quinta-feira, 9 de abril de 2009

JARAQUI COM BAIÃO DE DOIS


Estamos na semana santa e, como manda a tradição católica, nada de carne vermelha; a alimentação indicada é o peixe.


O Bacalhau somente para os mais abastados; o nosso Pirarucu nem com “nojo de pitiú de Bodó!” Está caríssimo. A solução será o Semaprochilodus brama; calma não é coisa do outro mundo! É o nome cientifico do queridíssimo Jaraqui – “Jaraca” para os íntimos. O Pacu (ou Paboca) assado e a Sardinha estão também de bom tamanho para o meu bolso furado.


Fui ao templo do peixe, o Restaurante Galo Carijó, situado na esquina da Rua dos Andradas com a Rua Pedro Botelho, centro antigo de Manaus. O estabelecimento estava lotado, assim mesmo fiz logo o meu pedido: Jaraqui frito com os acessórios (baião de dois, farinha ova, tucupi, pimenta murupi, limão, sal e azeite de oliva).


Fiquei na espera de uma mesa, um olho no peixe e outro no Felis cattus domesticus (se bobear o gato leva!). Assumi a primeira mesa que desocupou, fiquei naquele martírio, esperando o meu manjar. Dois senhores se aproximaram e pediram para sentar à mesa, concordei gentilmente; começaram a falar sobre negócios, com sotaque de nordestino, o papo envolvia muita grana nas transações; tinha que ouvir aqueles indivíduos fanfarrões.


A garçonete veio ao meu encontro e perguntou: Eles estão com você? O pedido também é Jaraqui? Antes de responder que não, um deles foi logo detonando: Não gosto desse peixe, amazonense é que come isso ai (com ar de desprezo), quero um Tucunaré bem grande. Fiquei engasgado entes de o jaraca chegar; pensei com os meus botões – dou uma dura nesses palhaços ou me mudo de mesa? Optei pela segunda opção.


O meu peixe estava saboroso, enquanto comia olhava para o forasteiro, notei que ele estava envergonhado da declaração infeliz; talvez o Tucunaré estivesse entrando quadrado; quem sabe na próxima vez irá fazer o seguinte pedido: Um Jaraca com baião de dois, por favor! Não sou amazonense, mas comi o jaraqui e não saio mais daqui, nem com nojo!