Quando estamos na
safra do Caju (noz que se produz, na língua Tupi), nos meses de outubro e
novembro, encontramos o fruto “in natura” em todos os lugares, até pelos
ambulantes nos cruzamentos das ruas de Manaus e, em alguns lugares, a produção
e a oferta são tão grandes que chega a “fazer lama”.
É rico em vitamina C
e, por incrível que pareça, o fruto é exatamente “a castanha do caju”, sendo
aquela parte suculenta com a cor amarela, rosada ou vermelha, conhecida como o
pseudofruto (pedúnculo).
Existe o tipo grande
e o anão, sendo este o mais produtivo; aliás, o maior produtor do Brasil é o
Estado do Ceará, contribuindo grandemente com a exportação da
castanha. Com o caju é possível fazermos sucos, mel, doces, a cajuína e até
aguardente (eba!) - no mês de novembro é realizado a Festa do Caju, em
Barreirinha, no interior do Amazonas.
A turma do “pé
inchado” adora um tira-gosto de caju com sal; os mais abastados preferem a
castanha do caju industrializada. Na Rua Igarapé de Manaus, centro, existia um
sujeito chamado Tontonho, ele passava
o dia todo passeando com o seu famoso kit: um engradado de madeira, contendo
uma garrafa de cachaça, cigarros e fósforos, um velho rádio a pilha, um
guarda-chuva, sal e vários cajus (na safra).
Certo dia, sua
mãezinha fez um sério pedido ao filho:
- Escuta aqui, Tontonho: deixa de beber de uma
vez por todas, senão tu vais morrer de cirrose, tenha dó meu filho!
O filho respondeu
choramingando:
- Eu vou deixar de beber sim, minha mãe, mas
somente após a safra do caju! Só não falou qual a
safra do ano que ele iria parar de beber!
Faz alguém tempo
atrás (coloque tempo nisso!), fiz uma viagem para o interior do Estado, fui
acompanhado do meu compadre Acácio. Atravessamos na balsa de Manaus-Cacau
Pirêra; pegamos a estrada Manoel Urbano, dirigindo uma Brasília, é isso mesmo
um carro Brasília (aquele com o motor atrás e que fez muito sucesso com os “Mamonas
Assassinas” - Minha Brasília Amarela); seguimos até a comunidade do Caldeirão,
no Iranduba, deixamos o carro por lá (uma ponte estava inundada, não permitindo
a passagem do nosso carro); pegamos uma carona num barco de um político, o
caboco safado nos deixou bem longe da comunidade; o percurso foi feito à pé, no
trajeto encontramos um casa/bar com inúmeros pés de cajueiros em plena safra,
beleza!
Fui logo detonando:
– Por favor, a senhora pode nos servir duas
doses de cachaça, tamanho “marítima”!
E em seguida:
- Posso pegar alguns cajus para tirar o gosto?
Ela respondeu:
- Pode
pegar quantos vocês quiserem, aqui está fazendo é lama!
E, em seguida, perguntei acanhado:
-
É prá levar, posso?
Ela respondeu:
– Pode levar o quanto vocês puderem!
Conseguimos duas
caixas de papelão e, começamos a pegar os mais “parrarudos”. Seguimos caminho,
abre porteira, fecha porteira, nada de chegar, não aguentava mais, a minha
caixa estava cada vez mais pesada, o pescoço estava todo dolorido, resolvi
jogar a minha caixa na beira do rio; passamos a revezar a outra caixa; estava
ficando noite quando chegamos à casa dos tios do meu compadre.
Ao chegar, fui logo
comentado:
– Tia Maria, conseguimos trazer apenas uma
caixa de caju, a outra tivemos de jogar fora, pois não aguentamos de tanto peso
na moleira.
Ela respondeu:
–
Não carecia não meus filhos, no terreno do meu primo Raul tem caju fazendo
lama, estamos na safra do Caju mermo!
Essa foi prá acabar! Lamentei:
-
Aí Rocha, que leseira baré, estamos em plena safra do caju, para que carregar
tanto peso, sou um leso mesmo!
Estou no aguardando
outubro chegar, pois quero matar a saudade de uma cachacinha, tirando gosto na
Safra do Caju! Eu, hein!
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