A
Revolução Gymnasiana de 1930, também chamada de “Motim
Gymnasiano” e “Agostada Gymnasiana”, teve como figura principal o jovem Mário
Ypiranga Monteiro, considerado como “o líder espiritual da Revolução
Estudantil”.
O colégio onde ocorreu essa marcante e histórica atuação, recebeu diversas denominações ao longo dos anos: Lyceu Provincial, Gymnasio Amazonense, Gymnasio
Amazonense Dom Pedro II (1925, em homenagem ao último Imperador do Brasil),
Gymnasio Amazonense (1938), Colégio Estadual do Amazonas (1943), Unidade Educacional Colégio Estadual do
Amazonas (1971),Colégio Estadual Dom
Pedro II (1975), Escola de 1º. e 2º.
Grau Dom Pedro II (1980) e Colégio
Amazonense Dom Pedro II (1982).
Inicialmente, o Mário Ypiranga entrou na
qualidade de Piolho ou Carrapato de Bicho
(Ouvinte), em 1925, depois, passou por todos os anos, assim apelidado pelos
gymnasianos: Bicho – 1º. Ano; Bicho Pipoca
– 2º. Ano; Merda de Veterano – 3º.
Ano; Veterano de Merda – 4º. Ano e Veterano – 5º. ano – concluindo o curso
em 1930.
Era um aspirante a
intelectual do seu tempo, reunindo as qualidades para ingressar no campo
político, no entanto, ao fazer parte ativa nesse movimento político-estudantil demonstrou revolta ou incompreensão sobre o campo político – começou a
depositar em sua alma a odiosidade contra os ladrões do erário público, o que o
levou a optar mais tarde, definitivamente, pela carreira intelectual.
No dia 11 de agosto de 1930, foi
realizada uma passeata de repúdio contra o assassinato, ocorrido em 26 de julho,
do presidente da Paraíba, João Pessoa,
candidato a vice-presidência da República, na chapa de Getúlio Vargas, pela Aliança
Liberal.O movimento tinha fins políticos e, por trás dos gymnasianos
estavam os dirigentes da AL, o Dr. Souza Brasil e Hemetério Cabrinha, que iriam discursar no comício.
O evento foi autorizado pela
Chefatura de Polícia, o Dr. Martins Palhano, para ser realizado na Praça da
Saudade e, momentos antes do início, foram impedidos, cercados pelo “piquete da
cavalaria” de guardas e agentes da Policia Civil, tendo sido presos alguns
estudantes por “distúrbios e resistência”, pelo Delegado João Cruz Camarão,
autoridade policial da época.
No dia seguinte, 12 de
agosto, os gymnasianos intencionaram realizar mais uma manifestação, com o
objetivo de fazer um “enterro simbólico” do chefe da polícia – apesar do
sigilo, um delator avisou a polícia sobre a pretensão dos estudantes – o
“point” deles era “A Sereia”, um estabelecimento que vendia chocolate com creme, doces, sanduíches, sorvetes, caldo de cana, refrescos, bebidas
nacionais e estrangeiras, leite, cigarros e charutos - ficava na esquina da Rua
Rui Barbosa com a Avenida Sete de Setembro.
O local foi cercado por
alguns policiais, onde foi encontrado um caixão e dentro dele um urubu,
simbolizando a “alma do delegado” - a manifestação acabou não se realizando, entrando
novamente os estudantes em choque com a polícia, sendo presos e recolhidos ao
xadrez os jovens Mário Ypiranga Monteiro,
Francisco Paes Barreto da Silva e Francisco Benfica, onde permaneceram até
às 21 horas, sendo soltos graças a um ultimatum
enviado pelo Exército à Polícia.
Os outros correram e
conseguiram se abrigar dentro do Gymnasio Amazonense, fechando os portões da
frente - ao verem os guardas de revolveres em punho e tentando invadir o
colégio, os alunos que estavam amotinados arrebentaram a “Arrecadação”, uma
dependência que ficava atrás da Portaria, onde havia oito cabides para fuzis,
modelo brasileiro 1908, alguns descalibrados, dez caixotes de balas de aço pontiagudas
nos respectivos pentes e alguns cunhetes de festim.
Trocaram tiros, mas, segundo
relatos do Gymnasianos, eles utilizaram apenas as balas de festim, por outro
lado, os guardas civis mandaram balas de verdade, inclusive, ficou a porta
principal cheia de marcas dos projéteis – houve apenas uma morte, foi de uma professora
da Escola Normal (ficava no andar de cima do Colégio), ela veio a falecer em
decorrência de uma queda.
O Gymnasio Amazonense era
regido por um estatuto aos moldes do Colégio Militar D. Pedro II, do Rio de
Janeiro. Os estudantes-reservistas recebiam treinamento militar, com rigoroso
exame de tiro real, aprendia a manejar o fuzil e a metralhadora, treinavam para
saberem montar e desmontar de forma rápida as armas automáticas, possuindo
obrigações tão importantes como as de um soldado regular.
Apesar da rigidez do
colégio, os estudantes usavam a farda praticamente em todos os lugares e
ocasiões - onde eram respeitados pelos homens e admirados pelas mulheres -
aproveitavam para fazerem “arruaças” em bares, praças, ruas e até em barcos que
ficavam ancorados no Rodoway. Batiam forte contra aqueles que contrariavam em
seus desejos e objetivos. Andavam de bondes na linha Flores, para tomarem
banhos no Bosque Municipal e, se recusavam a pagar a passagem e ainda
insultavam os cobradores - quando foram impedidos pela empresa Manáos Tramways,
começaram a colocar pedras, sebos e vidros nos trilhos, com o propósito de descarrilar os
carros. Os Gymnasianos eram “Phoda”!
Esse movimento de 12 de
agosto de 1930 foi um símbolo de resistência e do protesto de estudantes e
professores contra a arbitrariedade e o abuso de poder, culminando com o
envolvimento do Exército e a rendição da Polícia e a deposição do governador
Dorval Porto. Esses mesmos jovens escoltaram o governador do Palácio até as
dependências do Grande Hotel, onde ficaram hospedados – foi um momento de
glória para os estudantes Gymnasianos.
Passados mais de meio século
do ocorrido, o Mário Ypiranga escreveu o livro “Mocidade Viril 1930: O Motim Ginasiano”, buscando em suas memórias
e registrando para a posterioridade detalhes daquele movimento em que foi parte
ativa.
Fonte: trabalho de Dissertação da Elissandra Chaves Lima,
apresentado ao Programa de Pós-Graduação em História da UFAM
Um comentário:
NO FINAL DA DÉCADA DE 50 HOUVE UMA "GUERRA" DE PEDRADAS ENTRE DUAS ESCOLAS DE QUE PARTICIPEI - CREIO QUE FOI O MEU GINASIO CONTRA O DOM BOSCO - A COISA FOI MUITO FEIA, MAS RÁPIDA, E HOUVE FERIDOS...
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