Por José Rocha
Era a segunda metade da
década de sessenta, lembro muito bem, tinha somente doze anos de idade, quando
fui morar na Vila Paraíso, bem próximo a Rua Tapajós. Por ser um adolescente
consciente, os meus pais me permitiam caminhar sozinho e, conhecer uma parte de
minha cidade que nunca dantes tinha visto em minha vida. Tudo era grande,
enorme, bonito e cheio de esplendor. Gostava de ficar sentado, aos domingos,
bem em frente ao portão do prédio da Academia Amazonense de Letras (nunca
adentrei até os dias atuais), onde outros colegas gostavam, também, de se
reunir e decidir onde iriamos jogar bola, ou na quadra do Luso Sporting Club,
ou no IEA ou Benjamin. Os que tinham mais grana compravam Cuias de Tacacá da
Dona Maria, onde todos davam umas goladas no fumegante tucupi, com direito
apenas a um camarão. A Dona Maria, também, conhecida como Dona Branca, gostava
de minha mãe Nely Fernandes, eram amigas, pois o seu irmão Teófilo era casado
com a irmã de minha mãe, a Tia Margarida. Todos os domingos, ela preparava um monte
de salgados e doces e pedia para eu levar para minha mãe. Bem em frente a
Academia ficava o Teatro Juvenil, onde é hoje a UNIP, onde gostava de
participar de um programa aos sábados, conhecido como “Confusão na Taba”,
apresentado pelo Paulo Guerra, onde muitos cantores amazonenses se
apresentavam, lembro do cantor Abílio Fatias e de uma moça muito bonita que
cantava muito bem, a Lili de Andrade. Participei da Juventude Franciscana,
comandada pelo Frei Fulgêncio Marcelly, depois foi um parque de diversão.
Lembro dos cantores e compositores Aníbal Beça e Celito. Naquela época comecei
a frequentar as Pastorinhas do Luso Sporting Club e jogar futebol na quadra que
ficava bem no meio do clube do Luso. Aos domingos era sagrado assistir as
missas na Igreja de São Sebastião, onde fiz a minha primeira comunhão e
participava dos festejos em homenagem ao santo guerreiro. A Praça de São
Sebastião era deserta, escura e metia medo quando andava por lá. Certa vez,
adentrei ao Teatro Amazonas, na calada noite, que na época estava abandonado.
Abri a porta principal e fui até a entrada onde ficavam as cadeiras de palinha,
curioso e com o coração batendo, olhei para o palco e vi pela primeira vez em
minha vida uma mulher seminua, com um par de seios as amostras, fiquei encantando
e os olhos arregalados, não com o teatro, mas com a jovem mulher, voltei outras
vezes e nunca mais a vi no palco. Aos domingos, naquela época, ia mais longe,
passeava pela Avenida Eduardo Ribeiro, olhando as vitrines e assistindo filmes
nos cines Avenida e Odeon. Hoje, continuo caminhando pela manhã, tarde e noite
pelo mesma rua e entorno, os prédios continuam os mesmos, mas nada oferecem
mais, somente memórias de um passado distante.
É isso aí.