quinta-feira, 15 de março de 2012

ÁUREO NONATO


Nasceu em Manaus, no bairro de São Raimundo, em 1º de Abril de 1921 e, faleceu no dia 23 de Março de 2004, no Instituto do Coração de Manaus, vitima de complicações pulmonares - foram 83 anos de muita produção artística, dedicada ao Brasil e a sua querida cidade natal - militou no jornalismo, foi também um escritor consagrado, além de poeta e compositor.

Ainda muito jovem, com apenas dezessete anos de idade, embarcou no navio “Prudente de Moraes” com destino ao Rio de Janeiro, como voluntário do Exército Brasileiro, ficou no 14º Regimento de Infantaria do 1º Exército, sediado em São Gonçalo - passou cincoenta anos no eixo Rio-SP, chegando a receber, em 1987, o título de cidadão do Estado do Rio de Janeiro.

Ao se aposentar, resolver viver os últimos anos da sua vida na sua amada Manaus – tinha condições financeiras para viver muito bem obrigado, mas, contrariando a família, foi morar no “Asilo Doutor Thomas”.

No abrigo em que morava voluntariamente, tinha toda a liberdade para entrar e sair, no horário que bem entendesse – por ser um boêmio inveterado, gostava da noite, era um notívago como todo bom poeta, adorava festas, era um exímio “pé-de-valsa”, contar causos era com ele mesmo, era muito bom de papo, mas, não gostava de ser contrariado, esquentava a cabeça facilmente – curtiu muito bem os seus últimos anos da sua vida nos botecos tracionais de Manaus.

Tive o privilégio de conhecê-lo lá pelas bandas do Bar do Armando, no Largo de São Sebastião, centro antigo de Manaus. Certa vez, no dia anterior ao aniversário da cidade, ele levou a sua amiga Salete, uma deficiente visual que ainda canta e encanta, para o lançamento do seu CD - foi uma bela noite, com direito a tomar copos e copos de Aluá (uma bebida fermentada da casca do abacaxi) e pitombas & biribás à vontade. Maravilha!

Com relação a sua produção cultural, o escritor e poeta amazonense Rogel Samuel, assim descreveu a atuação do Áureo Nonato: “Foi autor de várias obras importantes da literatura amazonense, entre eles “O Porto das Catraias” (1987) e “Os Bucheiros”, 1983 (Prêmio Osvaldo Orico), 1982, da ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS). Esta última sendo considerada a obra-prima do autor e utilizada pela Universidade Federal do Amazonas como leitura obrigatória do seu vestibular. O escritor era colaborador de jornais com suas crônicas sempre bem-vindas e pertencia à Academia Amazonense de Letras, ocupando a cadeira de nº 17. Ele era um excelente escritor, de prosa leve e agradável. Como compositor musical é autor de uma espécie de Hino Oficial do Amazonas, e de várias canções, uma das quais seria gravada por Elizeth Cardoso (não temos certeza de que a gravação foi feita). Viveu longamente no Rio e São Paulo. Trabalhou com Paschoal Carlos Magno no Rio, foi diretor da Companhia Dramática do MEC, Secretário do Teatro do Estudante, Secretário da Companhia Dulcina, da revista «Vida». Em São Paulo trabalhou no jornal "A noite". Seu livro "Os Bucheiros" traça um painel da vida amazonense de Manaus da década e 20 e 30, e tem como foco o seu pai açougueiro. Existe um vídeo sobre sua vida. O escritor vivia muito pobre, num asilo, em Manaus”. 

Deu um belo presente para a sua cidade com a música “Canção de Manaus”, com a seguinte letra:

Que viu você
Não pode mais esquecer
Quem vê você,
Logo começa a querer;
Manaus, Manaus, Manaus
Minha cidade querida.
Manaus, Manaus, Manaus,
És a cidade sorriso,
Esperança da nossa Amazônia.
Manaus, Manaus, Manaus,
Minha cidade querida.
Manaus, Manaus, Manaus.

Por ter frequentado assiduamente o Bar do Armando e amado muito a Banda da Bica, tornou-se um “biqueiro” de carteirinha, sendo homenageado por todos os colegas de boteco quando completou oitenta anos de idade, no dia 1º de Abril de 2001, que por coincidência é também o “Dia da Mentira” -, “Será que sou um mentiroso” – brincou Áureo Nonato, ao informar a data de seu nascimento.

