sábado, 27 de setembro de 2025

A História Recente da Administração do Porto de Manaus e a Crise da Infraestrutura

 Por José Rocha

Nos últimos tempos, a administração do Porto de Manaus tem ganhado destaque na imprensa local, especialmente em matérias divulgadas pela Rede de Rádio e Televisão Tiradentes e pelo Portal BNC, que colocaram no centro das atenções o senhor Alessandro Bronze.

O tema desperta muito o meu interesse, pois sempre fui apaixonado pela história da nossa cidade. O Porto de Manaus — o Roadway — faz parte não apenas da memória da nossa capital, mas também da minha trajetória pessoal: marcou minha infância, minha vida profissional e o meu trabalho como historiador dedicado à preservação da história de Manaus.

Na minha infância, meu saudoso pai levava-me para passear no cais do porto. Eu ficava impressionado com o tamanho dos navios ancorados — aquilo me marcou profundamente. Na fase adulta, trabalhei para muitas empresas do comércio e do Distrito Industrial, sempre na área de comércio exterior, o que me permitiu entrar no porto centenas de vezes para acompanhar despachantes e liberar mercadorias estrangeiras. Viajei muito para o interior, na maioria das vezes partindo e retornando pelo Roadway. Após aposentado, ainda caminho por lá, para lembrar os velhos tempos e admirar o maior porto flutuante do mundo.

A história do porto é bem conhecida por quase todos os manauaras. Desde a sua construção, em 1906, administrado inicialmente por ingleses durante o ciclo da borracha, até se tornar ainda mais visível no início dos anos 2000, quando o então governador Amazonino Mendes transferiu a administração do Porto de Manaus para uma empresa controlada pela família do ex-senador Carlos Alberto De Carli. Esse processo de privatização foi bastante contestado e gerou longas disputas judiciais.

Em 2002, a deputada federal Vanessa Grazziotin (PCdoB) solicitou uma auditoria especial na SNPH, apontando diversas irregularidades. Uma das principais acusações era de que Amazonino Mendes teria repassado cerca de R$ 35 milhões em recursos públicos para empresas da família De Carli, visando realizar a privatização. A crítica central era de que a privatização teria sido feita com dinheiro público. O Tribunal de Contas da União (TCU) chegou a avaliar relatórios sobre o processo, dada a gravidade das denúncias de má gestão e uso indevido de recursos.

O governador baseou a “privatização” do Porto de Manaus na Constituição Federal de 1988 (CF/88), Artigo 20, inciso VI, que estabelece que os portos marítimos, fluviais e lacustres são bens da União. Já o Artigo 21, inciso XII, alínea "j", permite que a União delegue a administração desses portos para estados, municípios ou consórcios públicos, ou ainda conceda à iniciativa privada, mediante contratos de concessão ou arrendamento, conforme a legislação específica (como a atual Lei nº 12.815/2013, conhecida como Lei dos Portos).

Em 2013, pessoas ligadas à administração do Porto de Manaus tiveram bens e valores bloqueados pela Justiça Federal, em uma ação civil pública por improbidade administrativa movida pelo MPF. O motivo: a venda ilegal de bens pertencentes à União, como partes do cais flutuante e ônibus.

Curiosamente, anos depois, em 2018, durante seu quarto mandato como governador, o próprio Amazonino Mendes assinou um termo para que o Governo do Estado reassumisse a administração do Porto de Manaus, citando a necessidade de o estado retomar o controle da política portuária.

Com a construção da Manaus Moderna, na Avenida Lourenço da Silva Braga, o Porto de Manaus passou a estar interligado com o Distrito Industrial — os navios de longo curso e de cabotagem descarregavam contêineres nos pátios do porto, e, após liberação, esses eram transportados até o DI. Porém, com a implantação de dois portos no Paredão, bem próximos ao Distrito Industrial, o Porto de Manaus perdeu uma importante fonte de receita.

A administração do porto resolveu, então, alugar seus armazéns, fechou o Museu do Porto e destruiu um armazém próximo ao Mercado Adolpho Lisboa para a construção de lojinhas — o que acabou sendo interditado pelo IPHAN após a demolição. Interditou também a Travessa Vivaldo Lima, transformando-a em via exclusiva para veículos que acessam o porto, além de ocupar o Palácio do Tesouro do Amazonas — casarão que havia sido reformado com verba federal para abrigar a Casa de Leitura Thiago de Mello — e o Armazém 15, que deveria ter sido aberto ao público. Houve também a destruição de todo o quarteirão onde atualmente está sendo recuperado o Complexo Booth Line.

