Por
José Rocha.
A
nossa Biblioteca Pública está numa rua estreita e discreta, escondida dos
olhares de longe, ao contrário do Teatro Amazonas, da Igreja de São Sebastião e
do Palácio Rio Negro, que se impõem na paisagem. Quando os visitantes passam em
direção ao Teatro e avistam a fachada da biblioteca, sentem-se tomados por um
espanto delicado diante daquela beleza serena e imponente.
Nós,
manauaras, atravessamos a Rua Barroso milhares de vezes e, com exceções, não
dão atenção à biblioteca, nem mesmo aqueles que, ocasionalmente, entram para
consultar um livro ou um periódico. Considero-me parte desse pequeno grupo de
exceção: frequento a BPA com assiduidade e sempre me detenho a admirar sua
fachada, a escadaria que conduz ao primeiro andar, os grandes portões de
madeira trabalhada e o quadro monumental que ocupa a parede do hall superior.
Na
minha adolescência, quando não existiam os atalhos digitais e os sites de
pesquisa, aquela casa era o lugar-comum das minhas investigações, embora eu
tivesse em casa a famosa Coleção Barsa. O tempo passou e, apesar de toda
tecnologia, nada substitui uma pesquisa em fontes primárias, especialmente
jornais antigos, acervos gerais, obras especiais, raras e amazonianas.
Como
observador, noto estudantes, jornalistas, escritores e turistas impressionados
com o número de pessoas que pesquisam nos jornais antigos e com as
intermináveis estantes de periódicos. Nos intervalos das buscas, gosto de ficar
junto à janela principal do hall do primeiro andar e ver os visitantes
contemplando a fachada com surpresa. Aqueles que entram surpreendem-se com a
bela escadaria — trazida de Glasgow, na Escócia — e, no andar superior, com o
quadro “A Redenção do Amazonas”, obra grandiosa do artista Aurélio de
Figueiredo, datada de 1888, com dimensões aproximadas de 6,65 m por 3,65 m.
Mesmo
depois das perdas no Centro Histórico, as construções que resistiram ao boom da
borracha e à fúria do progresso — quando tantos prédios se reduziram a
cubículos para lojinhas de importados — ainda arrancam suspiros dos visitantes
pela sua beleza e imponência. A Biblioteca Pública do Amazonas é, certamente,
um deles: um tesouro escondido.
Fotos:
Acervo José Rocha