sábado, 11 de outubro de 2025

A Biblioteca Pública do Amazonas: Um Tesouro Escondido.


 


Por José Rocha.

A nossa Biblioteca Pública está numa rua estreita e discreta, escondida dos olhares de longe, ao contrário do Teatro Amazonas, da Igreja de São Sebastião e do Palácio Rio Negro, que se impõem na paisagem. Quando os visitantes passam em direção ao Teatro e avistam a fachada da biblioteca, sentem-se tomados por um espanto delicado diante daquela beleza serena e imponente.

Nós, manauaras, atravessamos a Rua Barroso milhares de vezes e, com exceções, não dão atenção à biblioteca, nem mesmo aqueles que, ocasionalmente, entram para consultar um livro ou um periódico. Considero-me parte desse pequeno grupo de exceção: frequento a BPA com assiduidade e sempre me detenho a admirar sua fachada, a escadaria que conduz ao primeiro andar, os grandes portões de madeira trabalhada e o quadro monumental que ocupa a parede do hall superior.

Na minha adolescência, quando não existiam os atalhos digitais e os sites de pesquisa, aquela casa era o lugar-comum das minhas investigações, embora eu tivesse em casa a famosa Coleção Barsa. O tempo passou e, apesar de toda tecnologia, nada substitui uma pesquisa em fontes primárias, especialmente jornais antigos, acervos gerais, obras especiais, raras e amazonianas.



Como observador, noto estudantes, jornalistas, escritores e turistas impressionados com o número de pessoas que pesquisam nos jornais antigos e com as intermináveis estantes de periódicos. Nos intervalos das buscas, gosto de ficar junto à janela principal do hall do primeiro andar e ver os visitantes contemplando a fachada com surpresa. Aqueles que entram surpreendem-se com a bela escadaria — trazida de Glasgow, na Escócia — e, no andar superior, com o quadro “A Redenção do Amazonas”, obra grandiosa do artista Aurélio de Figueiredo, datada de 1888, com dimensões aproximadas de 6,65 m por 3,65 m.

Mesmo depois das perdas no Centro Histórico, as construções que resistiram ao boom da borracha e à fúria do progresso — quando tantos prédios se reduziram a cubículos para lojinhas de importados — ainda arrancam suspiros dos visitantes pela sua beleza e imponência. A Biblioteca Pública do Amazonas é, certamente, um deles: um tesouro escondido.

Fotos: Acervo José Rocha