sábado, 21 de janeiro de 2023

OBRA DE ARTE JOGADA NA RUA TAPAJOS

 



Depois de uma “sextada” nos botecos de Manaus, vinha caminhando na calada da noite fria e chuvosa, em direção ao meu barraco na Rua Tapajós, quando vi um quadro jogado na calçada, nas imediações da antiga residência do saudoso magistrado André Vital de Araújo (1899-1975).

Quando eu ainda era adolescente, passava de manhã cedinho por frente da casa do Doutor André, para comprar pão na Padaria Mimi, da 24 de Maio. Eu acho que era esse o nome. O velho ficava numa cadeira de embalo, concentrado, sempre lendo um livro. O seu filho, o Marcus Aurélio, ficava lavando a calçada com uma mangueira. Certa vez, ele jogou água em mim e falou que eu era um pé sujo. Fiquei com raiva desse cara por longos tempos. O tempo passou, tive problemas auditivos, mas, sempre procurava o Dr. Platão Araújo para as minhas consultas e operação. Uma filha dele, não lembro o seu nome, foi minha professora de inglês, no Colégio Benjamin Constant. Parece-me que um dos seus filhos ainda mora na mesma casa.

Caso o quadro for da família deles será uma honra devolvê-lo. Sei, não. Acho que foi o destino. Uma forma do camarada Aurélio pedir desculpas pelo erro do passado.

Sempre dei um grande valor as artes plásticas e aos iluminados que possuem este dom de expressão, no entanto, possuo poucos quadros em minha residência.

Este que encontrei jogado em via pública vai estar pendurado em minha sala até o momento em que aparecer o dono.

Muitos anos atrás cursei alguns períodos de Direito (Por Linhas Tortas), lembrei de um mestre de Direito Penal, quando ele falou que o dito popular “Achado não é roubado” está errado.

É isso mesmo! Segundo o mestre, quando o cidadão encontrar um bem perdido ou esquecido pelo dono, sem devolvê-lo ou entrega-lo às autoridades, em 15 dias, configura crime de apropriação de coisa achada, com previsão de até 1 ano de detenção e multa.

É mole ou quer mais? Fala sério! Caso não aparecer o dono terei de entregar o referido quadro, no prazo de 15 dias, a Prefeitura de Manaus. Está na Lei e eu não quero de forma alguma ficar com o que não é meu, mesmo tendo encontrado em via pública.

Bem que eu poderia ficar calado, mas tornei público, pois os meus dedos ficam coçando para escrever alguma coisa nas redes sociais.

Pois bem, o quadro encontra-se em perfeito estado, o vidro não está quebrado, a moldura de 60x50 perfeita, somente o forro detrás está solto. Aproveitei e dei uma limpeza geral, conforme fotografia. Na parte de dentro deste forro encontrei a data de 1983, ou seja, esta obra tem 40 anos!

Não sei quem é o autor da obra, mesmo dando um zoom no nome do camarada. Uma coisa é certa: o quadro é original, não uma fotografia, pois possui relevos que senti ao passar, levemente, os meus dedos quando estava todo desmontado. Deixei a minha marca digital, mas, assim o fiz para sentir se era original e nada mais.

Segundo os estudiosos “a arte serve como meio de transmissão de todo tipo de informação e pode ser considerada o resultado da relação entre o ser humano e seu meio”. A pintura é considerada a 3ª. Arte (Cor), no meu caso domino um pouco a 6ª. Arte (Literatura).

Juro que não entendo qual é a informação que o artista quis transmitir. É a mesma coisa que um burro olhando para um espelho. A obra pode ter um pouco valor, mas é uma obra, a expressão que poucos sambem fazer.

É isso ai.