segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

VISITA AO HOTEL DE SELVA ARIAÚ TOWER


Na edição de hoje do jornal “A Crítica”, apareceu na primeira página fotografias mostrando o estado de abandono daquele que já foi o maior e melhor empreendimento turístico que contribuiu para a divulgação do Estado do Amazonas no Brasil e exterior, o Hotel Ariaú Tower – essa matéria levou-me ao passado, aonde em tempos idos tive o privilegio de passar um final de semana naquele espetacular hotel de selva.


O advogado e empresário Francisco Ritta Bernadino era dono do Hotel Mônaco, centro de Manaus, onde hospedou a equipe do oceanógrafo Jacques Cousteau, na sua primeira expedição pelo Rio Amazonas – no encontro dos dois, o francês visionário previa a preocupação do mundo com o meio ambiente e, seria uma boa sacada construir um hotel onde as pessoas tivessem contado direto com  a floresta.


O Ritta já tinha uma grande experiência no ramo de turismo, na década de 1980, além de ter passado quase duas décadas trabalhando no Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS, do Exército brasileiro), em decorrência disso, acatou o conselho do Cousteau.


Foi escolhido o Rio Ariaú, no Rio Negro, para a construção de uma torre com quatro apartamentos e um restaurante que funcionava em uma barca – com passar do tempo, no seu auge, entre 1995 e 2001, possuía um complexo de torres, recebendo três mil turistas (90% de norte-americanos) e faturamento mensal de um milhão de dólares.


Ano passado, o proprietário passou por sérios problemas de saúde, deixando a administração com os familiares, os quais fizeram uma má gestão empresarial e provocando divergências entre eles – o hotel já vinha sofrendo com a queda brusca da procura por parte dos americanos, aliado com os problemas acima, acumulou dívidas (trabalhistas e outras) no valor de 20 milhões de reais e com a Petrobras Distribuidora, na ordem de 1,5 milhão de reais, forçando o fechamento do hotel.


Fiz um único passeio naquele hotel de selva, quando estava no auge – a minha esposa, na época, trabalhava na Secretaria de Cultura, onde ganhou um sorteio de final de ano, para uma estada de duas pessoas naquele maravilhoso hotel.



Era uma tarde de sábado, fomos para o Hotel Mônaco, onde nos juntamos a um grupo de pessoas – na hora da partida, o gerente recebeu um telefonema da loja do Aeroporto Eduardo Gomes, para esperarmos a chegada de dois turistas ingleses, o que atrasou bastante a saída.


No cais do Porto de Manaus (Roadway) partimos numa barca catamarã, de propriedade do hotel – a viagem durou em torno de duas horas, foi num piscar de olhos, pois o Rio Negro é exuberante na sua cheia, permitindo uma viagem prazerosa para os nativos e, espetacular, para os estrangeiros, segundo o relato de um casal gay de turistas, um era brasileiro e morava fazia anos em Londres, em companhia do inglês que nada falava de português.


Formamos um pequeno grupo coeso, eu e minha companheira, um casal de funcionário do hotel de Manaus e os dois turistas ingleses, criamos um laço muito grande, pois somente havia separação na hora de dormir nos apartamentos.


Chegamos ao anoitecer no hotel, onde fomos muito bem recebidos pelos funcionários, ainda deu tempo para presenciar uma cena engraçada, no píer, com uma dezena de macaquinhos atacando um grupo de turistas japoneses, mexendo nos bolsos das camisas e calças, abrindo os zíperes das mochilas, tirando os óculos e tudo o que encontravam pela frente, deixando os japas em pavorosa e ao mesmo tempo, achando bastante graça daquela situação inusitada para eles.


Fomos logo orientados pelo guia do hotel, para não tentar reagir ao ataque dos animais, pois eles poderiam ferir alguém, sendo prudente não deixar nenhum objeto a mostra e não alimenta-los – o guia falou que, certa vez, um macaco tirou a carteira porta-cédulas de um americano, pulou para um galho e começou a jogar no rio todas as notas de dólares e cartões de crédito, um funcionário avisou que ali estava empestada de piranhas vorazes; quando o turista deu as costas, a galera pulou com roupa e tudo dentro do rio para pegar as verdinhas!


