Êpa, para ai! Não é o que vocês estão
pensando! Estou me referindo ao pão, consumido todo dia, sendo o tipo francês a
preferência dos brasileiros e, esse alimento diário, não possui outro que o
substitua – pode inventar tapioca, cuscuz, bolachas, biscoitos e o que o caboco quiser, sem o nosso pão francês não
dá para passar sem ele.
Existe uma infinidade de pães, sendo os mais
conhecidos o árabe, de forma, de alho, integral, de queijo, de centeio, doce e
de milho. Mas, por que o “pão francês” vingou? Tudo remete a cultura dos
brasileiros em sempre valorizar e gostar do que vem de fora.
É isso mesmo, tudo começou no início do
século XX quando os brasileiros da próspera burguesia voltavam de temporada de
estudos em Paris e, pediam para reproduzir a receita do pão de lá, com o miolo
branco e casca dourada, um precursor do baguete
- naquele tempo, o mais consumido no Brasil era o do tipo italiano, com miolo e
casca escuros.
Na realidade, surgiu na terra tupiniquim o “pão
francês brasileiro”, diferente um pouco do europeu, levando um pouco mais de açúcar
e gordura em sua composição, recebendo vários apelidos pelo Brasil afora:
pãozinho (São Paulo), pão massa grosa (Maranhão), cacetinho (Rio Grande do Sul
e Bahia), pão careca (Pará), média (Baixada Santista), pão Jacó (Sergipe), pão
aguado (Paraíba), pão carioquinha (Ceará).
Aqui, em Manaus, não possui apelido - sendo o
pão de “meio quilo” dominado por muito tempo, depois, foi substituído pelo baquete e, finalmente, pelo nosso “pão
francês” de todos os dias.
Falar em pão de antigamente,
vem logo à lembrança os portugueses e as padarias - esses estabelecimentos da
nossa antiga Manaus, sem exceção, eram tocados por lusitanos e seus
descendentes - sabemos que o termo vem do latim “pada = panata, de pane, pão
pequeno” e “aria = atividade de”, ou seja, local em que se dedicavam a fabricar
e vender pães, bolachas e biscoitos.
O periódico “Amazônia
Jornal”, um bi mensário de propriedade do Sr. Raimundo Nonato Garcia Filho,
tinha como redator o Sr. David J. Israel e, na sua edição de 9 de Fevereiro de
1948, mostra o comercial de todas as padarias que existiam naquela época.
As padarias eram as
seguintes:
Fábrica Victoria – de Loyo
& Cruz – situada a Avenida Eduardo Ribeira, 490 canto com a Rua Saldanha
Marinho – “Neste estabelecimento tem sempre pão de todas as qualidades,
biscoitos finos, bolachas e mais artigos próprios desse ramo de negócio, pelos
melhores preços do mercado”;
Fábrica Francfort – de
Marques Matias & Ca. Ltda. – situada a Avenida Joaquim Nabuco, 732 –
“Panificação a Vapor e Biscoitaria/Fábrica de Massas e Torrefação de Café”;
Padaria Amazonense – de
Simões & Cia. – situada a Rua Marques de Santa Cruz, 271 – “Com Amassadeira
mecânica movida à eletricidade – Panificação e Estivas/Fábrica de massas
Alimentícias – Doces de chocolates e seco/Bolachas de Leite, Água e Sal/Café
moído e artigos de mercearia”;
Fábrica Brasil – de Simões
& Cia. – situada a Rua Barão de São Domingos, 61, - “Panificação e
Biscoitaria/Moagem de trigo, arroz e outros cereais pelo sistema europeu/Doces
de chocolate/Bolacha Maria e Água e Sal/Rosca comum e a Barão”;
Fábrica Portuense – de
Lopes, Santos & Esteves – situada a Avenida Joaquim Nabuco, 424 – “Pão,
Bolachas, Biscoitos e Massas Alimentícias”;
Fábrica Aurora – de Pinho
Couto & Arteiro – situada a Rua dos Andradas, 62 – “Panificação, Massas
Alimentícias e Torração de Café”;
Fábrica Modelo – de J.
Barbosa Grosso – situada a Avenida Joaquim Nabuco, 554 e José Paranaguá, 345 –
“Mercearia, Padaria e Confeitaria - Estivas por grosso e a retalho, fabricação
e depósito de roscas e bolachas para o interior e aviamentos, especialista em
pães e massas alimentícias”;
Fábrica Progresso – de
Nogueira Irmãos & Cia. Ltda. – situada a Rua da Instalação, 121 –
“Fabricação de massas alimentícias extrafinas, biscoitos, torrefação de café e
refinação de açúcar, artigos de mercearia, chocolates e bombons finos,
importação direta”.
Desde aquela época, já
havia uma preocupação muito grande com o custo das matérias-primas,
principalmente do trigo, com os panificadores sempre solicitando juntos aos
poderes públicos uma majoração no quilo do pão (preço tabelado), apesar da
gritaria dos consumidores.
Das citadas, apenas a
Padaria Modelo continua operando - os descendentes dos donos da Padaria
Amazonense e Fábrica Brasil construíram um império chamado “Grupo Simões”, com
vários segmentos, mas, nada voltado para as padarias dos seus ancestrais.
Na minha infância, tive a
oportunidade de comprar pães e bolachas nas padarias Francfort e Modelo e,
na adolescência, na Pátria e Mimi – atualmente, existem mais de mil
padarias em Manaus, eles vendem de tudo, são lanchonetes e, até restaurantes,
com uma variedade enorme de pães, mas, todos com produtos químicos prejudiciais
a nossa saúde e, nada mais lembra os portugueses e das antigas padarias de
Manaus.
Voltando ao presente - existe uma portaria
do INMETRO, determinando, desde o ano de 2006 que, o pão francês deve ser
vendido no território brasileiro somente por peso, com o preço liberado,
variando em Manaus, de cinco a onze e cinqüenta reais o quilo, uma diferença de
até 140%, mesmo sendo desonerado e livre do pagamento de impostos federais,
pois faz parte da “Cesta Básica”, conforme determinação da Presidente Dilma
Rousseff, em 08/03/2013.
Não faz parte da cultura dos brasileiros em acompanhar
os preços dos produtos que consumem, mas, no caso particular do pão francês,
fiz uma pesquisa e, encontrei no bairro onde moro, o quilo sendo vendido a R$
5,50, enquanto numa famosa padaria da Avenida Joaquim Nabuco (próximo ao antigo
Cine Popular), ele é vendido a R$ 10,00, quase o dobro do valor - além do mais,
a padaria dos bacanas perde em sabor, consistência e tudo o mais da localizada
na Cidade Nova II. É isso ai.
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