Na edição de hoje do jornal
“A Crítica”, apareceu na primeira página fotografias mostrando o estado de
abandono daquele que já foi o maior e melhor empreendimento turístico que
contribuiu para a divulgação do Estado do Amazonas no Brasil e exterior, o
Hotel Ariaú Tower – essa matéria levou-me ao passado, aonde em tempos idos tive
o privilegio de passar um final de semana naquele espetacular hotel de selva.
O advogado e empresário Francisco
Ritta Bernadino era dono do Hotel Mônaco, centro de Manaus, onde hospedou a
equipe do oceanógrafo Jacques Cousteau, na sua primeira expedição pelo Rio
Amazonas – no encontro dos dois, o francês visionário previa a preocupação do
mundo com o meio ambiente e, seria uma boa sacada construir um hotel onde as
pessoas tivessem contado direto com a
floresta.
O Ritta já tinha uma grande
experiência no ramo de turismo, na década de 1980, além de ter passado quase
duas décadas trabalhando no Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS, do
Exército brasileiro), em decorrência disso, acatou o conselho do Cousteau.
Foi escolhido o Rio Ariaú,
no Rio Negro, para a construção de uma torre com quatro apartamentos e um
restaurante que funcionava em uma barca – com passar do tempo, no seu auge, entre
1995 e 2001, possuía um complexo de torres, recebendo três mil turistas (90% de
norte-americanos) e faturamento mensal de um milhão de dólares.
Ano passado, o proprietário
passou por sérios problemas de saúde, deixando a administração com os
familiares, os quais fizeram uma má gestão empresarial e provocando divergências
entre eles – o hotel já vinha sofrendo com a queda brusca da procura por parte
dos americanos, aliado com os problemas acima, acumulou dívidas (trabalhistas e
outras) no valor de 20 milhões de reais e com a Petrobras Distribuidora, na
ordem de 1,5 milhão de reais, forçando o fechamento do hotel.
Fiz um único passeio naquele
hotel de selva, quando estava no auge – a minha esposa, na época, trabalhava na
Secretaria de Cultura, onde ganhou um sorteio de final de ano, para uma estada
de duas pessoas naquele maravilhoso hotel.
Era uma tarde de sábado,
fomos para o Hotel Mônaco, onde nos juntamos a um grupo de pessoas – na hora da
partida, o gerente recebeu um telefonema da loja do Aeroporto Eduardo Gomes,
para esperarmos a chegada de dois turistas ingleses, o que atrasou bastante a
saída.
No cais do Porto de Manaus
(Roadway) partimos numa barca catamarã, de propriedade do hotel – a viagem
durou em torno de duas horas, foi num piscar de olhos, pois o Rio Negro é
exuberante na sua cheia, permitindo uma viagem prazerosa para os nativos e,
espetacular, para os estrangeiros, segundo o relato de um casal gay de
turistas, um era brasileiro e morava fazia anos em Londres, em companhia do
inglês que nada falava de português.
Formamos um pequeno grupo
coeso, eu e minha companheira, um casal de funcionário do hotel de Manaus e os
dois turistas ingleses, criamos um laço muito grande, pois somente havia
separação na hora de dormir nos apartamentos.
Chegamos ao anoitecer no
hotel, onde fomos muito bem recebidos pelos funcionários, ainda deu tempo para
presenciar uma cena engraçada, no píer, com uma dezena de macaquinhos atacando
um grupo de turistas japoneses, mexendo nos bolsos das camisas e calças,
abrindo os zíperes das mochilas, tirando os óculos e tudo o que encontravam
pela frente, deixando os japas em pavorosa e ao mesmo tempo, achando bastante
graça daquela situação inusitada para eles.
Fomos logo orientados pelo
guia do hotel, para não tentar reagir ao ataque dos animais, pois eles poderiam
ferir alguém, sendo prudente não deixar nenhum objeto a mostra e não
alimenta-los – o guia falou que, certa vez, um macaco tirou a carteira
porta-cédulas de um americano, pulou para um galho e começou a jogar no rio todas
as notas de dólares e cartões de crédito, um funcionário avisou que ali estava
empestada de piranhas vorazes; quando o turista deu as costas, a galera pulou
com roupa e tudo dentro do rio para pegar as verdinhas!
