Conheci o médico Rogélio
Casado no Bar do Armando, centro antigo de Manaus, tornamos amigo por termos
algumas coisas em comum: o amor pelo carnaval de rua da BICA, pela fotografia,
por fusquinha e pela nossa cidade Manaus.
Durante longos anos frequentamos
todos os finais de semana,o famoso Bar do Armando, no Largo de São Sebastião,
onde o papo corria solto, regado com muita cerveja.
Ele era um intelectual, conhecia
de tudo um pouco – juntamente com outros literatos conversava sobre diversos
assuntos – eu ficava apenas ouvindo as suas argumentações - acredito que passei
por uma verdadeira academia, onde fui motivado a me interessar mais por
leituras, filmes, musica e teatro e,a gostar da história da nossa cidade.
Chamava muito atenção o
seu visual: cabelos compridos e barba, sempre usando jaqueta e camisa de manga
comprida, mesmo a despeito do calor elevado de Manaus; sempre carregando uma
mochila e uma máquina fotográfica com alça de pescoço, além de dirigir uma
motocicleta de alta cilindrada – nem parecia que era um manauara da gema.
Certo dia apareceu no Bar do
Armando com um fusquinha todo reformado – ele falou que aquele fora o seu
primeiro automóvel, o companheiro dos tempos difíceis de estudante de medicina
na antiga Universidade do Amazonas (atual UFAM).
Após a sua formatura,
vendeu o seu velho fusca guerreiro – muito ano depois o reencontrou em uma
oficina mecânica, estava num estado lastimável, não titubeou em comprá-lo de
volta, pois ele tinha um valor sentimental imenso.
Tinha o hábito de
fotografar as pessoas nos eventos que aconteciam com frequência no nosso bar e
nos desfiles da Banda Independente da Confraria do Armando (BICA).
Em 2005, ele me informou
que algumas fotografias estariam disponibilizadas em seu blog PICICA, dando-me o endereço do seu site.
Ao acessar o blog spot, notei que poderia fazer o meu
próprio blog, de forma gratuita, foi assim que comecei a escrever no BLOGDOROCHA, graças ao incentivo do
Rogélio Casado – em 2009 fiz uma postagem em sua homenagem, no endereço http://jmartinsrocha.blogspot.com.br/2009/05/rogelio-casado.html?spref=fb
Ele leu as vinte primeiras
páginas de um livro que ainda estava escrevendo (ainda não publicado) – notei
que ria das peripécias do Zé Mundão
(o personagem principal) – isso me motivou a escrever mais oitenta laudas.
Certa vez, combinamos num
domingo em fazer uma visita ao destruído “Complexo
da Booth Line” – entramos no seu interior, a impressão era de que estávamos
dentro de uma cidade bombardeada.
Aquilo nos deixou pasmos e
revoltados com o crime cometido pela família Di Carli, administradores do Porto
de Manaus(Roadway) – uma manobra espúria do então governador Amazonino Mendes, que não mediu esforços
para amarrar um contrato que permitiu a eles ficarem até hoje, mandando,
desmandando e destruindo parte da nossa história.
Nesse dia, encontramos um
professor de história de uma faculdade particular, juntamente com os seus
alunos, para mostrar o descuido dos governantes com aquele patrimônio
histórico.
Fizemos uma rodinha, onde
o nobre Rogélio Casado falou que o seu pai, o Comandante Rogélio Casado, um paraense que trabalhava nos navios da
empresa Booth Line Company Limited,
fazendo linha Belém-Manaus, por aqui se estabeleceu e casou com a sua mãezinha,
a amazonense Tereza Marinho - o que mais o deixava injuriado era a destruição
criminosa do prédio onde o seu genitor tinha trabalhado, deixaram em pé somente
a fachada da Booth Line.
Certa vez, fui assistir a
uma palestra do Ministro Marco Aurélio,
do Supremo Tribunal Federal (STF), no
antigo auditório da Universidade do
Estado do Amazonas (UEA), na Avenida Djalma Batista – o evento era solene -
fazia parte da mesa das autoridades o Dr. Rogélio Casado, ela estava de beca,
pois representava a universidade na qualidade Pró-reitor – no término do
evento, ele veio me cumprimentar, o que me deixo muito feliz pela sua
consideração.
Tempos depois, uma empresa
do sul do país, com parceria do Grupo
Simões (Coca-Cola & Cia), com o aval da SUFRAMA, estavam dispostos a implantar de qualquer maneira o Porto das Lajes, no Encontro das Águas.
Eu e o Rogélio Casado
fizemos parte do Movimento S.O.S.
Encontro das Águas, sob a coordenação do professor da UFAM, o sociólogo
Ademir Ramos – fizemos muitos protestos no local e nas redes sociais,
contribuindo, em parte, para a vitória do movimento, tornando o nosso fabuloso
encontro dos rios Negro e Solimões
como Patrimônio Paisagístico do Brasil,
não permitindo a implantação daquele empreendimento que iria comprometer e
poluir totalmente aquela obra da natureza.
No sábado magro do
carnaval de 2016, eu e o Rogério Casado estávamos no palco armado da nossa
querida BICA, no Bar do Armando – fiz
a apresentação dos trinta anos de apresentação da nossa banda de rua – ele fez
todos os registros fotográficos dos foliões que brincavam dentro do bar – foi a
última vez que falamos pessoalmente.
Dai em diante ficamos nos
correspondendo através do Facebook –
lamentei muito o falecimento da amada esposa - acredito que não faz nem um mês
e, na terça-feira, recebi a notícia do seu passamento!
Lamento muito ter perdido
o meu amigo de longas datas! É isso ai.
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