O aparelho de
radiodifusão, o popular rádio, foi uns dos meios de comunicação que fez muito
sucesso em décadas passadas, pois era o único meio de entretenimento da
população de Manaus - era a válvulas (em torno de cinco) um dispositivo elétrico
antecessor dos circuitos elétricos (CI) e, levavam um bom tempo para
“esquentar” (conhecido como rabo quente) quando era ligado, o que demandava um
pouco de paciência do caboco para
poder ouvir a sua emissora e o programa radiofônico preferido.
Um das lojas
especializadas em revenda desses aparelhos era a loja Benchimol e Irmãos Ltda.
(atual Lojas Bemol) – eles dispunham de todos os tamanhos, porém, o mais
desejado era o da marca General Eletric
(GE), tinha um nome bonito “Rádio-Transistor de Mesa Espacial G-E”, com um som
de ótima qualidade, sem aquele famoso “chiado”, funcionando com energia
elétrica ou a pilhas (geralmente com seis pilhas de lanterna), dando para ouvir
por uns quinze dias.
O gabinete (o invólucro, a
parte externa) era bem trabalhado, com uma beleza de acabamento sem igual, era
uma verdadeira “obra de arte” - geralmente juntavam partes de madeira, aço
inoxidável, telas e plástico – tinha três botões, para ligar e desligar,
sintonizador (somente existia a AM) e de tom (grave e agudo), além de uma
antena de quadro (ficava na parte traseira, de madeira enrolado numa bobina em
forma de quadro).
Esses rádios eram tão
bonitos que, hoje, são ainda disputados pelos colecionadores dessas relíquias –
os fabricantes possuíam todo um zelo e bom gosto no acabamento desses
aparelhos, pois além da sua funcionalidade, fazia parte da decoração da sala de
estar da casa do consumidor.
A nossa família possuía um
desses, ele passava de segunda a sábado na oficina de violões do meu saudoso
pai, o luthier Rochinha – aos domingos ficava em nossa casa, para o deleite da
família “nas ondas do rádio” – era
grande e pesado, do tamanho de um aparelho antigo de TV de 20 polegadas.
Quando dava problema, as pessoas certas para consertá-lo eram dois amigos da nossa família, o português Olavo, ele trabalhou durante anos para o dono da TV Lar - o outro, era o Senhor Anubio (conhecido
pelo apelido de Caçapa), um rádio técnico dos mais respeitados de Manaus, ele
possuía uma oficina no centro da cidade e, trabalhou no ramo até se aposentar,
na Rua Tapajós. Até hoje falo com ele, pois é meu vizinho, inclusive, tenho uma
válvula que ganhei para poder lembrar os antigos rádios.
Quem conhece muito bem a
história do nosso “rádio a válvulas” é o meu irmão mais velho, o Contador Rocha
Filho:
“O rádio era estrangeiro, mas não lembro a marca. Foi comprado de um
Diretor da Associação Comercial que não me recordo o nome, ainda na oficina do
flutuante na Rua Igarapé de Manaus, pois o rádio que ele possuía não
pegava a Rádio Globo, do Rio de Janeiro, nem a rádio Tupy e dos Diários Associados,
se não me engano de Recife, que eram as melhores da época. Depois da transação
o velho aumentou a caixa de madeira e os auto-falantes, deixando o mesmo com
uma nitidez muito boa, embora sintonizado nas rádios de fora do Amazonas.
Quando ligava o rádio, demorava uns 5 minutos para entrar no ar, pois era à
válvulas, que hoje não existem mais.
Os programas preferidos do velho eram os musicais da época (boleros e
sambas canção), notícias pela manhã (muito cedo), Cidade Contra o Crime e o
repórter Esso da Rádio Globo. Às 17 horas todo mundo ouvia as novelas
radiofônicas, e ia muita gente para a Oficina, principalmente as
mulheres, para acompanhar as grandes novelas da época.
Quando tinha jogo no Rio de Janeiro, tipo FLA x FLU ou Botafogo do Mané
Garrincha já na década de 60 (sessenta) eu sintonizava na Rádio Globo, mas o
velho desligava, pois não gostava de futebol.
O rádio ainda foi para a Oficina da Huascar de figueiredo, no porão do
Sr. Bríngel, depois de alguns anos desapareceu, porém não sei se parou de
funcionar de vez, ou se o velho vendeu para alguém, pois o mesmo era muito
cobiçado pelas pessoas”.
Os rádios a válvulas ainda podem ser encontrados
nos sites de venda, alguns deles chegam a valer mais de mil reais, o preço de
um “Home Theater” de qualidade. Por serem bonitos, dando um aspecto retrô ao ambiente e, por lembrar o nosso
passado, eles ainda estão na moda! É isso ai.
Foto: Rocha - jornal antigo, comercial da década de 60, acervo da Biblioteca Pública do Amazonas.
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