quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

NAVIO SOBRAL SANTOS II – SAMBA & MORTES

 


José Rocha

O navio Sobral Santos II foi construído na década de 50, todo em ferro, com 50 metros de comprimento e 10 de largura, com dois andares, pertencente à ONZENAVE (Onde de Maio Navegação, do empresário Calil Mourão) – foi palco de uma roda de samba, em Manaus, em 1977 e, de mais de 300 mortes quando adernou (inclinou para um lado, submergindo) em Óbidos, no Pará, em 1981.

Por ser um barco grande e todo de ferro, proporcionando conforto, segurança e comodidade aos seus passageiros, era muito requisitado para passeios curtos pelo entorno da cidade, aos domingos, para lazer e muito samba em seu interior, assim como fazem na atualidade os manauaras, com forró-boi e sertanejo regado com cerveja e mulheres bonitas.

No dia 19 de junho de 1977, o navio Sobral Santos II saiu às 10 horas da manhã, da Escadaria dos Remédios (em frente à Casa do Povo), para a I Roda de Samba Fluvial, visitando a Ponta Negra e outras localidades próximas a Manaus.

A promoção foi da SEPAM (Sociedade de Defesa da História e das Tradições Populares do Amazonas), tendo como diretores Isaías Oliveira, Moacir Couto de Andrade, Aníbal Beça e Bianor Garcia.

Participaram figuras destacadas da nossa cidade, turistas do sul do país que se encontravam hospedados em hotéis, homens e mulheres de rádio, jornal e televisão (TV-Educativa, TV-Baré e TV-Amazonas).

Durante o trajeto, foram eleitos: o par mais romântico, o traje esportivo mais bonito e os passistas mais notáveis.



A animação ficou por conta das Batucadas “Em Cima da Hora” e “Unidos da Comendador Clementino” e grupos de passistas. O serviço de som ficou a cargo da Roland Som Manaus, com a colaboração da Rádio Baré. O bar estava bem aparelhado para essa promoção e o público de modo geral, dançando, cantando e se divertindo.

Quatro anos depois de muito samba fluvial, o pior aconteceu: o navio adernou (tombou) para um lado, no porto de Óbidos, no Pará, matando mais de 300 pessoas, marcando este navio por ser o protagonista da maior tragédia fluvial da Amazônia.

O navio Sobral Santos II fazia regularmente viagens de Manaus-Santarém-Manaus, com várias escalas em municípios como Óbidos, levando e trazendo inúmeras pessoas e mercadorias, pois tinha a capacidade para transportar até 500 passageiros e 200 toneladas de mercadorias em seu porão.

No dia 18 de setembro de 1981, partiu de Santarém e parou de madrugada no porto de Óbidos, onde recebeu passageiros e mercadorias de dois barcos que estavam com problemas, ocasionando uma superlotação, com mais de 500 passageiros, além de dobrar a sua capacidade de transporte de mercadorias, algo em torno de 400 toneladas.

Na madrugada do dia 19 de setembro, uma corda que mantinha o navio atracado estourou, provocando alvoroço nos passageiros, ocasionando o desequilíbrio das cargas que estavam mal acondicionadas, o que fez adernar (tombar) para um lado e afundar em poucos minutos, matando na hora mais de 300 pessoas.

O Guindaste de 100 toneladas “João Pessoa” (que fica no Roadway, porto de Manaus) foi deslocado para içar o Navio Sobral Santos II, que voltou a Manaus, onde foi restaurado num estaleiro e voltou a navegar com o nome de Navio Cisne Branco.

Samba e mortes são duas palavras que podem parecer opostas, mas que também têm uma relação na história e na cultura brasileira. As rodadas de sambas que ocorreram no navio Sobral Santos II, uma delas resgatada de uma matéria jornalística de 1977, ficaram na história da nossa cidade, mas o que marcou mesmo foram as mortes ocorridas em 1981.

Fontes:

Jornal A Crítica

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