quarta-feira, 9 de outubro de 2013

A CASA DO TRABALHADOR DO AMAZONAS (CTA)


Quem passa pela Rua Marcílio Dias, no centro histórico de Manaus, em direção ao antigo Hotel Amazonas, depara-se com o prédio de numero 256 e, ver uma placa com o nome “CASA DO TRABALHADOR” - muitas pessoas não sabem, mas, aquele lugar foi palco de luta pela consolidação da classe operária do Estado do Amazonas.  

A CTA possui como lema “PAZ, TRABALHO, PÃO E LIBERDADE” – fazendo jus aos trabalhos desenvolvidos pelos nossos antepassados irmãos amazonenses, na luta pela libertação do trabalho escravo, ocorrida em nosso Estado em 10 de Julho de 1884 e, pela revolta da classe operária, em 1930, onde surgiram os primeiros movimentos reivindicatórios, com os esboços da sindicalização e organização das “Associações Profissionais”.

Naquele ano de revolta, os primeiros sindicatos foram reconhecidos pelo Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, embora recebidos com má vontade pela classe patronal. Em 1943, o Delegado Regional do Ministério do Trabalho, ativou a campanha sindical e, removeu os obstáculos que se opunham a boa marcha do movimento sindicalista.

Nessa altura, o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Gráficas do Amazonas, fizeram uma reunião em sua sede, situada a Avenida Sete de Setembro (em frente ao Palácio Rio Negro), onde foi lançada a ideia da fundação da “CASA DO TRABALHADOR DO AMAZONAS”, onde se reunissem todas as classes proletárias, para uma melhor compreensão entre eles e, para uma maior força nas conquistas de suas reivindicações.

O então Interventor Álvaro Botelho Maia, reconheceu os anseios da classe trabalhadora de sua terra, veio em auxílio destes, concedendo-lhes a título precário (não definitivo, com direito a reavê-lo, sem indenização), através do Decreto-Lei no. 1.251, de 24 de Junho de 1944 o “palacete” onde fora a sede da “União Sportiva Portugueza”.



No portão de ferro, na entrada principal desse prédio, consta o ano de 1885, com as iniciais “J A F”, deve ter sido a residência de algum barão da borracha – lá existe uma placa de mármore, onde consta o seguinte: “1953 – 1954 – Escola de Alfabetização de Adultos Des. Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro – homenagem da Casa do Trabalhador” – este senhor é o saudoso avô do diplomata Arthur Virgílio Neto e atual Prefeito de Manaus.

Depois de quatro anos de muitas lutas, a CTA foi instalada através do Decreto Legislativo no. 406, de 26 de Julho de 1949, sancionado pelo Governador do Estado, o Dr. Leopoldo Amorim da Silva Neves.

Foram feitas obras de ampliação, aumentando o edifício com dois corpos laterais, triplicando a sua capacidade, dando mais liberdade e autonomia as reuniões dos diversos sindicatos ali sediados.

Inicialmente, funcionaram ali os seguintes sindicatos e associação de classes: Sindicatos dos Trabalhadores nas Indústrias Gráficas de Manaus; de Serviços Portuários; de Carris Urbano; dos Estivadores; nas Indústrias de Artefatos de Borracha de Manaus; de Calçados; Metalúrgicas, Mecânicas e Material Elétrico; Oficiais Marceneiros - Associação Profissional dos Odontologistas; Sociedade Amazonense de Gazeteiros; Sociedade Beneficente dos Magarefes e Talhadores de Manaus – ficavam alojados em três amplos salões: “Presidente Vargas”, “Presidente Dutra” e “Cinco de Setembro”.

O meu saúdo pai, o luthier José Rocha Martins, foi um membro atuante do Sindicato dos Trabalhadores Oficiais Marceneiros do Amazonas – ouvi por parte dele muitas histórias das lutas trabalhistas daquela época.

No prédio foi construído também um pavilhão com dois andares, sendo na parte de cima servida como moradia do zelador do prédio e na parte debaixo, funcionavam os estúdios dos serviços de alto falantes “A Voz do Trabalhador”.

A “CASA DO TRABALHADOR” contava com programas de assistência social, dentária, médica (com ambulatórios e farmácia) e jurídicas - além de assistência cultural e sócio-recreativa aos associados e trabalhadores em geral.


