Os boêmios manauaras mais
antigos gostam de lembrar os clubes dançantes e dos lupanares (conhecidos como
puteiros) de outrora, onde enchiam a cara, dançavam e passavam a régua nas
primas – dentre eles, o Clube Acapulco aparece um pouco mais em suas reminiscência
– esse clube fora nos dez primeiros anos um luxuoso cassino, frequentado pela fina
e requintada sociedade amazonense.
Ficava na antiga Rua
Recife (atual Avenida Mário Ipiranga Monteiro), nas proximidades da atual sede
do DETRAN-AM – era o “point” de Manaus -naquela época, era um lugar longínquo,
de difícil acesso, pois ficava praticamente dentro da mata.
O proprietário chamava-se
Mário Oliveira que, segundo relatos, era uma pessoa benquista pelos seus
funcionários, pois distribuía bônus advindos dos lucros das mesas de baralho
(Bacará) e da Roleta – o crupiê era o Senhor Petruccio, pai dos irmãos Piolas
(jogadores famosos em Manaus).
Naquelas imediações ficavam
os balneários da Estrada do V8 (atual Avenida Efigênio Sales) e do Parque Dez
de Novembro (bem em frente ao Acapulco), todos banhados pelo Igarapé do Mindú
(atualmente, um esgoto a céu aberto).
O ACA como era conhecido
pelos seus frequentadores, começou a funcionar em 1958 - teve o nome em
homenagem a uma cidade turística mexicana, Acapulco, palco de um belo filme (1963)
estrelado pelo cantor norte-americano Elvis Presley.
Era frequentado,
inicialmente, pela alta“finesse”, pois o clube era muito chic (de bom gosto e requintado), com restaurante e bar de
primeira, salões de dança, orquestra própria, além de apresentação de cantores da
terra, Luiz Carlos Mello (Tical, a Voz
de Ouro ABC) e o Luiz da Conceição Souza Pinto (Little Box, o Caixinha) e, de renome
nacional, Dalva de Oliveira, Cauby Peixoto, Ângela Maria, Edith Veiga, Agnaldo
Rayol, dentre outros.
Ali funcionava, também, um
magnifico cassino (atividade mais rendosa para o dono), com um belo salão para
os jogos de azar, onde a jogatina corria solta, responsável pela ruína de muita
gente, inclusive, dizem que o próprio dono tornou-se um viciado em jogos.
Existia somente uma linha
de ônibus nos finais de semana, para as famílias usufruírem do fabuloso
balneário do Parque Dez – aqueles que desejassem frequentar, à noite, o Clube Acapulco,
o acesso era somente através de automóveis particulares ou com os choferes de
praça (táxi).
Certa vez, folheando o
jornal “A Crítica”, de Dezembro de 1959, na Biblioteca Pública do Amazonas,
encontrei um anúncio do Acapulco Clube:
“Amanheça
com sua família o ano novo na mais bonita “boite” do Brasil “ACAPULCO” que lhes
proporcionará – ambiente, conforto, diversões, luxo e um perfeito serviço de
bar e restaurante. Com a participação de ALCIDES GERARDI – lançando músicas
novas do Carnaval de 60. Nos dias 1º. e 2 de Janeiro exibir-se-á a grande
orquestra de GUIÃES DE BARROS. DIA 2 SÁBADO – 1º. GRITO DE CARNAVAL –
Espetacular – Fabuloso – Estupendo – Sensacional. NOTA: a Direção do NIGHT CLUB
ACAPULCO avisa que permitirá durante a temporada carnavalesca traje esporte
decente em todas as suas dependências. Para evitar desagradáveis contrariedades
não se façam acompanhar de criaturas não recomendáveis”.
Lendo esse anúncio é
possível verificar que o clube era familiar, luxuoso, dotado de bar e
restaurante finos, orquestra de primeira, onde somente no carnaval, era permitido
o traje esporte “decente” em todas as suas dependências e,barrando a entrada de
“criaturas não recomendáveis” (leiam-se, prostitutas, lisos e bagunceiros).
Dizem que, o administrador
do clube gostava de frequentar as rodadas de jogos de baralhono Ideal Clube
(grêmio de elite de Manaus, situada na cabeceira da Avenida Eduardo Ribeiro),
um vício que levou muito gente de bem à falência.
No Brasil, os cassinos
foram legalizados por Getúlio Vargas, em 1938 – sendo proibido no Governo de
Erico Gaspar Dutra, em 1946, permanecendo até hoje a vedação em todo o
território nacional, dessa forma, o Acapulco funcionava de forma ilegal.
Na década de setenta, o
Acapulco já estava em decadência, não era mais aquele clube luxuoso de dez anos
atrás –fechou as portas - dizem os historiadores que o dono perdeu o imóvel
numa mesa de jogos.
Depois, foi reaberto
apenas como boate, virando um lugar onde as pessoas gostavam de beber, dançar e
pegar as primas que invadiram o local, sendo preferido pelos jovens e
adolescentes manauaras – não existiam quartinhos para os casais, como era comum
nos ditos “puteiros” da cidade – fechou em definitivo em 1976.
Acabou-se o Acapulco Night Clube - ficando apenas na
memória dos mais velhos aqueles tempos bons! É isso ai
Jornal A Crítica, edição
de dezembro de 1959
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