quinta-feira, 4 de junho de 2009

CINE GUARANY

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Frequentava religiosamente o Cine Guarany, de preferência aos domingos, na sessão das 12h45min, passava sempre dois filmes, um de bang bang e outro romano. Pela parte da manhã, eu e a molecada da Rua Igarapé de Manaus ficávamos tomando banho e pulando da Ponte Romana I, quando dávamos conta do horário já passava das 12h. Corria até a minha casa, tomava um banho rápido para tirar o cauxi, vestia a minha roupa domingueira; não dava mais tempo para almoçar; saía correndo para assistir aos filmes no saudoso Cine Guarany.Enquanto estava na fila para comprar o bilhete de ingresso, aproveitava para saborear um famosíssimo sanduíche de cachorro quente, servido com refresco de maracujá.Ficava observando um mendigo chamado Jaú.- uma esmolinha para o cego, uma esmolinha, por favor! Conseguia desviar-se dos homens; das mulheres nem tanto, era o famoso mão boba. Gostava de ficar no lugar de cima, chamado de Poleiro; quando as luzes se apagavam era o momento certo para xingar e cuspir no pessoal que ficava no térreo, algumas vezes pegava alguns cascudos, outras vezes era advertido pelo lanterninha “Farias”, era tudo diversão!O sinal sonoro, o barulho dos ventiladores laterais, o fechamento das portas de madeira, a escuridão, a abertura das cortinas, o ataques dos veados em cima da macharada, os gols da rodada e a gritaria da molecada enxotando o urubu, tudo isso marcaram nossa infância. Estou procurando um filme chamado Cine Paradiso, somente para matar a saudade do Guarany.
Destruiriam o prédio do Cine Guarany, no seu local construiram um prédio feio, sem graça; os banqueiros não tiveram o menor respeito pelo povo de Manaus. Resta somente chorar pela morte do nosso querido e amado Guarany.
Segundo a Carmelita Esteves “o Cine Guarany tombou, transformando-se em escombros. Originalmente, Cine Olympia, depois Cine Teatro Alcazar, de estilo arquitetônico inspirado no Oriente (Mouro/Mourisco) e somente, muito tempo depois, Cine Teatro Guarany. Localizado na confluência da Rua Leovegildo Coelho (Intendente Municipal) que dá prosseguimento para a atual avenida Getúlio Vargas, com a Rua Municipal (hoje Av. 7 de Setembro). Sob a última denominação (Cine Teatro Guarany, cujo último proprietário, Adriano Bernardino, tendo na gerência, o Vovô Vasco, da garotada dos agora na faixa de 50 anos, dia 6 de agosto de todos os anos, as 6h da manhã era saudado com salvas de fogos de artifício, e entoada a ópera "O Guarany" ( do maestro Carlos Gomes), com "Cinema ao Ar Livre" (com tela, bem alta, montada no Pina, espaço de efervecência cultural e política, que dividia a rua em duas mãos), Matinal às 9h para o público infanto-juvenil e Matinê das 13h, para o juvenil, bem como o das 16h para os mais velhos, além da sessão de gala às 20h para o público adulto. O "Cinema ao Ar-Livre", reunindo centenas de aficcionados (pelo Cinema e pelas películas), começava às 19h, indo até às 19h e 30min. Aí eram apresentados, via de regra, desenhos animados do tipo "Tom e Jerry" e "Lady e o Vagabundo", possivelmente responsáveis pelos inúmeros romances e enlaces matrimoniais que se dissolveram ao longo do tempo ou se perpetuaram até nossos dias. Na Matinal e Matinê das 13h, eram distribuídas centenas de brindes, miniaturas de sabonetes e pasta de dente, até revistas infantis, passando por balões e bombons – rapidamente substituídos por chicletes, devidamente mascados e pregados nos cabelos compridos das menininhas (maldade "curtida" intensamente pelos meninos da época). Agora, o espaço é ocupado pelo Banco Itaú, a revelia dos movimentos intentados pelos distintos segmentos sociais: intelectuais de todas as áreas do conhecimento humano, estudantes e o seu público final, os párias: prostitutas, homossexuais, desocupados, mendigos... Estes últimos, de acordo com a vertente de caracterização do Patrimônio Cultural, não oficial, movidos pela afeição, quando de sua derrubada, sem desprender nenhum fragmento, aplaudiam. Quando no entanto, o primeiro grande bloco se soltou, salientes, encetaram a marcha fúnebre do desespero e da impotência, pela perda do referencial cultural.”

(*) Carmelia Esteves de Castro é Escpecialista em História pelo CADES-MEC, exerceu Magistério no Colégio Dom Pedro II e IEA e Direção e Vice-Direção no Colégio Comercial Ruy Barbosa e Colégio Comercial São Luiz Gonzaga, respectivamente.
Fotos: J Martins Rocha - Colagem: Foto Antiga e Atual do Cine Guarany, Farias "O Lanterninha", Busto do Carlos Gomes, Interior de um cinema antigo.

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