Ao passar pela antiga Praça
da Polícia, parei na banca de sebo “O Alienista”, pertencente ao meu amigo Lê,
ao entrar, encontrei o poeta Marceleudo – ele toma conta do espaço pela parte
da manhã – passei uma vista pelos livros, encontrei desde tratados da área
de saúde, até livros de apenas dois reais, nestes tive mais interesse, pois a firma
está trincada – para minha surpresa, encontrei o livro “No Trilho do Tempo –
Memórias”, do Armando Lucena, um guerreiro, conhecido como “O Persistente”.
Passei o resto da tarde
lendo o livro, entrei pela noite, adormeci agarrado com ele e, ao acordar,
comecei a lê-lo novamente, terminando horas depois – é um tipo de obra
literária que a pessoa sente o prazer em passar pelas suas páginas, indo do
inicio ao fim, sem parar.
Foi registrado como
Armando de Paula Lucena, nasceu em 17 de Dezembro de 1921 e, se considerava um
paraibano (por ascendência), nascido em Roraima e manauara de coração, pois
veio para essas plagas aos 35 anos de idade e, nunca mais deixou a nossa
cidade, somente indo para a sua querida Roraima, em férias, para fazer
pesquisas e rever parentes e amigos.
Na minha juventude, lembro
muito bem da figura do Armando Lucena, um respeitado motorista de taxi, um
senhor que sempre estava envolto na política partidária e, vez e outra, o
encontrava distribuindo um tabloide (formato de meio jornal) denominado “O
Volante”.
O apelido de “O
Persistente” tem tudo a ver com a sua vida, pois tentou de tudo para sobreviver
e criar a sua família, tendo decepções uma atrás da outra – tentou, tentou e,
tentou, nunca desistindo dos seus sonhos, isto o marcou por toda a sua vida.
Ainda muito pequeno foi
trabalhar na roça, para ajudar a mãe e os irmãos, pois perdeu precocemente o
seu pai – estudou muito pouco na escola, mas, tornou-se autodidata, sendo um
devorador de livros – tentou trabalhos em fazendas de gados, não se adaptou,
preferiu ser garimpeiro, profissão que tomou boa parte da sua vida, mas, nunca
“bamburrou” – foi Cabo do exército brasileiro, construtor de escolas, patrão de
garimpo, comerciante e dono de olaria - tudo o que ele tentava fazer, dava
errado, ficou desgostoso, porém, nunca desistiu de começar tudo de novo.
Casou por procuração e,
veio para o Amazonas, indo trabalhar nas perfurações de petróleo em Nova Olinda
do Norte, depois, foi para o Maranhão, trabalhando durante nove anos na
companhia petrolífera - foi também um atuante sindicalista, chegando ao posto de
Delegado Sindical – o que lhe custou a sua demissão da Petrobras, na Revolução
de 1964.
Passou o maior sufoco na
vida para sustentar a família, teve que ser motorista de taxi por mais de vinte
anos – um dia, aconteceu um sério acidente automobilístico, causado por um
carro oficial, passando por uma longa e lenta recuperação e, foi obrigado a ficar
mais de um ano sem trabalhar, pois o Estado negava-se a pagar-lhe o prejuízo
total do seu fusca ZA-3306 – ao publicar no jornal “A Crítica” uma longa carta
em que narrava todo o acontecido, o governo rapidinho deu-lhe um taxi novo,
mas, não pagou os lucros cessantes (por um ano parado, sem trabalhar na praça).
Foi um dos fundadores do
“Projeto Jaraqui”, junto com o Frederico Arruda e o pessoal do INPA e da UA;
militou na MDB (atual PMDB), onde foi candidato duas vazes a vereador.
Influenciado pelo Brizola, mudou para o PDT, onde foi novamente candidato,
depois, filiou-se ao PSDB, sendo candidato por duas vezes e, ficou decepcionado,
partindo para o PPS, onde foi, novamente, candidato -, por fim, foi parar no PT
e, por ser persistente, foi novamente, candidato – perdeu todas as eleições,
por ser honesto e, algumas vezes, ingênuo, mas, sempre levando a bandeira da
honra, da ética e do amor a nossa cidade e a sua pátria.
O homem tinha muito
folego, escreveu os seguintes livros: O Varadouro da Morte, 1981 – Carta
Aberta, 1995 – O Brasil, 1995 – O Taxista, 1995 – O Povo no Poder, 1996 – O
Grito, 1996 – No Trilho do Tempo, 2002 – com relação a este último livro, o Armando
Lucena já estava com 82 anos de idade, com direito a 2ª. Edição em 2005. Foi também da "Ordem Maçônica Glória do Ocidente", situada na Rua Silva Ramos, 305.
Depois de muitos anos, foi
alertado pelos seus companheiros que tinha direito à aposentadora, retorno à
Empresa e até uma indenização; peregrinou por Belém, Rio de Janeiro e Brasília,
conseguindo ser anistiado e, em 1990, ele já estava com 70 anos de idade, o
INSS reconheceu os seus direitos, e a seguir a própria Petrobrás, conquistando
a sua merecida aposentadoria, porém, perdendo outras vantagens.
Através de uma propositura
do vereador Francisco Praciano (PT), em 2003, o Armando Lucena recebeu a
Medalha de Ouro Cidade de Manaus – recebeu também a Medalha Ordem ao Mérito
Legislativo do Estado do Amazonas, por indicação do Deputado Estadual Sinésio
Campos (PT).
No dia 6 de Dezembro de
2007, a cidade de Manaus perdeu o Armando Lucena – no Senado Federal, o Arthur Virgílio
Filho fez uma homenagem póstuma “Manaus
perdeu um dos seus políticos mais queridos e populares. Não por sua densidade
eleitoral, mas, como assinalou Alessandro Malveira, no jornal A Crítica,
“certamente pela retidão, espírito público e disposição para a luta”. Seu
filho, também Armando Lucena, assinalou que ele “viveu sempre pelo benefício
dos seus semelhantes, lutou sempre para melhorar as coisas, não apenas para
ele, mas para todos”. Foi sempre, sobretudo, um idealista. Ainda acreditava
numa sociedade solidária. Pela contribuição que deu ao exercício da política com
correção e seriedade, ele faz jus à homenagem póstuma que ora proponho”.
Quem desejar conhecer mais
este senhor, basta o ler o seu livro de memórias “No Trilho do Tempo” – ele é
pai do cantor e compositor roraimense/amazonense Armando de Paula – a sua filha
mais velha, a Janel Parga, administra o “Clube do Livro”, na antiga residência
do Armando Lucena, na Avenida Codajás, 546, bairro de Cachoeirinha.
Este figura ficou para a
história, parabéns ao Armando Lucena, O Persistente! É isso ai.
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