Este duelo aconteceu em
Manaus, no dia 26 de novembro de 1977, na Praça de São Sebastião, tendo como desafiante
o empresário dono do jornal A Notícia, o senhor Andrade Neto, e o desafiado, o
vereador Fábio Lucena.
Essa presepada toda consta
na Dissertação de pós-graduação em História pela UFAM, do acadêmico Giovanny
Amaral e foi presenciada pelo então Deputado Federal Mário Frota, conforme
relatos contidos neste trabalho.
Um duelo ocorre quando uma
pessoa desafia outra para um confronto armado, motivado, habitualmente, por um
desejo de desagravo à honra ou desavenças individuais, buscando, acima de tudo,
demonstrar sua supremacia no campo de batalha.
Andrade Neto – era casado
com a filha do Comendador Felix Fink, dono das drogarias Fink. Proprietário do
jornal A Notícia (circulou até 1990). Foi um político e empresário muito
polêmico em Manaus.
Fábio Lucena – nasceu em
Barcelos em 1940, foi bancário, jornalista, vereador e senador da república.
Foi um político polêmico. Cometeu o
suicídio em Brasília, em 1987.
O Edil trabalhava como
redator para o empresário Andrade Neto, no jornal A Notícia, no entanto, fez
uma homenagem na tribuna da câmara pela passagem dos 25 anos do jornal A
Critica, o que contrariou o seu patrão, ocasionando a sua demissão.
O jornalista Humberto
Calderaro admitiu o Fábio Lucena em seus quadros, onde aproveitou para
desmoralizar o Andrade Neto, além
de utilizar a tribuna da câmara para o mesmo intento.
Por outro lado, o Andrade
Neto começou a revidar e escrever sobre a vida pregressa do vereador. Durante
longo tempo os dois trocaram acusações, culminando em um “Duelo e vida ou morte
na Praça de São Sebastião”.
O acontecimento foi um
tanto engraçado, servindo para engrossar os registros históricos do “Folclore
Político de Manaus”.
A briga entre os dois
chegou ao seu ápice em 1977, quando o Andrade Neto em artigo publicado na coluna
“Pinga-Fogo”, do jornal A Notícia, desafiou o Fábio Lucena para um “desforço pessoal” em local e hora que
ele determinasse.
Diante disso, Fábio
Lucena, disse “Se Andrade Neto for o pai
de seus filhos, que compareça amanhã, às oito horas, na Praça de São Sebastião,
pois lá estarei para enfrentá-lo do jeito que ele vier, à bala ou de qualquer jeito,
perante os pés e o testemunho de nosso senhor Jesus Cristo. Juro pela vida dos
meus filhos que, se o encontrar em qualquer parte da cidade, um de nós dois
morrerá, não o faço em nome de Deus, porque seria uma profanação, mas se for
necessário o faço em nome de Satanás”.
Segundo Mário Frota, ele
falou com o Humberto Calderado a convencer o Fábio Lucena a desistir do
intento, mas foi em vão.
No dia acertado, Frota foi
até o apartamento de Lucena que fica no edifício Maximino Corrêa, na Praça do
Congresso. Chegando lá, ele presenciou um negócio muito engraçado, quando o
Fábio Lucena recebeu das mãos de um coronel dois revólveres de cano longo.
Vestiu um paletó quadriculado (marrom, preto e marrom), botou no pescoço um
lenço vermelho e desceu as escadas. Lá fora uma multidão
o esperava.
Fábio Lucena foi à pé
seguido pela multidão, pois o achava um herói, um cara que teve a coragem de
desafinar o todo poderoso dono do jornal A Notícia, o Andrade Neto.
Entrou na Igreja de São
Sebastião, e disse: “Eu quero entrar
sozinho”. Ajoelhou-se, com as mãos postas, ele era muito católico, rezou,
orou. Na saída um jornalista o indagou “Vereador,
o que o senhor veio fazer mesmo agora, que o senhor se ajoelhou e orou?”
Fábio respondeu: “Não, eu orei a Deus
neste momento, eu entreguei minha alma a Deus e o corpo a Satanás”.
Ele foi para o meio da
Praça de São Sebastião e falou a
multidão: “Agora, que ninguém me
acompanhe, em razão do perigo das balas”. A galera toda com medo correu
para assistir lá em cima nas escadarias do Teatro Amazonas.
O Andrade Neto morava numa
bela casa situada na esquina da Rua Dona Libanea. O Fábio ficava olhando
atentamente para aquela rua da antiga casa do J. G. Araújo, achando que o rival
viria por lá.
O clima ficou tenso. Um
silêncio total. O povo estático esperando ansiosamente o desfecho daquela cena
que lembrava os velhos filmes de faroeste do Cine Guarany.
Colocou o paletó para
trás, parecia um filme de bang-bang, com os dois revolveres na cintura, andando
prá lá e prá cá.
Quando o sino do relógio
da igreja bateu as oito badaladas fortes da manhã, ele parou, respirou
profundamente e ficou naquela posição concentrada de sacar e atirar primeiro. Pense numa
situação engraçada.
Ficou assim durante uns dez
minutos. Olhou para o relógio e gritou “O
poltrão não apareceu! O poltrão não apareceu”.
A multidão correu lá de
frente do teatro em sua direção, abraçando e gritando o nome dele “Fábio,
Fábio, Fábio”. Virou um super herói
baré.
Foi quase “Um Duelo de
Vida e Morte”, que evidenciava o temperamento do Fábio Lucena, que felizmente
não aconteceu.
É isso ai.