domingo, 30 de julho de 2023

NA SAFRA DO CAJU

 



José Rocha 

Quando estamos na safra do Caju (noz que se produz, na língua Tupi), nos meses de outubro e novembro, encontramos o fruto “in natura” em todos os lugares, até pelos ambulantes nos cruzamentos das ruas de Manaus.

Em alguns lugares, a produção e a oferta são tão grandes que chega a “fazer lama”.

É rico em vitamina C e, por incrível que pareça, o fruto é exatamente “a castanha do caju”, sendo aquela parte suculenta com a cor amarela, rosada ou vermelha, conhecida como o pseudofruto (pedúnculo).

Existe o tipo grande e o anão, sendo este o mais produtivo; aliás, o maior produtor do Brasil é o Estado do Ceará (a terra da minha família paterna), contribuindo  grandemente com a exportação da castanha. Com o caju é possível fazermos sucos, mel, doces, a cajuína e até aguardente (eba!)

No mês de novembro é realizado a Festa do Caju, em Barreirinha, no interior do Amazonas.

A turma do “Pé Inchado” adora um tira-gosto de caju com sal; os mais abastados preferem a castanha do caju industrializada. 

Na Rua Igarapé de Manaus, centro, existia um sujeito chamado Tontonho, ele passava o dia todo passeando com o seu famoso kit: um engradado de madeira, contendo uma garrafa de cachaça, cigarros e fósforos, um velho rádio a pilha, um guarda-chuva, sal e vários cajus (na safra).

Certo dia, sua mãezinha fez um sério pedido ao filho:

 - Escuta aqui, Tontonho: deixa de beber de uma vez por todas, senão tu vais morrer de cirrose, tenha dó meu filho!

O filho respondeu choramingando:

 - Eu vou deixar de beber sim, minha mãe, mas somente após a safra do caju! 

Só não falou qual a safra do ano que ele iria parar de beber!

Faz alguém tempo atrás (coloque tempo nisso!), fiz uma viagem para o interior do Estado, fui acompanhado do meu compadre Acácio. Atravessamos na balsa de Manaus-Cacau Pirêra; pegamos a estrada Manoel Urbano, dirigindo uma Brasília, é isso mesmo um carro Brasília (aquele com o motor atrás e que fez muito sucesso com os “Mamonas Assassinas” - Minha Brasília Amarela); seguimos até a comunidade do Caldeirão, no Iranduba, deixamos o carro por lá (uma ponte estava inundada, não permitindo a passagem do nosso carro).

Pegamos uma carona num barco de um político, o caboco safado nos deixou bem longe da comunidade.

O percurso foi feito à pé, no trajeto encontramos um casa/bar com inúmeros pés de cajueiros em plena safra, beleza!

Fui logo detonando:

 – Por favor, a senhora pode nos servir duas doses de cachaça, tamanho “marítima”!

 E em seguida:

 - Posso pegar alguns cajus para tirar o gosto?

 Ela respondeu:

 - Pode pegar quantos vocês quiserem, aqui está fazendo é lama!

 E, em seguida, perguntei acanhado:

- É prá levar, posso?

 Ela respondeu:

 – Pode levar o quanto vocês puderem!

Conseguimos duas caixas de papelão e começamos a pegar os mais “parrudos”. Seguimos caminho, abre porteira, fecha porteira, nada de chegar, não aguentava mais, a minha caixa estava cada vez mais pesada, o pescoço estava todo dolorido, resolvi jogar a minha caixa na beira do rio; passamos a revezar a outra caixa.

Era a boca da noite quando chegamos à casa dos pais do meu compadre.

Ao chegar, fui logo comentado:

 – Tia Maria, conseguimos trazer apenas uma caixa de caju, a outra tivemos de jogar fora, pois não aguentamos de tanto peso na moleira. 

Ela respondeu:

– Não carecia, não, meus filhos, no terreno do meu primo Raul tem caju fazendo lama, estamos na safra do Caju mermo!

 Essa foi prá acabar! Lamentei:

"Aí Rocha, que leseira baré, estamos em plena safra do caju, para que carregar tanto peso, sou um leso mesmo!"

Estou no aguardando outubro chegar, pois quero matar a saudade de uma cachacinha, tirando gosto na Safra do Caju! 

Eu, hein!

Foto: A.C.