sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

14 DE JANEIRO – ANIVERSÁRIO DE 60 ANOS DO BAR CALDEIRA E DO BAIRRO DA QUATORZE


Hoje, 14 de janeiro é um dia especial para o reduto mais boêmio, histórico e tradicional do centro de Manaus, o Bar Caldeira, que completa 60 anos, um sexagenário que atravessou todos esses anos mantendo a sua vocação para trazer muita alegria e paz aos manauaras e turistas, com muito samba, suor e cerveja, além de manter sempre viva a sua tradição e história, renovando, expandindo, respeitando, também, o presente e com muita fé para o futuro do bar, seus frequentadores e da cidade de Manaus – por outro lado, esta data coincide com o aniversário do bairro berço do samba e dos bambas, a nossa querida e amada Praça 14 de Janeiro, da Escola de Samba Vitória Régia, do Quilombo Barranco de São Benedito, dos irmãos afrodescendentes que cultivam com muito orgulho suas origens e tradições com muita fé, axé.

O Bar Caldeira foi fundado pelo português Antônio Cardoso,  um garçom no Bar Quintinho, um famoso boteco que ficava na Rua Henrique Antony, no centro antigo de Manaus e pela Dona Maria Cruz, uma amazonense do Careiro da Várzea, filha de portugueses, casaram em 1960 e em 1963 juntaram as economias e compraram um imóvel situado na Rua José Clemente, número 237, esquina com a Rua Lobo D`Almada, para explorá-lo comercialmente na parte térrea, fixando residência na parte de cima.

 

Montaram, inicialmente, uma venda de “secos e molhados”, com nome inicial de “Mercearia Nossa Senhora dos Milagres”, em homenagem a uma santa de madeira que foi encontrada boiando no mar, no século XVI, na Ilha do Corvo, em Açores (Portugal). Uma réplica desta santa permanece até hoje dentro do estabelecimento.

 

Nas proximidades existia o “Bar Cabo Kennedy”, situado na esquina das ruas Epaminondas e Monsenhor Coutinho, um local muito frequentado pelos boêmios Iran Caminha, Padre Nonato, Rair Mininea, João Barroso, Antônio Câmara, Gilvandro Câmara, Athalpa Barros (Tapinha), Tiba Caminha, Adalberto Caminha, João Cruz e Silva, dentre outros.

 

Certo dia, o Senhor Bichara, dono do estabelecimento, resolveu fechar em definitivo o bar, deixando os farristas sem um lugar para tocar, cantar e beber. Foi quando entrou em cena o Waldemar Evangelista, pai do artista plástico Ignácio Evangelista (a pessoa que me fez este relato histórico), morador antigo da Rua Lobo D´Álmada, ao lado da famosa boate Remulo´s, convencendo o Senhor Antônio Cardoso, a deixar aqueles senhores a frequentarem o seu estabelecimento.            

 

O grupo de boêmios cantava e tocava violão, com a cerveja e o uísque sendo comprados fora, pois ali não havia venda de bebida alcoólica. Com o passar do tempo, o dono resolveu comercializá-las, pois começaram a frequentar o local mais pessoas e achou que aquele negócio seria lucrativo.

 

Mudou o nome de Mercearia para Bar Nossa Senhora dos Milagres. A partir daí o boteco começou a ficar famoso, tornando-se um reduto de políticos, empresários, funcionários públicos, poetas, músicos, escritores e                trabalhadores do centro de Manaus.

 

No dia 14 de janeiro de 1970, uma quarta-feira fatídica, batiam os sinos da Igreja de São Sebastião, eram exatamente 10 horas de manhã, quando houve uma grande explosão das caldeiras do Hospital de Santa Casa de Misericórdia, seguido de mais duas explosões, provocando mortes e destruições.

 

Apesar de a explosão ter ocorrido pela parte da manhã já havia alguns frequentadores no bar e por um milagre nenhum boêmio foi atingido pelos destroços da explosão da caldeira. O boteco por ficar ao lado onde ocorreu este evento sinistro passou a ser conhecido em toda Manaus, como aquele bar que fica próximo da explosão da caldeira. Ninguém mais chamava Bar Nossa Senhora dos Milagres, mas, sim, Bar Caldeira, o nome pegou e assim ficou para           sempre.

