*TENÓRIOS TELLES
A terra é a nossa casa e a natureza é o jardim e a fonte de nossas vidas. Maltratar a terra, agredi-la e devastá-la, significa por em risco a segurança de nossa morada, prejudicar o frágil equilíbrio que mantém vivo os rios, as florestas, os bichos e também os seres humanos. Movidos pelo egoísmo e arrogância, alguns homens têm feito exatamente isso: destruído o jardim que herdamos da providência para vivermos e nela sermos felizes.
Transformaram o planeta num lugar ameaçador para a vida. E não contentes, apesar de todos os alertas, seguem destruindo, queimando... Essas criaturas que não merecem ser chamadas de humanas carregam no peito não um coração, mas uma pedra. Não sentem e não se comovem com nada: falar com elas sobre flores, passarinhos, rios, árvores, céu, estrelas. Beija-flores... Ou sobre o Encontro das Águas, é inútil. Insensíveis, não percebem a beleza que emana dessas coisas, veem apenas cifrões e a possibilidade de levar vantagem.
Esse tipo de gente mente, intimida e destrói para alcançar os seus intentos, como têm feito em relação à insanidade de construir um porto no Encontro das Águas. Não compreende o significado de um lugar como esse – encontro de dois rios milenares que carregam em suas falas e suas águas a memória do passado, do que somos e do próprio tempo. Não percebem sequer a beleza desse lugar mágico. O pior é que não se comovem com o seu simbolismo, sua grandeza, o encanto, sua grandeza divina. O argumento do dinheiro e do progresso obscureceu-lhes os olhos aos sentimentos.
Apaixonado que sou por esse santuário, que traduza força e exuberância de nossa terra e expressa a nossa identidade, fui ao Encontro das Águas. Num pequeno barco, naveguei-lhe as águas, maravilhei-me com a floresta de suas margens, os pássaros, as gaivotas, o silencio e a paz que emanam desse espaço que mais que uma dádiva de Deus é uma bênção.
Queria me certificar de que não estava sendo inconsequente ou irresponsável ao me posicionar contra a construção do porto das lajes. Na verdade,, eu não sou contra que porto seja construído. Só não concordo que seja no Encontro das Águas e seu entorno. Esse patrimônio deve ser preservado para as próximas gerações. Para a nação, enfim, para a humanidade.
Ao voltar, emocionado com a beleza e grandiosidade dos dois rios que sem embatem e se abraçam e resolvem se juntar para ser um só, concluí que pensaram o projeto errado para o lugar. A região do Encontro das Águas deveria ser um centro de turístico e de entretenimento, com espaços culturais, bosques públicos, com um grande teatro, um grande aquário com as espécies regionais e um centro de estudo e documentação da memória da Amazônia e sua gente. Seria uma maneira de gerar renda, aproveitar o potencial turístico do lugar, sem destruir esse patrimônio do povo amazonense. O Encontro das Águas não pertence à Lo-in Logistica Intermodal. O Encontro das Águas é um bem de nossa gente.
A decisão de construir esse porto está na contramão dos debates e a preocupações com a preservação da natureza. A sociedade precisa tomar uma atitude para impedir essa estupidez, ante que seja tarde. O governador Eduardo Braga, que assumiu compromissos, perante a comunidade internacional, com o meio ambiente e com a defesa da Amazônia, precisa tomar uma atitude para impedir que essa insanidade seja cometida. A força da grana não deve prevalecer sobre os direitos da sociedade ou ser usada de forma irracional para destruir nosso patrimônio natural. O dever de salvar o Encontro das Águas é de todos. E ainda é tempo.
*escritor amazonense – e-mail tenoriotelles@hotmail.com
Este grito de alerta do nobre escritor Tenório Telles, foi publicado no jornal A Crítica, edição de 10 do corrente.
Faço parte do Movimento SOS Encontro da Águas, com a liderança do antropólogo e professor da UFAM Aldemir Ramos. Para que os senhores tenham uma idéia, este mega projeto conta com o apoio irrestrito do governador do Estado do Amazonas, o auto intitulado protetor da floresta amazônica em pé - Eduardo Braga -, da Superintendência da Zona Franca de Manaus (SUFRAMA), da poderosa Coca-Cola, através do Grupo Simões (Juma Participações S.A.) de Manaus e da Log-In Intermodal S.A., sediada no Rio de Janeiro, pertencente a empresários italianos.
Os três senadores do Amazonas, escritores, pesquisadores, comunitários do Lago do Aleixo, estudantes do ensino médio e fundamental, artistas, religiosos, cientistas, ambientalistas, membros do PV, PSOL, CUT e alguns do PT, indígenas, estudantes da UFAM e UEA, dentre outros segmentos da sociedade civil amazonense – são radicalmente contrários a este insano empreendimento.
Este porto irá comprometer o Encontra das Águas, acabará com o Lago do Aleixo, expulsará os moradores do entorno, facilitará o contrabando, a importação de lixo dos paises desenvolvidos e de drogas - é mole ou quer mais?
Fique também do nosso lado, do lado do meio ambiente, diga NÃO a construção do porto das lajes no Encontro das Águas!
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