Encontrei o meu velho amigo JJ no Bar Caldeira, fazia tempo em que não batíamos um papo, ele foi
logo falando que estava no Rio de Janeiro, foi encontrar a família, depois de
trinta anos separados – foi um reencontro com a ex-mulher, um casal de filhos e,
conhecer os quatro netos – quando começou a lembrar do seu casamento, voltei
também ao túnel do tempo e, veio à tona o paletó que casou três pessoas.
Certa vez, dando numa
geral no meu guarda-roupa, fiquei a olhar o meu velho e surrado paletó, lembrei
muito bem do sufoco que passei para adquiri-lo - sabe com é um mancebo de vinte
e poucos anos, o tesão fica a mil por hora, não teve jeito, avancei o sinal
vermelho, engravidei a minha namorada e, ainda muito jovem tive que casar. E
agora, José? Para casar tem que ter um paletó!
Nem pensar em comprar um “paletot”
nas lojas famosas da Avenida Eduardo Ribeiro (Palácio da Moda, Casa Nova e
Brumel) ou mandar um alfaiate fazer um sob medida, estava fora das minhas
parcas economias – pedi ajuda dos amigos, dos colegas universitários, dos
vizinhos, dos parentes e aderentes e, nada! Ninguém tinha um paletó para me
emprestar!
Duas semanas antes do meu
casório forçado, fui ao enlace matrimonial do JJ, o enforcamento dele foi na
Igreja de São Sebastião, fiquei na expectativa, não do casamento, mas do seu
paletó, o tamanho dava certinho no meu figurino - no final da recepção, fui
salvo pelo gongo, consegui o empréstimo do paletó.
Uma semana após o meu
casamento, o paletó tinha acabado de voltar de uma lavadeira (lavanderia, nem
pensar!), quando foi requisitado por outro colega de colégio, o Perci - o
caboco também estava com a noiva prenhe de três meses, fui solidário com ele,
emprestei o paletó que estava emprestado de outro colega. O dito cujo já estava
famoso, em menos de um mês já tinha servido para três casamentos. É mole ou
quer mais?
O meu colega embarcou com
o meu terno emprestado, foi passar a lua de mel (ou de fel) em outra cidade,
fiquei no maior sufoco, pois o dono começou a cobrar a devolução. Como não
tinha avisado que ele estava emprestado para outra pessoa, inventei uma
desculpa esfarrapada, ele não engoliu, exigiu a entrega de imediato do paletó
ou pagamento do mesmo, não teve jeito, propus o pagamento em suaves prestações.
Depois de um ano do
ocorrido, conversando com o meu irmão do meio, o Henrique, comentei sobre a
confusão do paletó e o pagamento, foi quando tive a maior surpresa, ele falou
que o paletó pertencia a ele. Mas como é possível?
O negócio foi o
seguinte: ele foi procurado pelo JJ, para comprar a prazo (no carnê) o dito
paletó na Loja Palácio da Moda, as parcelas venceram e não foram pagas e, ele
teve que assumir o débito, pagando com juros e correção monetária, dessa forma,
o paletó não pertencia ao JJ, pois ele não pagou.
Pois bem, o paletó ficou
na naftalina guardando por mais três anos, quando foi utilizado novamente para
receber o “meu canudo de papel” no Teatro Amazonas – voltou a brilhar e, posei
para as fotos do álbum de família - depois, voltou para o armário, saindo de lá
somente para ocasiões formais.
Com o passar do tempo,
ficou no esquecimento, guardado para o todo e sempre, as traças deram em cima
dele - não tem como doá-lo, ele tem história.
Voltando ao JJ, ele está
pensando em voltar a morar no Rio, pois está aposentado e ganhando o suficiente
para se manter numa boa, além do mais, ficou apaixonado pelos netos, virou um vovô babão - antes de viajar, vai ter que me devolver o valor do paletó págo indevidamente. Outra coisa, o JJ está pensando em casar de novo, dessa vez terá que comprar um novo paletó e outras coisas mais!
Os três que casaram com o
mesmo paletó, se divorciaram das esposas, a indumentária não teve nada a ver com as
desavenças dos casais - já falei para os meus filhos que, quando eu for
morar na cidade dos pés juntos, eles devem me vestir com o meu velho e surrado
paletó.
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