 

A partir da entrada do administrador Carbajal Gomes, em 2012, o aniversário do Bar Caldeira passou a ser no dia 14 de janeiro, quando começou a ser chamado por este nome em decorrência daquele evento fatídico.

 

Na realidade, praticamente ninguém mais lembrava quando foi que aconteceu aquele evento e, a pedido do Carbajal Gomes fiz uma pesquisa na Biblioteca Pública do Amazonas, onde encontrei os jornais da época e fiz uma postagem no BLOGDOROCHA, além de montar um quadro com fotos que está até hoje dentro do bar.

 

Tempos depois fiz um livro e-book “BAR CALDEIRA – HISTÓRIA & TRADIÇÃO”, contando tudo e muito mais, o mesmo está disponível em PDF, pois ainda não foi publicado, ele não é oficial do Bar, mas apenas uma contribuição para a sua história, que poderá se juntar a muitos outros dos nossos historiadores.

 

A programação será a seguinte: Queima de Fogos na virada de 13 para 14, comandado pelo Papaco & Companhia.  A partir das 15 horas haverá o Chorinho com a Velha Guarda do Caldeira: Graça Silva, Celestina, Nazaré Lacout (a Kátia Maria, infelizmente, não poderá se apresentar por problemas de saúde, mas, será lembrada). Palco com som e iluminação, com a rua fechada da Epaminondas até a Lobo D´Állmada, começando com o Conjunto Musical Pororoca Atômica, depois Papaco Amor & Samba, com convidados (Assis Almeida, Junior Rodrigues, Ausier e muitas outras pessoas do samba e da boêmia de Manaus). Para finalizar, entrará em campo o Conjunto Musical Cauxi Eletrizado, da pegada de carnaval, para pegar fogo e incendiar mesmo a caldeira. As camisas serão vendidas a 60 Reais, a mesma idade do Bar Caldeira, para guardar de lembrança. As cervejas terão um preço promocional de 10 Reais para comemorar a festa.

 

Na virada de 13 para 14, houve uma queira de fogos, também, no bairro mais tradicional de Manaus, a Praça 14 de janeiro, em comemoração aos seus 139 anos de existência, com comemoração nas áreas interna e externa da quadra da Escola de Samba Vitória Régia. Serão três dias de muita festa.

 

Foram montados palcos com sonorização, iluminação e banheiro químicos, apoio da Prefeitura de Manaus (ManausCult), para shows de Guto Lima, Uendel Pinheiro, George Japa, Xiado da Xinela, Felipes Sales, Afonso Lima entre outras atrações.

 

Um pouco de história: Ao longo de sua história teve três nomes (Conciliação, Fernandes Pimenta e 14 de Janeiro – ainda foi proposto, em 1917, a mudança para Praça Portugal, mas não vingou), mas 14 de janeiro foi em decorrência de um conflito armado que aconteceu neste dia, culminando com a deposição do governador Gregório Thaumaturgo de Azevedo.

 

No governo do maranhense Eduardo Ribeiro, vieram um contingente muito grande de pessoas daquele Estado, com a grande maioria ex-escravos que trouxeram a estátua de São Benedito, dando origem ao segundo quilombo urbano do país, o Quilombo do Barrando de São Benedito.

 

O meu irmão Henrique Martins, eu e meu outro irmão Rocha Filho frequentamos o Barranco de São Benedito, pois o nosso saudoso pai Rocha era negro e amigo do Nestor Nascimento, fundador do Movimento Alma Negra e descendente dos primeiros moradores do lugar.

 

O samba na 14 trabalha o ano inteiro, de janeiro a janeiro. É por isso que é conhecida como “O Berço do Samba”. O ponto maior é no carnaval, onde milhares de pessoas se juntam para formar e desfilar na avenida do samba com a Escola de Samba Vitória Régia.

 

Posso escrever laudas e laudas sobre o bairro da Praça 14 de Janeiro e não acabaria, pois é tema para um livro de 500 páginas e muito mais.

 

Somos festeiros, do samba, batuque, comemoração, dança, religiosidade, respeito e admiração das nossas tradições, somos da Praça 14 de Janeiro!

 

14 de Janeiro, um dia de festa e comemoração, aniversário do Bar Caldeira e da Praça 14.

 

Parabéns!