Por José Rocha
No dia 9 de
julho de 1984, o jornal A Crítica publicou em duas páginas inteiras um artigo
do escritor e artista plástico Moacir de Andrade, intitulado “Instituto
Benjamin Constant – 1884-1984”, um excelente trabalho de pesquisa dos cem anos
do nosso querido IBC.
O imóvel
pertencia ao coronel Leonardo Marques Brasil, conhecido como Barão de São Leonardo.
Ele construiu ali a Chácara de São Leopoldo e, em seguida, vendeu o palacete ao
governo do Estado do Amazonas, na época de Theodoro Souto, para abrigar o Museu
Botânico do Amazonas, idealizado pelo botânico Joaquim Barbosa em 1884 e
encerrado em 1888 para tornar-se o Asilo Orfanológico do Amazonense (Lei n.º
641, de 02/01/1884), depois denominado Elisa Souto.
O governador
Eduardo Ribeiro transformou o Asilo Elisa Souto no Instituto Benjamin Constant,
por meio da Lei n.º 11, de 20/04/1892, para oferecer instrução primária e,
sobretudo, educação moral e doméstica às meninas órfãs.
O governador
batizou o instituto em homenagem ao seu mestre e amigo Benjamin Constant, a
quem admirava profundamente como militar e fundador da República do Brasil. Ele
também recebeu homenagem no nome da Terceira Ponte da Sete de Setembro, a Ponte
Benjamin Constant.
O primeiro
diretor foi o Dr. Luiz Duarte da Silva. Ele contratou a Congregação das Filhas
de Sant’Ana, confiando-lhes, sob termos legais entre o governo e a irmandade,
os serviços administrativos — acordo assinado em 04/05/1892 pelo próprio
governador e pela soror Ana Victoria Anchetti, e meses depois enriquecido pela
chegada de outras irmãs diretamente da Itália. No ano seguinte, o Instituto já
ganhava a admiração e o respeito da sociedade manauara.
Com o passar
dos anos, o número de internas aumentava e o obrigava o governo estadual a
ampliar constantemente as instalações do prédio. Em 29/07/1929 foi construída
uma capela com a imagem de Nossa Senhora de Sant’Ana, padroeira do Instituto e
da irmandade. No governo do Dr. Durval Pires Porto, foi erguido um edifício
para fins teatrais.
Todos os
governadores que se sucederam e as famílias da melhor sociedade sempre apoiaram
o trabalho das irmãs no IBC. Um dos maiores benfeitores foi o Dr. Luiz Maximino
de Miranda Corrêa, principal diretor da Fábrica de Cerveja Miranda Corrêa — ele
residia num palacete que foi demolido para dar lugar ao edifício que leva seu
nome na Avenida Eduardo Ribeiro. O governador Álvaro Maia, além de político,
era escritor e poeta, e colaborou intensamente com o IBC.
Apesar do
apoio, as despesas eram muito altas, pois o número de internas crescia sem
parar. Isso levou o governo a criar um pensionato, cujas candidatas tinham de
pagar mensalidades.
Um fato
curioso: uma das alunas, Eunice Menezes Jackmont, tornou-se freira da
Congregação das Filhas de Sant’Ana, recebendo o nome de Soror Argênia Jackmont
(da família do artista plástico Jair Jackmont). Ela foi professora no IBC e,
depois, superiora do Hospital Santa Casa de Misericórdia.
As irmãs
confeccionavam os mais belos vestidos de noiva das famílias ricas de Manaus,
além de todo o enxoval, produzidos com esmero e dedicação. Eram verdadeiras
obras de arte que despertavam a curiosidade da população. Também preparavam
bolos de aniversário e de casamento e doces para os grandes eventos
sociopolíticos, sempre com o auxílio das alunas internas.
A melhor
Banda-Música de Manaus pertencia ao IBC. Desfilava nos dias 5 e 7 de setembro,
vestindo saias vermelhas e blusas creme. Tão bem ensaiadas, muitas vezes era
confundida com a banda da Polícia Militar ou do 27º Batalhão de Caçadores —
tamanha era a beleza e a harmonia com que executavam as marchas militares,
arrancando aplausos da multidão em ambos os lados da avenida Eduardo Ribeiro.
Todas as
internas faziam parte da Guarda de Honra do Sagrado Coração de Jesus; havia
também a Liga dos Benjamins e Tarcísios do Sagrado Coração de Jesus. A
disciplina era rigorosa: acordavam às 5h30, tomavam banho, vestiam o uniforme e
seguiam para a capela, onde assistiam à Santa Missa — comungavam e confessavam
em jejum. Em seguida, iam ao refeitório e, às sete em ponto, começavam as
aulas, que se estendiam até as 11h. Após o almoço, às 12h, tinham lazer até as
13h, quando se dirigiam às salas de ofícios domésticos, de acordo com suas
aptidões: música, pintura em tela, coral, datilografia, ginástica, teatro,
corte e costura, bordados, arranjos florais e demais trabalhos domésticos —
exceto lavanderia, que contava com funcionários pagos pelo governo.
Havia um dia
de festa especial: 26 de julho, dedicado a Nossa Senhora Sant’Ana. Nesse dia
não havia aula e tudo recebia um tratamento solene. O Instituto era enfeitado
para receber familiares e amigos — as alunas penduravam cortinas bordadas em
todas as janelas. Durante o dia, desfrutavam de doces, refrescos e sorvetes
oferecidos pelos benfeitores. À noite, as melhores recebiam prêmios e assistiam
a peças literomusicais.
O governador
Plínio Coelho trabalhou incansavelmente pela melhoria do IBC, mas foi Gilberto
Mestrinho quem ficou conhecido como “o namorado do colégio” pelos inúmeros
serviços prestados. Ele construiu várias salas de aula, que com entrada pela
rua Tapajós ficaram conhecidas como bloco Antenor Sarmento Pessoa.
Em 1963,
encerrou-se o externato, permanecendo apenas as meninas internas — era o início
do fim do internato, que durou oitenta anos de grandes benefícios ao Amazonas,
sendo extinto em 1968. No ano seguinte, o IBC começou a aceitar alunos do sexo
masculino pela primeira vez em sua história.
A partir de
1972, por meio da Resolução n.º 5 da Secretaria de Educação do Amazonas, o IBC
tornou-se a Unidade Educacional Benjamin Constant. De 1998 a 2003, funcionou
como Centro de Informática Benjamin Constant (Ceinfor). A partir de 2003,
passou a ser o Centro de Educação Tecnológica do Amazonas (CETAM), oferecendo
cursos técnicos e de qualificação profissional. Na rua Tapajós ainda existem
duas escolas estaduais: a Escola Estadual Professor Antenor Sarmento Pessoa e a
Escola Estadual Frei Silvio Fagheggy.
O artigo de
Moacir de Andrade, ao celebrar os cem anos do IBC, me chamou muita atenção.
Tenho lembranças vivas daquele tempo em que fui aluno do Instituto: jogava bola
na quadra, escapava nos finais de semana com a molecada da rua Tapajós para
tomar banho num poço artesiano e colher frutas — e sempre era corrido pelo
bedel quando nos pegava. Essas memórias fazem parte da minha história e guardo
cada detalhe com carinho.
Passados 141
anos, o prédio principal do IBC continua firme e forte, tombado pelo IPHAN. Ele
permanece para a posteridade e, acima de tudo, segue formando novas gerações de
amazonenses.
Fontes:
Jornal A Crítica
Secretaria de Educação
BLOGDOROCHA
Livro ‘A Vila Paraíso, José Rocha’
Fotos:
Jornal A Crítica/Acervo Moacir de Andrade