sábado, 20 de setembro de 2025

ESCOLA DE DACTILOGRAFIA DA DONA EDUARDA

 


Por José Rocha

Durante muitos anos, a Escola de Dactilografia Nossa Senhora de Lourdes formou várias gerações de manauaras, tendo como professora a senhora Eduarda Pinto Ribeiro, na Rua Monsenhor Coutinho.

O curso de dactilografia era a arte de escrever à máquina, desejado por muitas pessoas, o que conferia status na sociedade; inclusive, ao término do curso, os formandos tinham direito a uma formatura com todas as formalidades possíveis, além de diploma confeccionado em papel nobre.

Quem possuísse um diploma de dactilografia tinha uma grande bagagem no currículo vitae, com melhores condições para galgar um emprego em empresas comerciais ou em instituições bancárias, principalmente para o cobiçado cargo de carreira no Banco do Brasil.

Muitos jovens do centro da cidade passaram pela Escola da Dona Eduarda. Fui um deles, onde adquiri grande agilidade para datilografar sem olhar para o teclado. Eram máquinas pesadas e com teclados parecidos com os atuais de computador, equipadas com fitas de pano embebidas em tinta preta e vermelha, utilizando-se papel carbono para cópias extras e corretivos do tipo Helios, Cabex e Errox Ex.

Para quem trabalhava no jornalismo, era cruel, pois não se admitiam erros nem borrões; qualquer descuido fazia com que todo o trabalho fosse descartado e tivesse de ser recomeçado. Em decorrência disso, um bom curso de datilografia era primordial.

Com a invasão em massa dos computadores pessoais (PCs), foi um golpe mortal nas máquinas de dactilografia, mesmo para quem utilizava as máquinas elétricas. Os cursos foram fechados e as empresas que faziam manutenção nas máquinas amargaram grandes prejuízos.

A Escola de Dactilografia da Dona Eduarda teve o mesmo fim. A última turma que ela formou foi em 1979; ainda assim, ela guardou durante duas décadas suas máquinas no porão de casa.

No ano de 1999, o jornal A Crítica fez uma pequena reportagem sobre sua escola. Ela já estava com oitenta anos, apresentava problemas auditivos e morava com uma irmã adotiva, sem filhos, pois nunca se casou. Após vinte anos guardando suas máquinas, resolveu vendê-las, mas ainda relutava em se desfazer das máquinas da marca Remington, as maiores e mais valiosas.

Seu cunhado, Sebastião de Oliveira Maia, de 88 anos e aposentado, disse à reportagem: “Alguém deve estar influenciando a Eduarda, pois isto aqui, psicologicamente, é a vida dela. Apesar dos computadores, ainda existem pessoas que querem aprender o ABC da dactilografia. Sua última turma foi em 1979, mas para ela parece que foi ontem, e ainda espera que novas alunas batam à sua porta.”

Ela confessou à reportagem: “Nunca tive namorados; minha vida sempre foi esta escola. Meus ex-alunos, apesar de terem trocado o ‘bater’ pelo ‘digitar’, ainda fazem questão de me agradecer por receberem minhas orientações de professora.”

A cada dez anos, as tecnologias mudam completamente, mas nada é mais importante do que lembrar e agradecer aos nossos mestres com carinho. Sempre que passo em frente à Escola da Dona Eduarda, na Rua Monsenhor Coutinho, lembro com saudade da minha professora de dactilografia.

Fonte e foto: Jornal A Crítica, edição de 1999