sábado, 28 de janeiro de 2023

MEMÓRIAS DE UM PASSADO DISTANTE - PARTE II

 





Por José Rocha

Era a segunda metade da década de sessenta, lembro muito bem, tinha somente doze anos de idade, quando fui morar na Vila Paraíso, bem próximo a Rua Tapajós. Por ser um adolescente consciente, os meus pais me permitiam caminhar sozinho e, conhecer uma parte de minha cidade que nunca dantes tinha visto em minha vida. Tudo era grande, enorme, bonito e cheio de esplendor. A minha preferência era jogar bola na quadra do IEA, pois, segundo os mais velhos bastava subir um enorme muro e "brechar" muitas mulheres peladas que eram internas no Benjamin Constant. Eu ficava excitado, doidinho para subir aquela muralha e ver “in loco” mulheres “peladinhas da silva” tomando banho. Certa vez, os adultos conseguiram uma escada longa de madeira e falaram que a prioridade era para os adolescentes, fui na corda dos malandros, subi e comecei a olhar pelo telhado e, nada de mulher nuazinha, quando resolvi descer, os camaradas tinham escondido a escada. Caralho! E agora, José? Os leprosos ficavam rindo da nossa cara de otários. Pense numa fuleiragem. O jeito foi andar feito equilibrista pelo telhado até chegar nos fundos do IEA, onde o muro era mais baixo e descer com o coração a mil batidas por minutos. Ai, ai, ai, ai, ai! Fui transferido do Colégio Barão do Rio Branco e a minha mãezinha me matriculou no Colégio Divina Providência, na Travessa Frei Lourenço, onde ficava divagando e olhando o Palacete Miranda Corrêa (demolido em 1971), em decorrência de minha genitora ter um dia falado que o meu avô, um carpinteiro dos bons, fora contratado para fazer as janelas daquela residência, eu nada entendia de marcenaria, mas, dentro de minha sala de aula no segundo andar, ficava imaginando o meu avô trabalhando naquele prédio, viajei tanto em meus pensamentos que fui reprovado. Naquela época, o Prédio da Saúde, onde é hoje uma Agência dos Correios, estava fechada e abandonada, um prato creio para jogar pedras e quebrar as janelas de vidros, era uma loucura, não tinha noção de nada, apenas queria me divertir e nada mais, jamais iria imaginar que muitos anos depois seria um ferrenho defensor da preservação dos prédios antigos. Lembro, também, que eu ficava junto com uma galera olhando os aniversários dos filhos dos bacanas no Ideal Clube, certa vez, uma dondoca abriu a porteira e mandou toda a moleca de rua entrar e participar da festa. Meu Deus! Foi uma loucura, eu comia feito um desgraçado e colocava os salgados e docinhos nos bolsos e até dentro da cueca. Coisa de pobre, né? Ao lado do Ideal Clube, morava um mega empresário, o Isaac Benayon, um camarada riquíssimo que gostava de abrir a sua mansão, permitindo aos jovens e adolescentes pobres da redondeza adentrarem e lancharem numa boa, tudo do bom e do melhor, lembro dele, em sua calma e paciência, com um leve sorriso ficava olhando a garotada se empanturrar de tantas guloseimas. O tempo passou, estudei no Benjamin e no IEA, frequentava a Sorveteria Pinguim, depois, fui estudar na Faculdade de Estudos Sócias da antiga UA, na Rua Monsenhor Coutinho e também no CAUA, da Rua Tapajós. Bebia na Choperia do Pinguim e namorava com as gatinhas da Praça do Congresso, ficava olhando um espigão que tomou o lugar do Palacete Miranda Corrêa e um prédio feio “Correios” que fincou lugar no lugar da “Saúde”. Gostava de olhar a residência do Doutro Arlindo Frota, um amigo do peito de meu pai Rochinha. Atualmente, passo por lá todos os dias, mas nada mais toca o meu coração, apenas ficou as memórias de um passado distante. É isso ai.