sábado, 28 de janeiro de 2023

MEMÓRIAS DE UM PASSADO DISTANTE - PARTE I


 

Por José Rocha

Era a segunda metade da década de sessenta, lembro muito bem, tinha somente doze anos de idade, quando fui morar na Vila Paraíso, bem próximo a Rua Tapajós. Por ser um adolescente consciente, os meus pais me permitiam caminhar sozinho e, conhecer uma parte de minha cidade que nunca dantes tinha visto em minha vida. Tudo era grande, enorme, bonito e cheio de esplendor. Gostava de ficar sentado, aos domingos, bem em frente ao portão do prédio da Academia Amazonense de Letras (nunca adentrei até os dias atuais), onde outros colegas gostavam, também, de se reunir e decidir onde iriamos jogar bola, ou na quadra do Luso Sporting Club, ou no IEA ou Benjamin. Os que tinham mais grana compravam Cuias de Tacacá da Dona Maria, onde todos davam umas goladas no fumegante tucupi, com direito apenas a um camarão. A Dona Maria, também, conhecida como Dona Branca, gostava de minha mãe Nely Fernandes, eram amigas, pois o seu irmão Teófilo era casado com a irmã de minha mãe, a Tia Margarida. Todos os domingos, ela preparava um monte de salgados e doces e pedia para eu levar para minha mãe. Bem em frente a Academia ficava o Teatro Juvenil, onde é hoje a UNIP, onde gostava de participar de um programa aos sábados, conhecido como “Confusão na Taba”, apresentado pelo Paulo Guerra, onde muitos cantores amazonenses se apresentavam, lembro do cantor Abílio Fatias e de uma moça muito bonita que cantava muito bem, a Lili de Andrade. Participei da Juventude Franciscana, comandada pelo Frei Fulgêncio Marcelly, depois foi um parque de diversão. Lembro dos cantores e compositores Aníbal Beça e Celito. Naquela época comecei a frequentar as Pastorinhas do Luso Sporting Club e jogar futebol na quadra que ficava bem no meio do clube do Luso. Aos domingos era sagrado assistir as missas na Igreja de São Sebastião, onde fiz a minha primeira comunhão e participava dos festejos em homenagem ao santo guerreiro. A Praça de São Sebastião era deserta, escura e metia medo quando andava por lá. Certa vez, adentrei ao Teatro Amazonas, na calada noite, que na época estava abandonado. Abri a porta principal e fui até a entrada onde ficavam as cadeiras de palinha, curioso e com o coração batendo, olhei para o palco e vi pela primeira vez em minha vida uma mulher seminua, com um par de seios as amostras, fiquei encantando e os olhos arregalados, não com o teatro, mas com a jovem mulher, voltei outras vezes e nunca mais a vi no palco. Aos domingos, naquela época, ia mais longe, passeava pela Avenida Eduardo Ribeiro, olhando as vitrines e assistindo filmes nos cines Avenida e Odeon. Hoje, continuo caminhando pela manhã, tarde e noite pelo mesma rua e entorno, os prédios continuam os mesmos, mas nada oferecem mais, somente memórias de um passado distante.

É isso aí.