Por José Rocha
Durante
muitos anos, a Escola de Dactilografia Nossa Senhora de Lourdes formou várias
gerações de manauaras, tendo como professora a senhora Eduarda Pinto Ribeiro,
na Rua Monsenhor Coutinho.
O
curso de dactilografia era a arte de escrever à máquina, desejado por muitas
pessoas, o que conferia status na sociedade; inclusive, ao término do curso, os
formandos tinham direito a uma formatura com todas as formalidades possíveis,
além de diploma confeccionado em papel nobre.
Quem
possuísse um diploma de dactilografia tinha uma grande bagagem no currículo
vitae, com melhores condições para galgar um emprego em empresas comerciais ou
em instituições bancárias, principalmente para o cobiçado cargo de carreira no
Banco do Brasil.
Muitos
jovens do centro da cidade passaram pela Escola da Dona Eduarda. Fui um deles,
onde adquiri grande agilidade para datilografar sem olhar para o teclado. Eram
máquinas pesadas e com teclados parecidos com os atuais de computador,
equipadas com fitas de pano embebidas em tinta preta e vermelha, utilizando-se
papel carbono para cópias extras e corretivos do tipo Helios, Cabex e Errox Ex.
Para
quem trabalhava no jornalismo, era cruel, pois não se admitiam erros nem
borrões; qualquer descuido fazia com que todo o trabalho fosse descartado e tivesse
de ser recomeçado. Em decorrência disso, um bom curso de datilografia era
primordial.
Com
a invasão em massa dos computadores pessoais (PCs), foi um golpe mortal nas
máquinas de dactilografia, mesmo para quem utilizava as máquinas elétricas. Os
cursos foram fechados e as empresas que faziam manutenção nas máquinas
amargaram grandes prejuízos.
A
Escola de Dactilografia da Dona Eduarda teve o mesmo fim. A última turma que
ela formou foi em 1979; ainda assim, ela guardou durante duas décadas suas
máquinas no porão de casa.
No
ano de 1999, o jornal A Crítica fez uma pequena reportagem sobre sua escola.
Ela já estava com oitenta anos, apresentava problemas auditivos e morava com
uma irmã adotiva, sem filhos, pois nunca se casou. Após vinte anos
guardando suas máquinas, resolveu vendê-las, mas ainda relutava em se desfazer
das máquinas da marca Remington, as maiores e mais valiosas.
Seu
cunhado, Sebastião de Oliveira Maia, de 88 anos e aposentado, disse à
reportagem: “Alguém deve estar influenciando a Eduarda, pois isto aqui,
psicologicamente, é a vida dela. Apesar dos computadores, ainda existem pessoas
que querem aprender o ABC da dactilografia. Sua última turma foi em 1979, mas
para ela parece que foi ontem, e ainda espera que novas alunas batam à sua porta.”
Ela
confessou à reportagem: “Nunca tive namorados; minha vida sempre foi esta
escola. Meus ex-alunos, apesar de terem trocado o ‘bater’ pelo ‘digitar’, ainda
fazem questão de me agradecer por receberem minhas orientações de
professora.”
A
cada dez anos, as tecnologias mudam completamente, mas nada é mais importante
do que lembrar e agradecer aos nossos mestres com carinho. Sempre que passo em
frente à Escola da Dona Eduarda, na Rua Monsenhor Coutinho, lembro com saudade
da minha professora de dactilografia.
Fonte
e foto: Jornal A Crítica, edição de 1999