Crônica de
José Rocha
No final da
década de oitenta, quem fazia parte da classe média alta de Manaus sonhava em
morar num edifício de frente para a Praia da Ponta Negra, desfrutando do mais
bonito pôr do sol do mundo, cercado pela natureza amazônica.
Pois esse sonho começou a se tornar realidade com a construção do Edifício
Aruba.
O nome,
escolhido pela construtora Rayol Ltda., não foi por acaso. “Aruba” é uma
ilha paradisíaca no sul do Mar do Caribe, conhecida pelo clima seco e
ensolarado, pelas praias de areia branca e pelas águas azul-turquesa — um
verdadeiro paraíso apelidado de “Ilha Feliz”.
E a nossa Ponta
Negra? Situada na zona oeste de Manaus, afastada do centro, também é um
lugar de clima quente e ensolarado, com uma imensa praia de areia branca e
águas escuras e doces do Rio Negro. Um dos principais cartões-postais da
capital amazonense, onde a natureza exuberante se encontra com a urbanidade
moderna. Um orgulho para todos os manauaras.
Foi,
portanto, um casamento perfeito: o primeiro edifício da Ponta Negra recebeu o
sugestivo nome de Aruba, a “Ilha Feliz” do Caribe transportada para o
coração da Amazônia.
O projeto
inicial previa a construção de seis edifícios, formando um condomínio
fechado chamado “Ilhas do Caribe”. Os apartamentos seriam amplos — com
quatro suítes, varanda, biblioteca, salas de estar e jantar, além de
dependências para duas empregadas. O condomínio ofereceria todas as mordomias
possíveis: piscinas, saunas, salão de festas, quadras poliesportivas e
elevadores panorâmicos.
Morar ali
significava status. O conjunto ficava próximo ao luxuoso Tropical Hotel,
em uma área ainda pouco urbanizada, mas já valorizada pela paisagem
deslumbrante e pela proximidade com o rio.
Porém, nem
tudo saiu como planejado. O ambicioso Residencial Ilhas do Caribe teve
suas obras interrompidas pela crise econômica, pela inflação galopante e pelas
dificuldades financeiras da construtora. O resultado foi um cenário desolador:
os blocos inacabados transformaram-se em esqueletos de concreto visíveis da
estrada — um símbolo de sonho interrompido.
Apenas o Edifício
Aruba foi concluído e entregue aos proprietários, todos nomes conhecidos da
sociedade manauara. Um deles era o então governador Amazonino Mendes,
que costumava receber autoridades, políticos e celebridades em seu apartamento
no sexto andar.
Em 2003,
o prédio voltou às manchetes: rachaduras em pilares causaram tremores
constantes, assustando os moradores. Muitos venderam seus apartamentos por
valores baixos, outros simplesmente abandonaram o imóvel. Após uma série de
reparos estruturais, o edifício foi recuperado e voltou a ser valorizado.
Hoje, o
pioneiro Edifício Aruba sobrevive entre dezenas de modernos prédios que
compõem o skyline da Ponta Negra. Com quase quarenta anos de existência, já
carrega as marcas do tempo, mas conserva o charme e a aura de exclusividade que
sempre o acompanharam.
Ainda é um objeto
de desejo, reservado a poucos que podem pagar por aquele privilégio: viver
na esquina da Estrada do Turismo, de frente para a icônica “Prainha”,
onde a juventude dos anos oitenta se reunia nas noites quentes de Manaus.
Um edifício,
uma época, um sonho que resiste — como um cartão-postal vivo da história
recente da cidade.


