quarta-feira, 14 de março de 2012

A NOSSA ETERNA REDE DE DORMIR


A rede de dormir foi um invento dos indígenas da América do Sul - no Brasil, era conhecida por “Hamaka”, sendo a palavra “rede”, utilizada pela primeira vez, pelo Pero Vaz de Caminha, em carta ao reino de Portugal, onde descrevendo a povoação dos tupiniquins, seus hábitos e costumes, relata a maneira de dormir daqueles indígenas.

É um hábito muito comum nas regiões norte e nordeste, faz parte da nossa cultura - uma grande maioria das pessoas ainda utiliza a rede em substituição à cama de dormir, além de servir de descanso nas casas de veraneio.

Originalmente, era feita de cipó e lianas (trepadeiras que pendem das árvores). No Brasil colônia, era utilizada também para enterrar os mortos no meio rural, além de servir como meio de transporte, onde os escravos carregavam os colonos em passeios pela cidade.

As mulheres dos colonos portuguesas adaptaram as técnicas indígenas às suas varandas, passando a confeccionar as redes em algodão e enfeitando com franjas.

Existem muitos causos, tendo como personagem principal a rede de dormir, eis algumas:

Na minha adolescência, era comum entre a rapaziada de Manaus, o desejo de conhecer o Rio de Janeiro - quando alguém conseguia viajar pela primeira vez de avião, existia sempre aquela gozação: - Não adianta levar a rede, pois no avião não existe armador!

A nossa família era constituída pelo papai, mamãe, vovó, duas irmãs e três irmãos, com exceção dos meus pais, que utilizam a cama de casal, todos os outros usavam a rede de dormir, deixei de usá-la somente quando casei, após a separação, voltei para a minha querida rede de dormir!

Lembro, quando criança, os mais velhos falavam: – Além da mulher, a coisa melhor do mundo é a zoada da chuva no telhado de zinco, se embalar e coçar a frieira no punho da rede!

Tive um vizinho no Conjunto dos Jornalistas que, certo dia me revelou: – Ainda não deixei o hábito de usar a rede de dormir, mesmo após o casamento - ato a dita cuja bem cima da cama da mulher, desço somente para ir ao banheiro urinar ou dar uma “lamparinada” na velha, depois, subo para dormir!

Tenho um amigo morador da Vila de Paricatuba, município de Iranduba, possui um belo terreno no Lago de Paricá, inspirado pelos “Bumbódromos e Sambódromos” da vida, resolveu fazer um “Redódromo” – um barracão com duzentas redes enfileiradas, para servir de pousada para os turistas mochileiros - com a Ponte Manaus/Iranduba, a moda vai pegar!

O caboclo preguiçoso estava se embalando, quando uma grande cobra começa a deslizar pela rede, morrendo de medo, bota a boca no trombone: - Mãe, a senhora tem remédio para picada de cobra? A velha responde: - Tem não, meu filho, por quê? Ele responde naquela manha: - É que tem uma no punho da minha rede!- preferindo ser picado, ao sair da sua rede!

Um barco regional ao chegar ao seu destino, todos os passageiros saíram, ficou somente um dorminhoco, o comandante foi até ele e, começou a balançar a rede do caboclo: - Acorda, acorda, acorda! O cara meio sonolento deu um pulo e falou: - A corda é minha a rede eu não sei de quem é! O ladrão de rede se saiu muito bem!

Na Amazônia as estradas são os rios, para vencer qualquer lugar são utilizados os “Barcos Regionais”, dotados de alguns “Camarotes” para os mais abastados, sendo que a grande maioria utiliza-se das redes de dormir, ficam atadas (amaradas) pelos lados, por cima e por baixo, ficando sem espaços até para mexer as pernas!

Sempre gosto de ir ao Festival de Parintins, não tem coisa melhor do que ficar se embalando numa rede e, olhando o Rio Amazonas – por falar em festival, no ano passado passei o maior mico, o jornalista Jersey Nazareno presenciou a cena, ela publicou no Blog da Floresta:


No sufoco de cobrir matéria para o “BLOGDAFLORESTA”, hoje, no Porto da Manaus Moderna, escuto alguém dizer “vamos nessa”. Era “Caboco Rochinha” a caminho do barco que o levaria ao Festival de Parintins. Não titubeei e, segui o Rochinha até o motor-navio catamarã ”Rondônia”. Subimos juntos para o andar de cima, onde ele ataria sua rede. Meu espanto!  "Caboco Rochinha", que se criou rincando nas águas, ainda, não poluídas do Igarapé de Manaus, teve dificuldades para atar sua rede, porque não sabia dá o nó certo, como a grande maioria dos que nos barcos, singram os rios amazônicos e ao parque daqueles que vão ao Festival de Parintins. Ele teve que pedir ajuda de outro passageiro que atou a rede como mandava o figuro regional, enquanto ele observava. Olhou pra mim, sorriu, e deixou escapar: “agora eu sei que o nó não desata”. Saímos e fomos comer um bom jaraqui nas redondezas do mercado Adolpho Lisboa. Vale lembrar que o "caboco" que não sabe atar rede, sabe fazer outras coisas importantes, como por exemplo, colaborar com uma das maiores lojas de Manaus (Mirai Panasonic) e alguém que melhor entende de comércio exterior na Zona Franca de Manaus. (Jersey Nazareno)

Depois dessa, comecei a exercitar o nó no punho da rede, com certeza, não irei fazer feio na viagem de barco para o próximo festival de Parintins. É viva a rede! É isso ai!

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