O Zé sempre foi um cara
muito ruim de bola e não entende nada de futebol de campo, porém, em se
tratando de Copa do Mundo, a coisa toda muda de figura, tanto que antes de
iniciarem aos jogos, gosta de fazer as compras alusivas ao evento, no centro da
cidade, nas lojas do “Shopping Center Bate Palmas", na Rua Marechal
Deodoro.
Num certo ano de disputa
da Copa Mundo, foi às compras:
- Três dúzias de bandeirolas, duas dúzias de
Cornetão, duas dúzias de pulseiras, dez camisas do Brasil, tamanho M e GG, oito
sacolas com o pavilhão brasileiro, 50 bandanas e 10 perucas nas cores do
Brasil!
A vendedora toda
sorridente, perguntou:
- Qual a forma de pagamento? Ele, gaiato como
sempre, mandou ver:
- À vista, no monte, na "babita",
carvão vivo, minha santa! E dá prá conseguir aquele descontão?
Ligou para um motorista
chamado de "Walderir", um taxista “Jacaré” (que não é vinculado a
nenhuma cooperativa) que faz ponto por mais de duas décadas lá pelas bandas do
Bar Caldeira, no centro antigo.
O Zé tem um bom coração,
aquelas compras foram distribuídas para os filhos, vizinhos, colegas e amigos.
Ele passou uma semana ajudando o pessoal da comunidade do Beco da Bosta - foram
noites em claro, pintando, subindo em muros para colocar as bandeirolas, deu
até um pulo até a campeã das Copas, a Rua Santa Isabel, para copiar alguns
enfeites. Ficou a pensar:
– Gastei a minha grana nas
compras do material e o meu precioso tempo na arrumação da Rua, será que vai
valer a pena?
Chegou o grande dia, a
nossa seleção canarinho entra em campo, o Zé tinha inúmeras opções para
assistir ao jogo: Rua Santa Isabel, Ponta Negra, Eldorado e na sua Comunidade –
não foi nenhuma delas, pois o Zé somente se levantava para ir à latrina e
voltava para a sua cama, estava numa “fininha” que fazia dó!
O pessoal da comunidade
gosta muito dele, pois o cara é uma figura, faz a festa, mas desta vez não deu,
teve que colocar uma TV de 14 polegadas bem perto da sentina!
Não podia nem gritar gol,
senão...!
No segundo jogo, foi
assistir na Rua Isabel, em companhia de vários amigos de trabalho – o local é o
mais enfeitado e animado de Manaus, onde o samba corre solto, com diversas
bandas musicais se apresentando, muita mulher bonita e dezenas de barracas
armadas por toda a extensão da rua – a seleção brasileira ganhou novamente e, o
Zé mundão brincou até de madrugada, faltando ao trabalho no dia seguinte.
No dia seguinte, o pessoal
da comunidade foi logo cercando o cara, um mais afoito gritou:
- Zé tu és mesmo um fuleiro! Deu o maior duro
com a gente na ornamentação da Rua e vais assistir em outro lugar, sai pra lá
Traíra!
O Zé prometeu que no
próximo jogo iria assistir com eles, promessa feita e, não cumprida!
No terceiro, resolveu ir
ao Bar do Armando - logo no início no jogo, deu um berro, chamou aquele
palavrão, o dono do Bar, o português Armando, passou aquele ralho no Zé:
- Ô caralho! Tu não sabes
assistir ao jogo calado, porra! Vocês, brasileiros, gostam de ficar gritando o
tempo todo, o jogo é para assistir caladinho e comemorar apenas quando se faz
um gol a favor!
O português foi mexer logo
com quem - o Zé tirou de dentro da camisa um Cornetão, encheu o peito de ar e
soltou um barulho de estremecer o pedaço!
Pensou com os seus botões:
- Este gajo vai me expulsar agora!
Qual nada, o portuga
entrou no clima, inclusive distribuiu para os torcedores um monte de apitos,
ficou uma atmosfera de Brasil, muito barulho, cervejas e palavrões, tipo padrão
Zé Mundão!
Ele somente assistiu ao
jogo na sua Comunidade nas Quartas-de-final, onde o jogo é tudo ou nada, pois
no caso de derrota pode voltar para casa.
Os nervos ficaram na flor
da pele antes da partida, mas, como todo bom brasileiro, os vizinhos se
enfeitaram nas cores da bandeira brasileira, fizeram a cota para o churrasco,
fogos de artifícios e das bebidas, improvisaram um “Bolão” e reuniram vários de
instrumentos de percussão para a festa.
Tudo em vão, pois a
seleção brasileira perdeu a partida, provocando uma tristeza generalizada –
mesmo assim, o Zé Mundão ficou na companhia de outros vizinhos, bebendo e
comendo churrasco, mas numa condição de que ninguém iria mais falar de seleção
brasileira e muito menos, de Copa do Mundo.
Não tiveram como fugir do
assunto, passaram o tempo todo comentando sobre a partida, o que gerou muito
bate-boca e confusão – o Zé teve que voltar correndo para a sua casa para
evitar brigas corporais com os mais exaltados.
Toda Copa de Mundo de
Futebol é assim, os brasileiros não sabem perder, somente vitórias é o que
interessa a todos.
Certa vez, o Zé Mundão
estava em Parintins para assistir a festa dos bois bumbás, calhando com a
realização de uma copa mundial.
Foi assistir a uma partida
num boteco, a seleção brasileira perdeu a partida e foi desclassificada – após
a partida, todos estavam tristes e enfurecidos e, o Zé mundão foi tirar graça
com um ambulante que estava carregado de mercadorias com os motivos da seleção
brasileira, falou que o sujeito ia ficar “boiado” (encalhado com as vendas), o
vendedor misturou a raiva com a derrota com o prejuízo que ia ter e, saiu em
disparada atrás do Zé para dá-lhe uns safanões, merecidamente.