domingo, 14 de setembro de 2025

INSTITUTO BENJAMIN CONSTANT


Por José Rocha

No dia 9 de julho de 1984, o jornal A Crítica publicou em duas páginas inteiras um artigo do escritor e artista plástico Moacir de Andrade, intitulado “Instituto Benjamin Constant – 1884-1984”, um excelente trabalho de pesquisa dos cem anos do nosso querido IBC.

O imóvel pertencia ao coronel Leonardo Marques Brasil, conhecido como Barão de São Leonardo. Ele construiu ali a Chácara de São Leopoldo e, em seguida, vendeu o palacete ao governo do Estado do Amazonas, na época de Theodoro Souto, para abrigar o Museu Botânico do Amazonas, idealizado pelo botânico Joaquim Barbosa em 1884 e encerrado em 1888 para tornar-se o Asilo Orfanológico do Amazonense (Lei n.º 641, de 02/01/1884), depois denominado Elisa Souto.

O governador Eduardo Ribeiro transformou o Asilo Elisa Souto no Instituto Benjamin Constant, por meio da Lei n.º 11, de 20/04/1892, para oferecer instrução primária e, sobretudo, educação moral e doméstica às meninas órfãs.

O governador batizou o instituto em homenagem ao seu mestre e amigo Benjamin Constant, a quem admirava profundamente como militar e fundador da República do Brasil. Ele também recebeu homenagem no nome da Terceira Ponte da Sete de Setembro, a Ponte Benjamin Constant.

O primeiro diretor foi o Dr. Luiz Duarte da Silva. Ele contratou a Congregação das Filhas de Sant’Ana, confiando-lhes, sob termos legais entre o governo e a irmandade, os serviços administrativos — acordo assinado em 04/05/1892 pelo próprio governador e pela soror Ana Victoria Anchetti, e meses depois enriquecido pela chegada de outras irmãs diretamente da Itália. No ano seguinte, o Instituto já ganhava a admiração e o respeito da sociedade manauara.

Com o passar dos anos, o número de internas aumentava e o obrigava o governo estadual a ampliar constantemente as instalações do prédio. Em 29/07/1929 foi construída uma capela com a imagem de Nossa Senhora de Sant’Ana, padroeira do Instituto e da irmandade. No governo do Dr. Durval Pires Porto, foi erguido um edifício para fins teatrais.

Todos os governadores que se sucederam e as famílias da melhor sociedade sempre apoiaram o trabalho das irmãs no IBC. Um dos maiores benfeitores foi o Dr. Luiz Maximino de Miranda Corrêa, principal diretor da Fábrica de Cerveja Miranda Corrêa — ele residia num palacete que foi demolido para dar lugar ao edifício que leva seu nome na Avenida Eduardo Ribeiro. O governador Álvaro Maia, além de político, era escritor e poeta, e colaborou intensamente com o IBC.

Apesar do apoio, as despesas eram muito altas, pois o número de internas crescia sem parar. Isso levou o governo a criar um pensionato, cujas candidatas tinham de pagar mensalidades.

Um fato curioso: uma das alunas, Eunice Menezes Jackmont, tornou-se freira da Congregação das Filhas de Sant’Ana, recebendo o nome de Soror Argênia Jackmont (da família do artista plástico Jair Jackmont). Ela foi professora no IBC e, depois, superiora do Hospital Santa Casa de Misericórdia.

As irmãs confeccionavam os mais belos vestidos de noiva das famílias ricas de Manaus, além de todo o enxoval, produzidos com esmero e dedicação. Eram verdadeiras obras de arte que despertavam a curiosidade da população. Também preparavam bolos de aniversário e de casamento e doces para os grandes eventos sociopolíticos, sempre com o auxílio das alunas internas.

A melhor Banda-Música de Manaus pertencia ao IBC. Desfilava nos dias 5 e 7 de setembro, vestindo saias vermelhas e blusas creme. Tão bem ensaiadas, muitas vezes era confundida com a banda da Polícia Militar ou do 27º Batalhão de Caçadores — tamanha era a beleza e a harmonia com que executavam as marchas militares, arrancando aplausos da multidão em ambos os lados da avenida Eduardo Ribeiro.

Todas as internas faziam parte da Guarda de Honra do Sagrado Coração de Jesus; havia também a Liga dos Benjamins e Tarcísios do Sagrado Coração de Jesus. A disciplina era rigorosa: acordavam às 5h30, tomavam banho, vestiam o uniforme e seguiam para a capela, onde assistiam à Santa Missa — comungavam e confessavam em jejum. Em seguida, iam ao refeitório e, às sete em ponto, começavam as aulas, que se estendiam até as 11h. Após o almoço, às 12h, tinham lazer até as 13h, quando se dirigiam às salas de ofícios domésticos, de acordo com suas aptidões: música, pintura em tela, coral, datilografia, ginástica, teatro, corte e costura, bordados, arranjos florais e demais trabalhos domésticos — exceto lavanderia, que contava com funcionários pagos pelo governo.

Havia um dia de festa especial: 26 de julho, dedicado a Nossa Senhora Sant’Ana. Nesse dia não havia aula e tudo recebia um tratamento solene. O Instituto era enfeitado para receber familiares e amigos — as alunas penduravam cortinas bordadas em todas as janelas. Durante o dia, desfrutavam de doces, refrescos e sorvetes oferecidos pelos benfeitores. À noite, as melhores recebiam prêmios e assistiam a peças literomusicais.

O governador Plínio Coelho trabalhou incansavelmente pela melhoria do IBC, mas foi Gilberto Mestrinho quem ficou conhecido como “o namorado do colégio” pelos inúmeros serviços prestados. Ele construiu várias salas de aula, que com entrada pela rua Tapajós ficaram conhecidas como bloco Antenor Sarmento Pessoa.

Em 1963, encerrou-se o externato, permanecendo apenas as meninas internas — era o início do fim do internato, que durou oitenta anos de grandes benefícios ao Amazonas, sendo extinto em 1968. No ano seguinte, o IBC começou a aceitar alunos do sexo masculino pela primeira vez em sua história.

A partir de 1972, por meio da Resolução n.º 5 da Secretaria de Educação do Amazonas, o IBC tornou-se a Unidade Educacional Benjamin Constant. De 1998 a 2003, funcionou como Centro de Informática Benjamin Constant (Ceinfor). A partir de 2003, passou a ser o Centro de Educação Tecnológica do Amazonas (CETAM), oferecendo cursos técnicos e de qualificação profissional. Na rua Tapajós ainda existem duas escolas estaduais: a Escola Estadual Professor Antenor Sarmento Pessoa e a Escola Estadual Frei Silvio Fagheggy.

O artigo de Moacir de Andrade, ao celebrar os cem anos do IBC, me chamou muita atenção. Tenho lembranças vivas daquele tempo em que fui aluno do Instituto: jogava bola na quadra, escapava nos finais de semana com a molecada da rua Tapajós para tomar banho num poço artesiano e colher frutas — e sempre era corrido pelo bedel quando nos pegava. Essas memórias fazem parte da minha história e guardo cada detalhe com carinho.

Passados 141 anos, o prédio principal do IBC continua firme e forte, tombado pelo IPHAN. Ele permanece para a posteridade e, acima de tudo, segue formando novas gerações de amazonenses.

Fontes:

Jornal A Crítica

Secretaria de Educação

BLOGDOROCHA

Livro ‘A Vila Paraíso, José Rocha’

Fotos:

Jornal A Crítica/Acervo Moacir de Andrade