segunda-feira, 15 de setembro de 2008

BAIRRO DA CHAPADA



Nordestinos formaram bairro

A comunidade da Chapada tem suas origens devido a uma grande seca que ocorreu no Nordeste, mais precisamente no Ceará, no ano de 1958. Dezenas de famílias morreram assoladas pela fome e sede e muitas outras decidiram tentar um futuro melhor, embarcando para Manaus com o apoio do governo do Amazonas, na administração de Plínio Ramos Coelho. Segundo relata o presidente da comunidade, Ney Monteiro, os nordestinos vieram com a promessa de trabalharem na retirada do látex e se instalaram inicialmente em uma hospedaria, construída pelo governo nos arredores da antiga residência do ex-governador Eduardo Gonçalves Ribeiro. Os moradores batizaram o local de Hospedaria Pensador, em homenagem a Eduardo Ribeiro, conhecido também pela sua notável inteligência. A hospedaria era na maior parte do tempo ocupada pelas mulheres e crianças, pois os homens em idade de trabalhar deslocavam-se para os seringais distantes, no interior do Estado, e lá passavam até meses envolvidos na extração do látex. A região da Chapada não tinha estrutura na época e sua única referência continuava sendo a residência de Eduardo Ribeiro. Com o término do trabalho nos seringais, muitos nordestinos ficaram sem uma atividade remunerada para sobreviver. A solução encontrada por eles foi a confecção de materiais artesanais, como cestas, abanos e outros utensílios feitos a partir de palha de coqueiro. Os moradores vendiam esses produtos no mercado público de Manaus, garantindo uma renda mínima para seu sustento. Durante o início da década de sessenta, a comunidade recebeu o primeiro impulso de desenvolvimento com a instalação da Usina Londrina, processadora de castanhas, por volta de 1960. A indústria foi responsável pelos primeiros empregos na comunidade e contribuiu para o desenvolvimento da Chapada. Seus proprietários criaram também a primeira creche e escola do bairro, chamada Escola Londrina, graças ao empenho decisivo da moradora Francisca Pergentina, responsável por cuidar e educar os filhos dos moradores que estivessem trabalhando no processamento da castanha. Por volta de 1964 a Secretaria Municipal de Educação assume o controle de uma casa, localizada na rua Eduardo Ribeiro, que pertencia à família da moradora Amélia Frota de Menezes, e instala no local a primeira escola pública da Chapada, a Menino Jesus de Praga, com ensino fundamental de 1ª a 8ª séries. No final da década de sessenta a infra-estrutura ainda era escassa bairro da Chapada. Poucas famílias tinham energia elétrica em casa, conseguida com recursos próprios e instalações feitas a partir da rua Darcy Vargas. A água potável que abastecia os moradores era proveniente de um poço artesiano, perfurado numa região da antiga rua João Alfredo, onde hoje funciona a UEA (Universidade do Estado do Amazonas). “Muitas pessoas sobreviviam de transportar água para os moradores”, relembra o presidente do bairro, Ney Monteiro, 59 anos. Na mesma rua funcionava também, até por volta de 1968, uma estação de comunicação do Exército, no mesmo prédio onde hoje funciona o jornal Diário do Amazonas. O saneamento na Chapada começou por volta do ano de 1975, impulsionado com o alargamento e pavimentação da rua João Alfredo, que passou a se chamar avenida Djalma Batista, em grande parte graças ao empenho do então vereador e radialista José Maria Monteiro. A partir daí foram instaladas as primeiras torneiras públicas do bairro, localizadas nas esquinas das ruas Darcy Vargas com a Djalma Batista, conhecida entre os moradores como “rua Ceará”.ASegundo presidente do bairro, Ney Monteiro, a Chapada foi durante anos uma região de muitas belezas naturais,pois é cortada pelo igarapé do Franco, o balneário do Parque Dez,além do rio Mindu. “Uma diversão de todos os moradores era tomar banho de igarapé. O mais freqüentado pelos moradores daqui, até o final da década de setenta era o balneário do Parque Dez”, recorda. Outro ponto utilizado com freqüência pelos moradores boêmios da Chapada era o bordel Casa Verônica, localizado próximo à ponte dos Bilhares. Uma curiosidade do bairro da Chapada é que antes da chagada dos retirantes nordestinos vindos do Ceará, a região era utilizada como cemitério indígena. “Inclusive quando o meu vizinho foi construir a sua casa, nas escavações para o alicerce, ele encontrou pedaços de ossos, uma cruz e restos de materiais confeccionados por índios”, relata a moradora Ana Maria, que mora no beco Eduardo Ribeiro há dezesseis anos. Do início da década de oitenta até os dias de hoje o bairro da Chapada não viu muito desenvolvimento dentro de suas ruas, somente nas avenidas importantes que cercam seu perímetro, a Djalma Batista e
Constantino Nery.
Fonte: Jornal do Commercio, edição de 24/10/2006