A gestão do Porto de Manaus foi retomada pelo poder público em 2019. A administração foi novamente delegada ao Governo do Estado do Amazonas, por meio de convênio com o Governo Federal, substituindo a gestão anterior que incluía a Companhia Docas do Maranhão (Codomar), posteriormente extinta.

Tudo isso gera muita confusão:

Os portos brasileiros são de responsabilidade do Ministério de Portos e Aeroportos. Além disso, a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ) é a autarquia federal encarregada da regulação e fiscalização do setor portuário e aquaviário.

O Estado do Amazonas, por sua vez, foi delegado pela União para exercer o papel de autoridade portuária, por meio da Superintendência Estadual de Navegação, Portos e Hidrovias do Amazonas (SNPH).

Quanto à exploração comercial, o Governo do Amazonas delegou, em 2001, a gestão para a Empresa de Revitalização do Porto de Manaus S/A (ERPM) e para a Estação Hidroviária do Amazonas S.A. (EHA), no contexto da privatização e subsequente reestruturação da administração do porto após o polêmico período da família De Carli. Essa empresa é uma Sociedade Anônima Fechada, ou seja, não possui ações na Bolsa de Valores. De acordo com sites de busca, o CNPJ é 04.487.762/001-15, última alteração em 03/11/2005, com sede na Rua Marquês de Santa Cruz, 25. Constam os dirigentes/sócios: Walmir Oliveira de Mendonça, Raimundo Nonato de Souza Lopes e Kamila Oliveira Flores.

Atualmente, tanto a Rede de Rádio e Televisão Tiradentes quanto o Portal BNC mencionam o nome do senhor Alessandro Bronze como figura ligada à administração do Porto de Manaus. De fato, seu nome aparece em registros relacionados aos períodos de privatização e disputas judiciais — sendo citado como “ex-administrador do porto privatizado de Manaus” em notícias de 2013 e como gestor vinculado ao clã De Carli nos anos 1990 e 2000. O empresário e radialista Ronaldo Tiradentes criticou publicamente Bronze, acusando-o de "ganhar uma fortuna no Porto de Manaus" e de penalizar a população mais pobre com a cobrança indevida de pedágios pela gestão portuária.

Recentemente, surge também o nome da empresa DCBR Participações Ltda., CNPJ 31.616.644/0002-07, filial criada em 02/10/2023, com sede no mesmo endereço: Rua Marquês de Santa Cruz, 25. Os sócios-administradores: Alessandro Bronze Toniza e Carlos Antônio De Carli.


Resumo da Ópera:

  • A União é a proprietária do Porto de Manaus.
  • O Governo do Estado do Amazonas é a autoridade portuária.
  • A Estação Hidroviária do Amazonas S.A. (EHA) é quem atualmente administra e opera o porto.
  • A holding DCBR Participações Ltda., dos sócios, Alessandro Bronze Toniza e Carlos Antônio De Carli Filho, possivelmente é a sócia majoritária da EHA. Ou seja, são eles que devem comandar de fato o Porto de Manaus.

O ministro dos Portos e Aeroportos, Sílvio Costa Filho, estará em Manaus nesta segunda-feira (29 de setembro) para participar de diversas cerimônias, incluindo a entrega de balsas e uma viagem para Eirunepé e Envira. Será uma excelente oportunidade para ele conhecer in loco a situação atual do Porto de Manaus.

Um detalhe importante: o Governo Federal, por meio do PAC, investirá R$ 900 milhões na construção do novo Porto da Manaus Moderna (atrás do Mercado Adolpho Lisboa). Após sua conclusão, é possível que a gestão seja delegada à Prefeitura de Manaus, que, por sua vez, poderá concedê-lo à iniciativa privada para exploração comercial.


E se essa concessão cair novamente nas mãos da DCBR Participações Ltda.?

Ficará tudo nas mesmas mãos!

Fontes: BNC/EHA/Gemini/ChatGPT/IPHAN/RF/Google/TV Tiradentes/