quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

AS PASTORINHAS DE MANAUS

Trecho do Livro E-book "Igarapé de Manaus, José Rocha", os interessados poderão obtê-lo no formato PDF por R$ 30,00 através do e-mail jmsblogdorocha@gmail.com  


Foto: Moacir de Andrade, livro Ruas e Fachadas de Manaus, 1969.

As pastorinhas era uma dança folclórica natalina introduzida pelos jesuítas em torno de 1.700. Era praticada em dezembro até a primeira semana de janeiro. Tinha a finalidade de catequizar e a teatralização do nascimento do menino Jesus Cristo (Auto da Natividade). No passado, a cidade de Manaus, ainda pacata, praticava esse festejo em vários cantos da cidade, sendo as mais conhecidas a Pastorinha do Luso, na Rua Tapajós e a Pastorinha Filhas de Maria, na Rua Major Gabriel, bem em frente ao Igarapé de Manaus. Todo o entorno do Igarapé de Manaus ficava em festa com a chegada do Natal. Tomava conta do sentimento de todos e as famílias levavam suas crianças para assistirem ao espetáculo.

        Além das pastorinhas com os seus cânticos, o mais esperado era sem dúvida o “Cão” que procurava desviar a atenção da Pastora Perdida da adoração de Jesus Cristo. Durante as apresentações surgia do chão numa explosão de fogo e cheiro de enxofre que estarrecia toda a molecada. Com enorme garfo preto, fazia muita criança correr em disparada buscando abrigo no colo dos adultos. Metia medo e sedução nos pequenos.


        Na hora da despedida, cantavam assim: “As Filhas de Maria já se vão embora, alegres e contentes ao romper da aurora, sempre contentes são filhas de Maria, resplandecentes, nós somos as filhas de Maria, as filhas de Maria já se vão embora, já não podem demorar, elas vão colher as rosas para Deus ofertar”.


        Existia uma bandinha, assim formada: Banjo (Da Cruz), Tambor (Morcego) e Triângulo (Naldo). Segundo o meu irmão Rocha Filho, o Da Cruz gostava de tomar umas e outras e, nesses dias, a bandinha ficava desfalcada, perdendo o brilho. Outro morador antigo, o Carlos Ramos Tiko, falou que a molecada do entorno gostava de compor cânticos, sempre na gozação, tirando saro das meninas que representavam as pastorinhas.

        Atualmente, ainda existem algumas pastorinhas, apresentando-se anualmente em diversos lugares, ora em pátios de igrejas católicas, ora em alguma praça da cidade, sem lugar específico. É pouco    divulgado. Acabou    o     brilho     como    de   outrora.    Existe um projeto do Presidente do Luso Sporting Clube, da Rua Tapajós, o Senhor Flávio Grillo, para voltar um dia a famosa “Pastorinha do Luso.      Vamos aguardar.

        No “Mundo Encantado do Natal”, edição de 2022, no Largo de São Sebastião, tive uma grata surpresa de assistir a apresentação das “Pastorinha de Borba”, um projeto idealizado por Otávio Di Borba, criado em 1997, então componente do “Grupo Carrapicho” e hoje faz parte do grupo musical “Raízes Caboclas”. Na ocasião, declarou a imprensa: “Nosso intuito é desenvolver com crianças, adolescentes, adultos e idosos a inclusão social, a autoestima, estimulação cognitiva e o fortalecimento da família para uma melhor qualidade de vida”.

Foto: Moacir de Andrade, livro Ruas e Fachadas de Manaus, 1969.