Em 1950, foram agraciados pelos relevantes serviços prestados ao engrandecimento da C.A.T. as seguintes pessoas:

EDMUNDO FERNANDES LEVY – Delegado Regional do Ministério do Trabalho, amigo incondicional do trabalhador do Amazonas;

JAMACY BENTES DE SOUZA – gráfico competentíssimo, presidente do Sindicato de sua classe, foi o idealizador da criação da CASA DO TRABALHADOR DO AMAZONAS, tornou-se um dos maiores líderes trabalhistas do Amazonas e, foi por diversas vezes escolhido para representar o Estado do Amazonas e seus colegas trabalhadores em Conclaves trabalhistas na Capital da República (Rio de Janeiro);

SERAFIM AUGUSTO DE ANDRADE -  Secretário da C.A.T. e Presidente do Sindicato dos Taifeiros, Culinários e Panificadores em Transportes Fluviais do Amazonas – um homem dedicado ao trabalho, calejado nas árduas lides de bordo, conhecedor da “hinterland” amazônico;

FRANCISCO CAETANO DE ANDRADE – um homem considerado probo e honesto, ao qual foram entreves os haveres da CAT, na qualidade de Tesoureiro – trabalhador da empresa J. G. Araújo.

Segundos os jornais da época “Esse quatro homens, verdadeiros idealistas que forma um todo harmonioso, são as maiores figuras do desenvolvimento trabalhista no Amazonas, cujos nomes jamais serão olvidados pelo proletariado amazonense e pelos seus descendentes”.

No ano passado, passei por lá para dois encontros:


Tive a imensa satisfação em contribuir com os meus serviços para o Sindicato dos Trabalhadores Rurais do Careiro da Várzea, Manaus e Iranduba, no comando da Presidente Maria Lucinete Nicácio, uma senhora que trabalha a terra e, que possui voz ativa, respeitada até em Brasília. Contribui com a elaboração e alteração dos Estatutos e regularização juntos as repartições públicas das Associações ACNA e ARCA, presididas, respectivamente, pelo Perivaldo e Dona Rita Belém, das comunidades do “Pau Rosa” da Estrada BR-174.

Participei também de uma “Feijoada”, com os meus amigos Ademir Ramos e Paulo Onofre, coordenadores do “Projeto Jaraqui” (um movimento popular, realizado todos os sábados na Rotunda, da Praça da Polícia, que tem como bandeira a “Limpeza Ética na Política”), resolveram fazer uma feijoada, com a finalidade de arrecadar fundos para cobrir as despesas com o referido projeto.


Foi tudo do bom e do melhor, pois a feijoada estava supimpa, sendo elogiada por todos os participantes, além da música da melhor qualidade do Lúcio Bahia & Amigos (Sacy da Pareca, Sandro e Giba) – todos estavam alegres e descontraídos, com muitas pessoas se reencontrando e, lembrando-se dos velhos tempos da ditadura, onde se reuniam naquele casarão antigo, para lutar contra aquele regime autoritário.

Teve a presença do Amercy Bentes de Souza, filho do Jamacy Bentes de Souza, o idealizador da C.A.T, além do senhor José Ferreira Lima, um trabalhador que fez história naquele lugar, pois foram cinquenta anos trabalhando na CTA, sendo presidente por diversas vezes, chegando até a se aposentar na condição de Juiz Classista – o seu nome aparece numa placa de metal, datada de 1987 (o ano da reconstrução daquela sede), ele mora, atualmente, em Porto Velho e, veio a Manaus, somente para colaborar com as novas eleições que aconteceram em agosto do ano passado. 

Ouvimos atentamente os discursos descontraídos do Ademir Ramos (antropólogo e coordenador do Núcleo de Cultura Política do Amazonas), Luiz Castro (Deputado Estadual pelo PPS) e do Abel Alves (presidente do PSOL em Tefé).

O que mais me chamou a atenção foi o estado em que se encontra aquele casarão histórico - está abandonado pelo poder público, apesar dele fazer parte da história de luta da nossa classe trabalhadora, além de servir, atualmente, como abrigo para dezenas de sindicatos, federações, comissões e associações dos trabalhadores do nosso querido Estado do Amazonas.


Esse artigo é dedicado aos bravos companheiros que lutaram para a construção e implantação da CASA DO TRABALHADOR DO AMAZONAS, bem como, que sirva de alguma forma pela revitalização daquele prédio tão importante para a nossa cidade. É isso ai.  

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