quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

ÍNDIO



(Índio) Eu sou um índio
Eu sou Tupi
Eu sou caboclo
Eu sou daqui

Não tenho loção após o banho
não uso loção pra barbear
minha mulher não usa enfeite
não usa enfeite pra enfeitiçar

Eu sou um índio
Eu sou Tupi
Eu sou caboclo
Eu sou daqui

O nosso bolo não tem confeito
a nossa dança não tem confete
o nosso cheiro não é loção
o nosso cheiro é fedor de peixe
suor de mata, suor-sertão

Eu sou um índio
Eu sou Tupi
Eu sou caboclo
Eu sou daqui

(Branco) Diga adeus pra Tupã
que comigo vem meu Deus
Adeus pra Tupã, adeus

Trago civilização: a chave do seu problema
montada no meu esquema
Não tema, pois nada tem pra temer
e siga o que vou dizer:
pegue o cabo do terçado,
desmate a vegetação
não coma mais carne crua
não coma mais peixe cru
acabe o costume besta
de sempre, sempre andar nu
Só quem deve andar nua
é índia nova, no barracão do branco
que veio dou outro lado,
trouxe progresso e loção
e tudo que é injeção
pra curar qualquer mandinga
de quem vai pro pantanal:
anti-variólica, anti-tetânica, e até anti-moral

Destrói um povo, uma raça
que vai virando fumaça
e vai sumindo no ar...
(João Bosco Seabra da Silva)