quinta-feira, 16 de maio de 2013

O PALETÓ QUE CASOU TRÊS!



Encontrei o meu velho amigo JJ no Bar Caldeira, fazia tempo em que não batíamos um papo, ele foi logo falando que estava no Rio de Janeiro, foi encontrar a família, depois de trinta anos separados – foi um reencontro com a ex-mulher, um casal de filhos e, conhecer os quatro netos – quando começou a lembrar do seu casamento, voltei também ao túnel do tempo e, veio à tona o paletó que casou três pessoas.

Certa vez, dando numa geral no meu guarda-roupa, fiquei a olhar o meu velho e surrado paletó, lembrei muito bem do sufoco que passei para adquiri-lo - sabe com é um mancebo de vinte e poucos anos, o tesão fica a mil por hora, não teve jeito, avancei o sinal vermelho, engravidei a minha namorada e, ainda muito jovem tive que casar. E agora, José? Para casar tem que ter um paletó!

Nem pensar em comprar um “paletot” nas lojas famosas da Avenida Eduardo Ribeiro (Palácio da Moda, Casa Nova e Brumel) ou mandar um alfaiate fazer um sob medida, estava fora das minhas parcas economias – pedi ajuda dos amigos, dos colegas universitários, dos vizinhos, dos parentes e aderentes e, nada! Ninguém tinha um paletó para me emprestar!

Duas semanas antes do meu casório forçado, fui ao enlace matrimonial do JJ, o enforcamento dele foi na Igreja de São Sebastião, fiquei na expectativa, não do casamento, mas do seu paletó, o tamanho dava certinho no meu figurino - no final da recepção, fui salvo pelo gongo, consegui o empréstimo do paletó.

Uma semana após o meu casamento, o paletó tinha acabado de voltar de uma lavadeira (lavanderia, nem pensar!), quando foi requisitado por outro colega de colégio, o Perci - o caboco também estava com a noiva prenhe de três meses, fui solidário com ele, emprestei o paletó que estava emprestado de outro colega. O dito cujo já estava famoso, em menos de um mês já tinha servido para três casamentos. É mole ou quer mais?

O meu colega embarcou com o meu terno emprestado, foi passar a lua de mel (ou de fel) em outra cidade, fiquei no maior sufoco, pois o dono começou a cobrar a devolução. Como não tinha avisado que ele estava emprestado para outra pessoa, inventei uma desculpa esfarrapada, ele não engoliu, exigiu a entrega de imediato do paletó ou pagamento do mesmo, não teve jeito, propus o pagamento em suaves prestações.

Depois de um ano do ocorrido, conversando com o meu irmão do meio, o Henrique, comentei sobre a confusão do paletó e o pagamento, foi quando tive a maior surpresa, ele falou que o paletó pertencia a ele. Mas como é possível?

O negócio foi o seguinte: ele foi procurado pelo JJ, para comprar a prazo (no carnê) o dito paletó na Loja Palácio da Moda, as parcelas venceram e não foram pagas e, ele teve que assumir o débito, pagando com juros e correção monetária, dessa forma, o paletó não pertencia ao JJ, pois ele não pagou.

Pois bem, o paletó ficou na naftalina guardando por mais três anos, quando foi utilizado novamente para receber o “meu canudo de papel” no Teatro Amazonas – voltou a brilhar e, posei para as fotos do álbum de família - depois, voltou para o armário, saindo de lá somente para ocasiões formais.

Com o passar do tempo, ficou no esquecimento, guardado para o todo e sempre, as traças deram em cima dele - não tem como doá-lo, ele tem história.

Voltando ao JJ, ele está pensando em voltar a morar no Rio, pois está aposentado e ganhando o suficiente para se manter numa boa, além do mais, ficou apaixonado pelos netos, virou um vovô babão - antes de viajar, vai ter que me devolver o valor do paletó págo indevidamente. Outra coisa, o JJ está pensando em casar de novo, dessa vez terá que comprar um novo paletó e outras coisas mais!

Os três que casaram com o mesmo paletó, se divorciaram das esposas, a indumentária não teve nada a ver com as desavenças dos casais - já falei para os meus filhos que, quando eu for morar na cidade dos pés juntos, eles devem me vestir com o meu velho e surrado paletó.

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