O blog “Amor de Bica”, editado pelo Simão Pessoa, fez a seguinte homenagem ao nosso poeta: “Sem parar de escrever e cantar, que é seu hobby favorito, Áureo Nonato é crítico e costuma ironizar fatos políticos e a sociedade local em seus romances, crônicas e poesias. Ele completou o primário no grupo escolar Olavo Bilac e fez até o primeiro ano do ginásio no colégio Dom Bosco. O escritor se orgulha de sua formação acadêmica. “Aprendi rudimentos de francês e latim e sempre fui tido como uma criança inteligente”.Áureo garantiu que é o único amazonense até hoje a ganhar um prêmio da Academia Brasileira de Letras. Em 1982, ele conquistou o prêmio Osvaldo Orico com o livro Os Bucheiros, que é um memorial de infância.A obra foi aumentada e ilustrada para uma 3º edição, publicada pela Valer Editora. O livro, além das histórias dos amigos de Áureo, descreve com precisão a Manaus de 1921 a 1938. Além de Os Bucheiros, Áureo Nonato escreveu Pitombas e Biribás, livro formado por uma coletânea de crônicas e poemas publicados nos jornais da cidade, e Porto das Catraias, publicado pela Imprensa Oficial e que conta as lembranças da juventude do autor e sua viagem para o Rio de Janeiro como voluntário do Exército, em 1938, no navio Prudente de Morais”

O nosso poeta foi para o andar de cima, deixando uma obra inédita: “Batelão de Ilusões” ou “A Solidão Não Me Dói”, não chegou a optar pelo titulo definitivo, - “Este livro vai mexer com muita gente, conto coisas hilárias e ridículas que aconteceram ao meu redor”, assim confidenciou o autor ao Simão Pessoa, na comemoração dos seus oitenta anos.

Sempre em Junho, a Prefeitura de Manaus, por meio do Conselho de Políticas Culturais/ManausCult, promove a edição dos “Prêmios Literários Cidade de Manaus”, com o objetivo de distinguir obras inéditas de autores brasileiros, em Língua Portuguesa, com o  “Melhor Livro de Memória”, prêmio Áureo Nonato. Uma bela homenagem ao poeta e escritor.É isso ai.

Obs.: contribuição do meu amigo Aldemir Bispo:


Salve, Rocha.
Estou lhe enviando fotos que tirei de uma das cópias da partitura da "Canção de Manaus" (frente e costa) que me foi presenteada pelo saudoso Aureo Nonato, autor dessa notável homenagem feita com todo amor, para a nossa querida "Mãe dos Deuses". Como citei no comentário em seu blog a doação ocorreu em uma noite no Bar do Armando, que não sei mais precisar, se foi em 2000 ou 2001.
Grande postagem a sua.
Até breve e Saúde.







3 comentários:

dembsp disse...

Grandiosa esta postagem.

Ele me presenteou lá por volta de 2000 ou 2001, numa noite no Bar do Armando, uma espécie de cópia da partitura da sua grande obra musical, que é uma das mais belas homenagens que Manaus já recebeu.

O interessante é que estava rolando um assunto que caiu em elogio sobre a "Canção de Manaus" e eu não o conhecia, apenas sabia da sua enorme importância. Pois ao citá-lo, ele bem próximo lá do fundo naquelas freezers, disse: sou eu o autor; então, tirou - acho que de uma bolsa - a partitura que tenho arquivada em casa até hoje. Foi uma magnífica coincidência. Além de eu ter estudado no Olavo Bilac também; claro, que não sou genial como o saudoso Aureo Nonato. Valeu, Rocha.

M.BECKHMAN disse...

Meu coração é tomado de emoção ao lembrar e ouvir esta bela e doce canção de alegria e saudade da Manaus que sempre desejamos que venha a ser. Um brinde a Aureo Nonato e mais uma vez, agradeço a honrosa lembrança deste ilustre e verdadeiro MANAUARA! Saudações Amazonenses!

M.BECKHMAN disse...

Parabéns pela postagem e pela justa reverência a este ilustre amazonense e manauara! Um brinde a Aureo Nonato! Saudações Amazonenses!