sábado, 13 de setembro de 2025

AVIÃO DA PRAÇA DA SAUDADE

 


Por José Rocha

Quem foi pai, mãe, criança ou adolescente na segunda metade da década de setenta jamais esquece a emoção que despertava a novidade na Praça da Saudade: o famoso Avião da Praça da Saudade.

Era véspera de Natal de 1977 quando um imponente DC-3 foi montado ali, ao lado da Avenida Ramos Ferreira, bem em frente ao atual prédio da Caixa Econômica Federal. Ao seu lado, uma placa comemorativa trazia estes versos: “A presença discreta e silenciosa desta aeronave na principal Praça de Manaus, com sua proa voltada para os céus, relembra não apenas as realizações da ‘Cruzeiro’, mas também de suas coirmãs ‘Varig’ e ‘Tropical Hotel’, vindas do sul longínquo para a Amazônia. Esses gestos simbolizam o amor e a solidariedade humana, tão propícios de serem evocados. Nesta véspera de Natal, data felizmente escolhida pela dinâmica administração da Prefeitura de Manaus, realizamos esta inauguração. 24/12/1977.”

O prefeito daquele período era o coronel Jorge Teixeira de Oliveira, o “Teixeirão”, que governou Manaus de 7 de abril de 1975 a 21 de março de 1979, nomeado pela ARENA — sucedendo Frank Abrahim Lima e antecedendo José Fernandes.

Na juventude, tive o privilégio de entrar naquele avião pela primeira vez. Anos depois, levei meus filhos pequenos para reviverem o mesmo encanto. A Praça da Saudade transformava-se em ponto de encontro para turistas e moradores, sempre lotada aos finais de semana, tomada por risos, brincadeiras e olhares curiosos para a cabine de pilotagem.

Por sete anos, aquele DC-3 foi o cartão-postal maior da nossa cidade, até que, em 24 de maio de 1984, a comoção tomou conta de todos. A população, indignada, assistiu ao desmanche que arrancou o trem de pouso e as rodas — retirados pela empresa Rico Táxi Aéreo — e, em seguida, viu o resto da fuselagem ser fragmentado a machado e marreta por operários contratados por ferros-velhos. Parecia uma produção incansável: não houve pausa nem para um último olhar.

Jovens pulavam, gritavam e protestavam, mas não conseguiram evitar o fim daquele símbolo. Com esforço, moradores conseguiram resgatar a placa de doação e uma das portas, guardando-as como relíquias de um tempo em que a praça era palco de sonhos. Todos apontaram o então prefeito Amazonino Mendes como responsável: ele autorizara o desmonte sem ouvir a comunidade e deixara de escalar um guarda municipal para proteger o DC-3 dos vândalos.

A foto publicada no jornal A Crítica, em 24 de maio de 1984, imortalizou o instante em que os operários destruíam o Avião da Praça da Saudade. Hoje, a nossa praça jaz esquecida: não há mais risos infantis nem curiosos passeios em volta da cabine. À noite, abriga apenas moradores de rua e sombras solitárias, um silêncio que dói na memória de quem viveu dias tão vibrantes.