Passados quarenta anos,
ainda hoje é comentado este trágico acontecimento na cidade de Manaus, com os
mais jovens desejosos de saber o motivo da mudança do nome do “Bar Nossa
Senhora dos Milagres” para “Bar Caldeira” e, a pedido do novo proprietário
desse tradicional estabelecimento, o Senhor Carbajal, efetuei pesquisas em diversos
jornais antigos, demandando três semanas de intensas buscas, pois as datas
relatadas pelos antigos donos, frequentadores do bar e moradores do entorno, todas eram
controversas.
No dia 14 de Janeiro de
1970, numa quarta-feira fatídica, batiam os sinos da Igreja de São Sebastião,
eram exatamente 10 horas de manhã, quando houve a primeira explosão, com um
barulho ensurdecedor, todos os moradores das Ruas José Clemente e Lobo D’Amada correram
para as janelas de suas casas, viram voando pedras e destroços por todos os
lados e, achavam que era um terremoto.
Dois minutos depois, houve
a segunda explosão, jogando pelos ares fragmentos de corpos e uma enxurrada de
pedras, abrindo fendas na parede onde estava a caldeira, por uma delas, foram
jogadas duas pessoas, uma estava sem a cabeça e, a outra, sem os braços e as
pernas.
A terceira explosão foi
mais forte, chegando a tremer o Tribunal de Justiça, o Quartel do Comando
Militar da Amazônia, a Gráfica Rex e dezenas de casas da José Clemente, Lobo D’Almada
e Dez de Julho.
Uma pedra caiu dentro do
pátio do Comando Militar da Amazônia (atual Colégio Militar), uma parte da
caldeira, pesando quase oitenta quilos, caiu dentro de casa de numero 451,
quebrando a parede e destruído parcialmente o telhado, além de quebrar quase
todas as vidraças das casas do entorno.
Os primeiros a prestar
socorros foram os militares que faziam exercícios no Campo do General Osório – com
as ordens do Capitão Costa, tiraram as pedras e escombros que estavam em cima
do Arsênio Pereira de Matos, porém, não resistiu aos ferimentos, vindo a
falecer na entrada do Pronto Socorro São José.
No total foram três mortos
e quinze feridos – além do Arsênio, faleceram Benjamin Silva dos Anjos e
Lindalva Ferreira Lima e, entres os feridos, estavam Jovelina da Silva Almeida,
Teresa Barbosa de Souza, Lilian Alves do Nascimento, Edvige Alves Saraiva,
Raimunda Tavares Santos e Augenira de Souza, o menor Fausto Araújo e outras
crianças que brincavam de bola na calçada do hospital pela Rua José Clemente.
O acidente foi tão grave
que, estivem no lugar várias autoridades para prestar apoio e solidariedades às
vitimas e familiares, ente eles, o governador Danilo Areosa, o Prefeito Paulo
Pinto Nery e vários oficiais da Policia Militar.
O Benjamin Silva, era
foguista da caldeira e, dias antes da acontecer a explosão, fez a seguinte declaração
para a sua esposa, de seus receios “Estou pensando naquela caldeira. Ela está
velha demais e só vive furando, não adianta consertar que ela fura de novo. Eu
já falei que ela não aguenta mais”.
Segundo os peritos que
estiveram no local, a causa do acidente foi a super pressão no interior da
caldeira, em decorrência do entupimento da válvula de escape e o excesso de
lenhas colocadas pelos foguistas.
Os senhores João Martins
da Silva, Newton Aguiar e José Ribeiro Soares, do Conselho Deliberativo da
Santa Casa, explicaram que a caldeira estava em boas condições de
funcionamento, sendo recondicionada, em 1968, pela firma Souza Pinto, na qual
fizeram um teste de pressão de 200 libras – culpando os funcionários por erros
ou descuidos na manobra dos controles.
Agora que já sabemos da
história, está explicado o porquê do nome “Bar Caldeira”, pois naquele ano, ele
se chamava “Bar Nossa Senhora dos Milagres” e, por um milagre, nenhum boêmio
foi atingido pelos destroços da explosão da caldeira do Hospital da Santa Casa
de Misericórdia.
Passados todos esses anos,
será instituído, doravante, “O Dia do
Caldeira’s Bar”, exatamente no dia 14 de Janeiro, por sinal, o mesmo dia dos
festejos do bairro da 14 – aliás, o dono do estabelecimento não deseja de forma
alguma relembrar aquele dia fatídico, mas, a data em que houve a mudança do
nome do bar.
Agradecimentos:
Esta postagem não seria feita, caso não houvesse a colaboração dos funcionários
do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA); do Raimundo Nonato
Braga, do Centro Cultural Povos da Amazônia (CCPA) e, principalmente, do
Charles Costa e Wilson Cruz Lira, da Biblioteca Pública do Estado Amazonas
(apesar de estar fechada ao público, eles não mediram esforços para encontrar os
jornais que continham a matéria).
Fontes:
Jornal do Commercio e Jornal A Critica, edição de 15 de Janeiro de 1970.
4 comentários:
Eu testemunhei a trágedia da explosão da caldeira da lavanderia da Santa Casa. Estava em prédio na esquina de 10 de Julho com av. Epaminondas. O prédio tremeu como se fosse um terremoto. Corri à Santa Casa para ajudar. Antes dos militares, todos os médicos que se encontravam na Santa Casa já estavam dando assistência aos feridos, tendo o falecido Dr. João Lúcio Machado à frente. Vi um quadro terrível.
Saudações. José Rocha.
Grande trabalho. A pesquisa merece consideração. Aliás as mídias locais deveriam reservar espaço para a memória pouco destacada.
Saudações. José Rocha.
Grande trabalho. A pesquisa merece consideração. Aliás as mídias locais deveriam reservar espaço para a memória pouco destacada.
Estava conversando com a minha mãe sobre histórias de Manaus e ela me disse que uma das histórias mais impressionantes tinha sido a explosão da caldeira da Santa Casa, então corri para a internet para saber mais sobre o ocorrido e encontrei essa matéria no seu blog e mostrei a ela. Parabéns por resgatar a memória da nossa cidade! :)
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