sábado, 14 de agosto de 2021

FESTA DO ACOCHO

 

Quem era adolescente e entrando para a vida adulta no final da década de sessenta lembra muito bem deste tipo de festa, pois a nossa Manaus era pequena, onde praticamente todos se conheciam pelo menos de vista e uma das diversões era fazermos festinhas em nossas casas, para dançar, beber e namorar muito.

A minha irmã Graciete era muito festeira em sua juventude e sempre promovia, aos sábados, festa em nossa casa, mesmo contrariando o nosso pai que não gostava nem um pouco das músicas que curtíamos naquela época.

A turma aqui do centro tinha a sua disposição o Sheik Clube, Bancrévia Clube, União Esportiva (Sambão), Ideal Clube, Rio Negro Clube, Olímpico Clube e as Boites Danilo´s, Crocodilo´s, Faces in the Groove, Starship e Spectron e outras tantas, mas, o bom mesmo dos bons tempos era a Festa do Acocho.

Todo final do mês motivo não faltava para fazer uma festa: aniversário de alguém da família ou de um vizinho, conclusão de um curso (até de datilografia era motivo), férias escolares, despedida de alguém que ia viajar ou quando não se tinha nenhum motivo se inventava um.

A festa era mais ou menos assim: colocavam-se lâmpadas de luz negra ou cobria as comuns com papel celofane na cor roxa – o importante era ficar o ambiente na penumbra, pois “à noite todos os gatos são pardos (todos são iguais ou semelhantes no escuro)”. Ficava mais chique com a "luz estroboscópica".

A moda dos anos 70 era de calça comprida boca de sino, vestidos românticos cheios de flores e franjas, estampas psicodélicas e coloridas, com um visual hippie.

Os homens gostavam do cabelo tipo “black power”, com influencia das discotecas. Muito brilho e looks extravagantes, com o filme “Os Embalos de Sábado À Noite” influenciando muitos jovens.

As roupas jeans era um legitimo uniforme da moçada, com muito brilho presente em blusas, vestidos, calças e saias. Sandálias de plataforma, colares artesanais e bijuterias.

Solta o som ai DJ - o aparelho era 3 em 1 (toca-discos, tape deck e rádio), com discos de vinil e fita cassete.

As músicas que faziam o maior sucesso “A Hora de Mexer O Esqueleto”: Sociedade Alternativa (Raul Seixas), Os Mutantes, Barato Total (Gal Costa), Doce Vampiro (Rita Lee), Dê Um Rolê (Os Novos Baianos), Sossego (Tim Maia), Sangue Latino (Secos & Molhados), Sampa (Caetano Veloso), Dancin Days (As Frenéticas), Apenas Um Rapaz Latino Americano (Belchior), Cálice (Chico Buarque), O Que Será (Chico Buarque), Conga, Conga, Conga (Gretchen) e outros mais.

O pessoal curtia mesmo era os hits da disco music: Love To Love You, Baby (Donna Summer), I Will Survive (Gloria Gaynor), Macho Man (Village People), Dancing Queen (ABBA), Stayin´Alive (Bee Gees) e outros mais.

O mais esperado mesmo era “A Hora do Acocho” – para quem não sabe o termo “acocho” era uma gíria muito usada nos anos 70 e até 80, quando os casais se abraçavam e beijavam na boca, ao som de músicas românticas, vizinhos(as), primos(as) – muitos até começavam namorar naquela noite e até casavam.

Não poderia faltar uma bebida para animar a festa: Cuba Libre; Leite de Tigre (uma mistura muito doida); Dry Martíni; Padrinho Acrísio (bebida artesanal feita pelo nosso vizinho Acrísio, pai de criação da Mira) e outras.

Tudo na vida passa. Os nossos tempos bons passaram. Ficou somente a saudade da “Festa do Acocho”.

É isso ai.

Foto: www.tuacasa.com.br/festas-anos-70