José
Rocha
Os
boêmios manauaras mais antigos gostam de relembrar os clubes dançantes e os
lupanares (conhecidos popularmente como puteiros) de outrora, onde se bebia sem
medida, dançava-se até o amanhecer e “passava-se a régua” nas primas. Entre
esses locais de diversão, o Clube Acapulco surge com destaque nas
reminiscências da velha guarda. Nos seus primeiros dez anos de existência, foi
um luxuoso cassino, frequentado pela fina e requintada sociedade amazonense.
Localizava-se
na antiga Rua Recife (atual Avenida Mário Ypiranga Monteiro), nas proximidades
da atual sede do DETRAN-AM. Era o “point” de Manaus, embora, à época, o local
fosse considerado distante e de difícil acesso, praticamente encravado na mata.
O
proprietário chamava-se Mário Oliveira, homem muito estimado por seus
funcionários, a quem distribuía bônus provenientes dos lucros das mesas de
baralho (bacará) e da roleta. O crupiê era o senhor Petruccio, pai dos irmãos
Piolas — jogadores bastante conhecidos em Manaus.
Nas
redondezas ficavam os famosos balneários da Estrada do V-8 (atual Avenida
Efigênio Salles) e do Parque Dez de Novembro (em frente ao Acapulco), todos
banhados pelo Igarapé do Mindú — hoje, infelizmente, transformado em um esgoto
a céu aberto.
O
“ACA”, como era carinhosamente chamado pelos frequentadores, iniciou suas
atividades em 1958. Seu nome homenageava a cidade turística mexicana de
Acapulco, cenário do belo filme Fun in Acapulco (1963), estrelado pelo cantor
norte-americano Elvis Presley.
O
clube era frequentado, inicialmente, pela alta sociedade. Era um ambiente chic
(de bom gosto e requintado), com restaurante e bar de primeira, salões de
dança, orquestra própria e apresentações de artistas locais — como Luiz Carlos
Mello (Tical, a “Voz de Ouro ABC”) e Luiz da Conceição Souza Pinto (Little Box,
o “Caixinha”) — além de astros de renome nacional, como Dalva de Oliveira,
Cauby Peixoto, Ângela Maria, Edith Veiga e Agnaldo Rayol, entre outros.
O
grande atrativo, contudo, era o magnífico cassino, verdadeira fonte de renda do
proprietário. O salão de jogos era movimentado e elegante, mas a jogatina
desenfreada levou muitos à ruína — inclusive, segundo dizem, o próprio dono
tornou-se vítima do vício em apostas.
Nos
fins de semana, apenas uma linha de ônibus fazia o trajeto até o Parque Dez,
facilitando o acesso das famílias ao balneário. Quem desejasse frequentar o
Clube Acapulco à noite precisava dispor de automóvel próprio ou recorrer aos
choferes de praça (os antigos táxis).
Certa
vez, ao folhear um exemplar do jornal A Crítica, de dezembro de 1959, na
Biblioteca Pública do Amazonas, encontrei este curioso anúncio do Acapulco
Clube:
“Amanheça
com sua família o ano-novo na mais bonita boite do Brasil — ACAPULCO — que lhes
proporcionará ambiente, conforto, diversões, luxo e um perfeito serviço de bar
e restaurante.
Com
a participação de ALCIDES GERARDI, lançando músicas novas do Carnaval de 60.
Nos
dias 1º e 2 de janeiro, exibir-se-á a grande orquestra de GUIÃES DE BARROS.
DIA
2, SÁBADO – 1º GRITO DE CARNAVAL – Espetacular! Fabuloso! Estupendo!
Sensacional!
NOTA:
A Direção do Night Club Acapulco avisa que, durante a temporada carnavalesca,
permitirá traje esporte decente em todas as dependências. Para evitar
desagradáveis contrariedades, não se façam acompanhar de criaturas não
recomendáveis.”
A
leitura desse anúncio revela que o Acapulco era um clube familiar, luxuoso, com
serviços refinados de bar e restaurante, orquestra de primeira e ambiente
elegante — permitindo, somente no Carnaval, o uso de traje esporte “decente” e
restringindo a entrada de “criaturas não recomendáveis” (leia-se: prostitutas,
lisos e bagunceiros).
Contam
que o administrador do clube era frequentador assíduo das rodadas de baralho do
Ideal Clube — o grêmio da elite manauara, localizado na cabeceira da Avenida
Eduardo Ribeiro —, hábito que levou muita gente de bem à falência.
Os
cassinos foram legalizados por Getúlio Vargas em 1938, mas proibidos em 1946,
durante o governo de Eurico Gaspar Dutra. Assim, o Acapulco funcionava de forma
clandestina, embora amplamente tolerada pelas autoridades locais.
Na
década de 1970, o Acapulco entrou em decadência e perdeu o brilho dos anos
dourados. Acabou fechando as portas — dizem que o proprietário perdeu o imóvel
em uma mesa de jogo. Posteriormente, reabriu apenas como boate, tornando-se um
ponto de encontro para quem queria beber, dançar e paquerar. Não havia
“quartinhos” para casais, como nos prostíbulos da cidade, mas o ambiente era
animado e popular entre os jovens manauaras. O fim definitivo veio em 1976.
E
assim encerrou-se a história do lendário Acapulco Night Club, que ficou
guardado apenas na memória dos mais velhos — tempos bons que não voltam mais!