Mário era um caboclo
manauara inteligentíssimo, poeta e escritor. Dedicou toda a sua vida a três
amores: a sua cidade natal, os filhos e, principalmente, a sua amada esposa
Anita. O amor entre os dois começou quando ela estava entrando na adolescência e
ele já um homem adulto. Passava todos os dias em frente à sua casa somente para
vê-la, parava e falava: -
Menina linda dos olhos azuis, um dia iremos nos casar! Ela respondia com um sorriso
angelical. E assim foi durante anos. A
mãe da Anita era uma viúva descendente de portugueses e estava preparando a sua
filha para casar com uma pessoa de posses e influente na sociedade manauara,
pois possuía uma beleza singular de européia, além de uma boa cultura e de
prendas domésticas. Jamais iria deixar a sua filha se encantar com um “pé
rapado”, de pele morena e com a cara de um índio, um caboclo típico da região
amazônica. No entanto, ela não entendia que o amor não se escolhe para os
filhos, ele vem naturalmente entre duas pessoas. Os encontros entre os dois eram
sempre às escondidas da mãe de Anita. Contava sempre com a ajuda de uma prima,
onde lhe era permitida ir sozinha para passar algumas horas em sua companhia. Aproveitava a oportunidade para namorar
com o seu amado Mário. Os dois estavam totalmente apaixonados. Ela não se
importava com a grande diferença de idade entre os dois muito menos da sua
precária situação financeira. O Mário bolou um plano para fugir com a sua
amada. O dia “D” foi quando a mãe de Anita a permitiu dormir num final de
semana na casa da prima. O Mário tinha um amigo que trabalhava a noite na
empresa que fornecia eletricidade para a cidade, a concessionária inglesa
Manáos Tramways and Electric Light Company. No horário combinado, ele promoveu
um blecaute, deixando toda a cidade de Manaus às escuras. Foi o momento certo
para o Mário fugir com a sua amada Anita. Eles já tinham acertado com um padre
para celebrar o casamento entre os dois, além de um casal de amigos para serem
os padrinhos do enlace matrimonial. E
assim aconteceu. Foram para um lugar escondido de todos e de tudo para curtirem
juntos a merecida lua-de-mel. No dia seguinte, a mãe da Anita foi à loucura
quando soube do acontecido. Procurou a autoridades para cancelar o casamento e
convencer sua filha a voltar para casa. Tudo em vão. O casamento no católico
naquela época possuía o seu valor legal. Já estavam casados e se amavam. Com o
passar dos anos, Mário foi tendo projeção na sociedade e amealhando um patrimônio
suficiente para manter a sua família, pois os primeiros filhos já estavam
chegando ao mundo. Mário nunca teve mágoas de sua sogra, muito pelo contrário,
a trouxe para morar em sua casa, em companhia da filha, dando-lhe todo o conforto
possível até a sua morte. Durante anos, dedicou o seu tempo vago para construir
uma cidade imaginária, com uma alegoria que encenava a concretização do amor de
Mário a sua esposa Anita. Este trabalho constitui-se naquilo que se pode dizer,
que foi feito com muito amor, não somente na sua construção, mas, para a sua
eterna amada esposa. Viveram felizes por sessenta e seis anos até que a morte os separou. Tiveram quatro filhos e vários netos. Uma coisa muito rara nos tempos atuais, onde a grande
maioria dos casais se casa e descasa, ama e odeia, num curto espaço de tempo.
Ficará para a posteridade o exemplo de amor do casal Mário & Anita.