o Chevette passou vinte anos no mercado, praticamente, sem
nada a agregar).
Com o advento da Zona
Franca de Manaus, a nossa cidade começou a gozar de alguns benefícios fiscais
que, nenhuma cidade brasileira tinha, tanto que era possível importar
automóveis utilitários com a suspensão do recolhimento dos tributos federais,
deixando o resto dos brasileiros babando de raiva das nossas regalias e, ainda
babam até hoje, com certeza.
A firma Braga Veículos
resolveu importar diversas marcas (Malibu, Monte Carlos e El Camino),
diretamente da fábrica nos Estados Unidos, mas, o que mais fez sucesso e marcou
toda uma geração, foi o famoso “El Camino” – para quem não sabe, ele era um
automóvel utilizado pelos ianques em suas fazendas, para o transporte de diversos
produtos da área rural, enquanto, em Manaus, dava status para os bacanas da
alta sociedade, pois, os carros brasileiros de passageiros não chegavam nem aos
pés dos utilitários americanos.
O “El Camino” tinha as
seguintes características: Produção: 1959-1960 – 1964-1987 / Carroceria: Picape
/ Motor: 3.9 6cc, 4.6 V8, 5.7 V8 / Caixa de velocidades: 2, 3 ou 4.
Existiam várias versões, do
mais simples ao luxuoso, porém, o mais bonito e charmoso existente em Manaus, o
considerado “top”, o numero um das paradas de sucesso, era um modelo que ficava
estacionado, nos finais de semana, bem em frente ao “Ideal Clube”, um clube da
elite manauara, situado na Avenida Eduardo Ribeiro – acho que o referido carrão
pertencia a algum diretor ou ao presidente do clube – deve estar guardado, como
relíquia, na garagem de algum empresário.
Para quem não sabe, os irmãos
Braga foram e, ainda são, grandes empreendedores, com o João na liderança, ele
foi um político atuante, chegando a ser Senador da República, enquanto o do
meio, o Carlos, foi um grande administrador e estrategista das empresas do
grupo, ele é o pai do Senador Eduardo Braga – o Ernesto era pau para todas as
obras nas empresas, comandava a parte de serviços e venda de peças de tratores
da marca Komatsu, ele é o pai do Rodolpho Braga, dono das Pizzarias Splash. – foram os meus patrões nas “Lojas Populares” (atual
Supermercado DB, da Avenida Eduardo Ribeiro) e “Máquinas Pesadas” (atual
Parintins Veículos, da Avenida Djalma Batista),
Certa vez, chegou à nossa loja,
um jovem empresário paulista, ele tinha acabado de comprar um “El Camino” usado e, foi conversar com o Senhor Ernesto
Braga, para conseguir a documentação de importação do veículo (Guia de
Importação, Invoice e Declaração de Importação), para poder liberar na
Alfândega de Manaus, pois a legislação permitia, naquele tempo, a internação (saída
para outras unidades da federação), sem recolhimento dos tributos (Imposto de
Importação e IPI), dos produtos importados com mais de cinco anos.
Fui incumbido de procurar
no “arquivo morto” tais documentos, passei três dias “desenterrando defunto” – o
paulista ficou na minha cola, prometendo uma gorda gorjeta para eu encontrar com
rapidez os documentos. Levei a documentação para o meu chefe, ele pediu para ir
até a Braga Veículos, na Avenida Ramos Ferreira, mandou o paulista levar o
carro para conferir se batia a série do carro com os documentos – deu tudo
certo.
Na volta para a loja do
centro, o paulista me deu uma carona, recebi a gorjeta prometida e, ainda me prometeu
dar mais ou menos uns mil reais (no valor atual), caso eu descobrisse onde ficava
a antena do carro – passei mais de vinte minutos procurando e, nada! Por
incrível que pareça, isso já faz mais de trinta anos e, a antena já vinha
instalada dentro do vidro para-brisas, como é que eu iria saber, pois as nossas
“carroças”, digo veículos, tinham a antena externa e ainda não eram
automáticas.
No caminho, com a baba no
bolso, estava mais alegre do que pinto no merdeiro, quando sem ao menos
esperar, o paulista disparou: - Rocha, toma mais duzentas pilas, mas, me faz
uma favor, aquele teu chefe escroto, ele me deu a maior canseira da vida, fala
que eu o mandei para a PQP! Respondi: -
Tu és doido, o cara é brabo, se eu falar isto, ele vai te caçar até na balsa da
transportadora e o teu carro vai ficar preso eternamente, além do mais, ele vai
dar a minha conta, eu posso ser leso, mas, não sou doido! Ele fez a réplica: -
Então, dá um “cotoco” pelas costas dele! Claro que eu não fiz isso e, jamais
faria uma coisa dessas! Eu hein!
Brincadeiras a parte, o
“El Camino” parecia uma balsa e era beberão de gasosa, uma pura refinaria, mas,
tinha tecnologia de montão e transbordava charme, sendo desejado por muitos
neguinhos da minha cidade e do meu Brasil varonil – ele era apenas “um caminho
para você compreender logo” (esta era a frase constante nos comerciais do
veículo)! É isso ai.
Fotografias em preto em
branco: reprodução de jornais antigos, sendo a terceira, do fotografo Amaranto
(aparecem da esquerda para a direita, o João Braga Junior, a Maria de Lourdes
Archer Pinto e o Ernesto Braga, na data do seu aniversário)
Um comentário:
Oi Rocha! Gosto bastante do seu blog, especialmente quando conta a história dessa nossa querida cidade. Vendo a matéria sobre o El Camino (meu vizinho tinha um que, mesmo usado e já meio enferrujado, impunha respeito) lembrei das Hondinhas que povoavam as ruas de Manaus no início dos anos 80, quando vim morar aqui. Abração!
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