sexta-feira, 20 de agosto de 2021

GUARDAMORIA



A Guardamoria é um prédio anexo ao da Alfândega do Porto                de Manaus, inaugurado em 1906, pela empresa inglesa Manaós Habour Limited, como parte do contrato de concessão do porto –      foi tombado pelo Patrimônio Histórico Nacional em 1967 - localizado na Rua Marquês de Santa Cruz, centro antigo de Manaus – encontra-se, atualmente, abandonado pelo poder público, necessitando, urgentemente, ser revitalizado e devolvido aos manauaras e aos turistas que por essas plagas aportam, pois aquela edificação é pura história e deve voltar a ser um cartão postal de Manaus.

Guardamoria é um termo antigo, em desuso, significando         “guarda-mor”, ou seja, a repartição anexa à alfândega, incumbida     da polícia fiscal no porto e a bordo dos navios.

Em tempos idos, a Guardamoria exercia plenamente este papel, pois era dotada de uma torre com um farol construído em aço, e sua iluminação de arco voltaico produzindo uma luz de grande intensidade, permitindo aos guardas alfandegários uma visão privilegiada de todo o cais flutuante do Roadway, visualizando          as chegadas dos navios, descargas, carregamentos e partidas.

Como se pode observar na fotografia, a Guardamoria fica um pouco ofuscada pela exuberância do prédio da Alfândega, no entanto,                 ela foi construída para servir de lugar privilegiado para a fiscalização do porto.

O estilo do conjunto é eclético, com elementos medievalistas            e renascentistas, lembrando um pouco os prédios londrinos do início do século passado. Externamente, na Guardamoria, observa-se       um prédio de dois andares, com duas janelas frontais e três laterais em cada andar, além de uma cobertura em aço e com telhas           de barro, toda panorâmica (onde o antigo guarda-mor podia visualizar o Rio Negro e cais do porto). 

No meio do prédio existe uma torre com quatro andares (para abrigar internamente uma escada em caracol para acesso até o farol), sendo que no segundo e último contém uma estrutura que lembra os velhos castelos medievais (para impedir a entrada de invasores).              Nos três primeiros andares da torre contem quatro janelas cada um    e no quarto por ser bem menor existe somente uma janela redonda tipo “óculos”. Um mastro em fero fundido está cravado no terceiro andar. 

No alto da Guardamoria está o Farol (com um cata-vento e pára-raios), ainda imponente e belo, clamando para voltar a iluminar         o Roadaway e dar um charme todo especial a porta de entrada         da cidade de Manaus.

Um dos poucos privilegiados que conseguiu adentrar, nos últimos anos, no interior da Guardamoria foi o escritor Otoni Mesquita                       – em seu livro “Manaus, História e Arquitetura, 1952-1910”, descreve com minúcias o que presenciou naquele prédio secular: 

“A construção possui peculiaridades só dela, como, por exemplo,        a escada em caracol, inteiramente em ferro fundido, que vai           do térreo até o farol. Algumas raras peças em seu interior podem estar ali há um século, ou quase isso, como uma pia, em estilo antigo e com o nome do fabricante: Doulton & Co., e a cidade de origem: Londres. Além da pia, um cofre, um armário, e os azulejos              do piso. Do terceiro andar da guardamoria a visão do rio Negro         é fantástica, digna de o local ser transformado num ponto de atração turística. Quando a pedra fundamental da Alfândega completou cem anos, em 2006, falou-se em abri-la para verificar se em seu interior, como era comum antigamente, haviam colocado objetos da época: jornais, livros e qualquer outro que servisse de referência para quem no futuro viesse a descobri-los, mas o IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), alegando que tal abertura poderia danificar a peça secular, recusou-se a fazê-lo.”

Durante muitos anos a União ocupou a Alfândega, com a fiscalização aduaneira do Porto de Manaus. Com o tempo, o prédio começou        a sofrer problemas estruturais e com a falta de manutenção             foi abandonado, estando fechado até os dias atuais.                     Sofreu muito com as grandes cheias do Rio Negro de 1953 e 2021,           mas resistiu mesmo com toda a sua base alagada por vários meses.                  

Com relação a Guardamoria, encontra-se fechada faz muito tempo.  Não tenho conhecimento em que ano fechou as suas portas, deixando o Farol de cumprir a sua missão de iluminar o Roadway. 

Resistiu ao tempo, completando 115 anos em 2021 – continua         em pé, firme e forte, sendo somente observado pelos turistas            e manauaras que amam esta terra de verdade.

Na área portuária existe o Museu do Porto (onde era Casa               de Máquinas de Energia da MHL) que está fechado faz décadas. Existe um desejo da Prefeitura de Manaus em reabrir este espaço ainda no ano de 2021, pois faz parte do projeto “Viva Manaus”.        Não sei se o prédio da Alfândega e a Guardamoria foram contemplados em tal projeto.

Na realidade, a população de Manaus não sabe quem são os donos         do nosso Roadway, das Casas da Booth Lines, Museu do Porto               e do prédio da Alfândega e Guardamoria: É a União? O governo       do Amazonas? A Prefeitura de Manaus? A família Di Carli                  ou a empresa Chibatão? Todo mundo quer ser o dono, somente para usufruir, ganhar rios de dinheiro e destruí-los aos poucos,                 isto todos nós sabemos. 

Na minha humilde opinião, todo o complexo do Roadway        pertence     ao povo de Manaus e não a particulares. 

O governo do Estado do Amazonas (SEC) e a Prefeitura de Manaus (ManausCult) devem fazer uma parceria e revitalizar, urgentemente, todo o complexo da Alfândega (pode tornar-se a sede da ManausCult, por exemplo).

Com relação à Guardamoria, todos os objetos citados pelo Otoni Mesquita e outros encontrados no local devem ser transferidos para     o Museu do Porto. 

O local deve ser aberto para visitação pública, tornando-o             uma atração turística, permitindo as pessoas subirem as escadas     em caracol, para usufruírem da visão panorâmica do segundo andar, tomar um suco, água ou café numa lanchonete que deve ser aberta naquele local, além do Farol (pintado nas cores original de verde        e amarelo) voltando a funcionar, dando à noite umas piscadas         de luzes quando os transatlânticos estiverem ancorados no cais        do Roadway.

É isso ai.

Foto: José Rocha