sábado, 11 de abril de 2020

A MALHAÇÃO DO JUDAS PEDRÃO

A malhação de Judas desde tempos idos, sempre foi uma manifestação de revolta por parte da comunidade cristã, para vingar-se daquela pessoa que traiu Jesus, entregando-o aos romanos para ser morto e crucificado – essa tradição está perdendo forças em tempos atuais, indo lentamente acabando, porém, sempre lembrado pelos mais velhos – é o meu caso em que no Sábado de Aleluia lembro-me da última malhação em que participei: A Malhação do Judas Pedrão.
Aos doze anos de idade fui morar na Vila Paraíso, com entrada pela Rua Tapajós, depois, casei e mudei-me para o Conjunto dos Jornalistas, após separado da mãe dos meus filhos, voltei para o meu ninho de outrora, reencontrando com os meus velhos amigos, colegas e vizinhos, participando com força total de todos os eventos em minha rua, particularmente da parte conhecida como Ladeira da Tapajós.
Falam os mais velhos que devemos respeitar a Sexta Feira da Paixão ao acordarmos até a boca da noite. Respeitando essa tradição, reunimos uma galera no Bar da Dona Vanda, para beber umas geladas e confeccionar um Boneco de Judas.
Lembro-me de alguns colegas: Batata, Capuchinho, Núbia, Hino, Manoel Mormão, Magaiver, João Cana Brava, Wanderlan, Paulinho, Taca, Alcenir, Chiquito, China, Tia Vanda, Tia Daca, Zigomar, Henrique e outros.
Cada um deu a sua contribuição: calça jeans, cinturão, sapatos, camisa manga comprida, meias, jornais, isopor, agulhas, linhas e muita paciência para confeccionar o Judas.
Não foi fácil fazer o Judas, pois não tínhamos experiência em confecção de bonecos. Deu trabalho danado encher os sapatos, as pernas, o corpo e os braços, o problema maior foi a cabeça, pois parecia mais um ET (extraterrestre).
Lá pelas onze da noite a fera ficou pronta, faltava apenas dar um nome ao Judas. Todos entraram em comum acordo: o homenageado seria um vizinho metido a besta, fanfarrão, contador de lorotas, abacabeiro, pescador, barrigudão e que se achava o machão da Rua Tapajós.
Não deu outra: penduramos o boneco numa árvore no quintal do Manoel Mormão (atual Academia do Tabosa), com uma placa no peito "PEDRÃO, O MACHÃO!”.
A estratégia era acordar bem cedo, tocar fogo no fuleiro, correr ladeira acima e zonar com o Pedrão antes do homenageado saber.
Conforme combinado, ao chegarmos no quintal do Mormão, ele deu um pulo da rede e gritou:
- Prefeito, o Felipe Viriato veio aqui de madrugada com um terçadão, cortou o Pedrão e levou lá prás bandas da Getúlio Vargas!
Para que não conhece o Felipe, ele é gente boa, filho do grande advogado Dr. Viriato, morador tradicional da Avenida Getúlio Vargas - quando era mais jovem gostava de aprontar, qualquer bronca era com ele mesmo, ao ficar mais velho mudou de feição, virou uma pessoa de boa índole.
Pois bem, resolvi encarar o Felipe, entrei pela Vila Paraíso até a Getúlio, onde pude observar o "Pedrão, o Machão", pendurado numa árvore em frente a Casa Aroeira. Dei uma bronca no Felipe, ele na maior cara de pau chegou até a chorar, pediu mil desculpas.
Subiu na árvore, cortou o Pedrão e o levou inteirão para ser estraçalhado na Ladeira da Tapajós. Nesse ínterim, o Pedrão de carne e osso já estava sabendo da onda. Como de costume, se plantou em frente da casa do Mormão, sem camisa, mostrando aquele barrigão sensual, prá negas dele, é claro!
Ficamos sem jeito nem clima para fazer a malhação. Entramos num comum acordo: colocamos o Pedrão sentado numa cadeira de macarrão, com chapéu e óculos tipo Raimundo, sem nada de malhação com o Pedrão!
Passou o dia todo na Ladeira da Tapajós, pousando para as fotografias, com muita cerveja, dominó , peixe frito e som do DJ Lourão Isaac, tudo pago, é claro, pelo "machão" PEDRÃO!
Salve o Sábado de Aleluia e a Malhação de Judas!

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