Quando caminhávamos em direção a nosso apartamento, no ultimo andar de uma torre, pude observar a famosa “Casa do Tarzan”, um apartamento construído na copa da uma imensa árvore -, havia, também, na passarela, uma piscina suspensa, nunca tinha visto uma assim – antes de chegar, um bando de Quatis começaram a nos seguir em toda direção, antes da entrada principal, tive que contrariar as orientações do guia e, ameacei chutar aos animais para dispersá-los, eles não se intimidaram e correram em nossa direção, foi um Deus no acuda, corremos e entramos assustados no quarto.


À noite, saímos às sete horas para jantar - no portão, lá estavam os danados dos Quatis, começando a nos seguir, novamente, o jeito foi correr em debandada e, para complicar, os morcegos passavam rentes as nossas cabeças, pensem num sufoco total.


No restaurante, reunimos com a nossa turma em uma imensa mesa de madeira, foi tudo de primeira, com exceção da cerveja que tomei, pois não fazia parte do pacote que ganhamos – tomei um susto danado, o preço era cotado em dólar americano, caríssima para um pobre mortal manauara. 


Depois do jantar, entramos numa canoa motorizada, com guia bilíngue, fomos a uma focagem de jacaré, aquilo para nós não era novidade, por sermos da terra, no entanto, a imensa escuridão, o céu totalmente estrelado e o vento fresco na nossa testa, foram itens que valeram a pena o passeio noturno - para fechar a noite, fomos tomar mais cervejas “a peso de ouro”.


Acordamos cedo da manhã, fomos fazer uma caminhada pelo complexo, resolvemos subir uma imensa torre com mirante -, nos primeiros degraus, um macaco prego se abraçou no meu pescoço pela parte detrás, fiquei estático e envergonhado com aquela situação – a minha sorte foi quando desceu uma linda americana de olhos azuis, o tarado se engraçou da moça, pulando e se agarrando em seus quadris.  


Depois do passeio, fomos tomar um café padrão internacional, com tudo do bom e do melhor – enchido o bucho, entramos num barco pequeno, para fazer um passeio pelas matas alagadas e visitar uma comunidade ribeirinha.


Assistimos a uma partida de futebol de campo, conhecida como “arranca toco”, da cabeça para baixo pode chutar tudo – visitamos uma horta comunitária, onde algumas plantas possuem nomes iguais aos remédios das farmácias.


Ensaiei quebrar um ouriço de castanha da Amazônia, com o machado, os turistas ficaram filmando as minhas habilidades, pois é complicado o serviço – muitos tentaram e, nada!

Para felicidade geral da galera, encontramos um boteco com cerveja geladinha, custando um terço do preço do hotel – ai foi graça, dispensamos o restante do passeio e ficamos colados ao balcão, bebendo e jogando sinuca.


Ao retornar, o almoço já estava servido, um manjar dos deuses – após a sesta, fomos orientados a levantar acampamento e entrar no barco de volta para Manaus – o casal de turista inglês foram se despedir da gente, pois tinham gostado tanto que resolveram passar uma semana no hotel de selva.


A volta foi gostosa e tranquila e, para fechar com a “chave de ouro”, passamos o final de tarde assistindo do barco um belíssimo pôr-do-sol -, chegamos à boca da noite no cais do Roadway, com o espírito leve e o corpo descansado.


Espero que os familiares do Ritta Bernadino se entendam e, voltem a reabrir o nosso Hotel Ariaú Tower – caso não for possível, ficarão somente as lembranças do final de semana que passei por lá. É isso ai.

Foto:


http://www.viagensecaminhos.com/2015/08/manaus-capital-da-floresta-amazonica.html  

Fonte (primeira parte): Jornal A  Crítica, edição de  05 do corrente.

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