Quando caminhávamos em
direção a nosso apartamento, no ultimo andar de uma torre, pude observar a
famosa “Casa do Tarzan”, um apartamento construído na copa da uma imensa árvore
-, havia, também, na passarela, uma piscina suspensa, nunca tinha visto uma assim
– antes de chegar, um bando de Quatis começaram a nos seguir em toda direção,
antes da entrada principal, tive que contrariar as orientações do guia e,
ameacei chutar aos animais para dispersá-los, eles não se intimidaram e
correram em nossa direção, foi um Deus no acuda, corremos e entramos assustados
no quarto.
À noite, saímos às sete
horas para jantar - no portão, lá estavam os danados dos Quatis, começando a
nos seguir, novamente, o jeito foi correr em debandada e, para complicar, os
morcegos passavam rentes as nossas cabeças, pensem num sufoco total.
No restaurante, reunimos com
a nossa turma em uma imensa mesa de madeira, foi tudo de primeira, com exceção
da cerveja que tomei, pois não fazia parte do pacote que ganhamos – tomei um
susto danado, o preço era cotado em dólar americano, caríssima para um pobre
mortal manauara.
Depois do jantar, entramos
numa canoa motorizada, com guia bilíngue, fomos a uma focagem de jacaré, aquilo
para nós não era novidade, por sermos da terra, no entanto, a imensa escuridão,
o céu totalmente estrelado e o vento fresco na nossa testa, foram itens que
valeram a pena o passeio noturno - para fechar a noite, fomos tomar mais
cervejas “a peso de ouro”.
Acordamos cedo da manhã,
fomos fazer uma caminhada pelo complexo, resolvemos subir uma imensa torre com
mirante -, nos primeiros degraus, um macaco prego se abraçou no meu pescoço
pela parte detrás, fiquei estático e envergonhado com aquela situação – a minha
sorte foi quando desceu uma linda americana de olhos azuis, o tarado se
engraçou da moça, pulando e se agarrando em seus quadris.
Depois do passeio, fomos
tomar um café padrão internacional, com tudo do bom e do melhor – enchido o
bucho, entramos num barco pequeno, para fazer um passeio pelas matas alagadas e
visitar uma comunidade ribeirinha.
Assistimos a uma partida de
futebol de campo, conhecida como “arranca toco”, da cabeça para baixo pode
chutar tudo – visitamos uma horta comunitária, onde algumas plantas possuem
nomes iguais aos remédios das farmácias.
Ensaiei quebrar um ouriço de
castanha da Amazônia, com o machado, os turistas ficaram filmando as minhas
habilidades, pois é complicado o serviço – muitos tentaram e, nada!
Para felicidade geral da
galera, encontramos um boteco com cerveja geladinha, custando um terço do preço
do hotel – ai foi graça, dispensamos o restante do passeio e ficamos colados ao
balcão, bebendo e jogando sinuca.
Ao retornar, o almoço já estava
servido, um manjar dos deuses – após a sesta, fomos orientados a levantar
acampamento e entrar no barco de volta para Manaus – o casal de turista inglês
foram se despedir da gente, pois tinham gostado tanto que resolveram passar uma
semana no hotel de selva.
A volta foi gostosa e
tranquila e, para fechar com a “chave de ouro”, passamos o final de tarde
assistindo do barco um belíssimo pôr-do-sol -, chegamos à boca da noite no cais
do Roadway, com o espírito leve e o corpo descansado.
Espero que os familiares do
Ritta Bernadino se entendam e, voltem a reabrir o nosso Hotel Ariaú Tower –
caso não for possível, ficarão somente as lembranças do final de semana que
passei por lá. É isso ai.
Foto:
Foto:
http://www.viagensecaminhos.com/2015/08/manaus-capital-da-floresta-amazonica.html
Fonte (primeira parte): Jornal A Crítica, edição de 05 do corrente.
Fonte (primeira parte): Jornal A Crítica, edição de 05 do corrente.
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