segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

ILUMINAÇÃO PÚBLICA À GÁS DA CIDADE DE MANAUS

 



Ao passar pela Praça Antônio Bittencourt, conhecida como Praça do Congresso, o transeunte encontrará bem na cabeceira da Avenida Eduardo Ribeiro uma placa com os seguintes dizeres “ Iluminação Pública – Manaus foi uma das primeiras cidades brasileiras a ter iluminação à gás, ainda no século XIX. Nesta praça a marca do progresso: garrafa, exaustor, tubulação e tampa de ferro fundido, marcando história – Secretária de Cultura do Governo do Amazonas”.

Na última reforma da citada praça, ocorrida em 2012, os equipamentos acima descritos na placa estavam enterrados, porém o administrador da cultura do Estado do Amazonas resolveu colocar visível ao público, deixando incrédula a grande maioria dos manauaras, pois somente uma pequena parcela conhece, através de estudos e pesquisas, que a nossa cidade já foi dotada deste moderno, para a época, sistema de iluminação pública.

Para entender como funcionava este sistema, fui buscar no trabalho de dissertação de pós-graduação em Engenharia de Produção, da Faculdade de Tecnologia da Universidade Federal do Amazonas-UFAM, denominado “Levantamento Histórico da Matriz Energética em Manaus”.

Segundo o autor, a cidade de Manaus iniciou a utilização de diferentes sistemas de iluminação, usando várias fontes como iluminantes até chegar a luz elétrica: banha de tartaruga, óleo de andiroba, querosene, benzeno, acetileno, gás globo, gás liquido de carvão e gás carbônico.

A partir de 2 de setembro de 1856, a Lei Provincial no. 67,  determinava a utilização de 25 lampiões utilizando gás liquido de hidrogênio, mas até 01/10/1857 ainda não estavam instalados.     Por questões políticas, a população padeceu muito com este sistema de gasogêneos.  

Em 1869, foi contratado o serviço de iluminação a querosene, executado pela firma Thury & Irmão, com 60 lampiões dispostos em postes de madeira de 12 palmos. Passando para 90 lampiões em 1871, depois para 110, mas mesmo assim eram insuficientes para iluminar toda a cidade.

Em 1872, o contrato foi reincidido, passando para outro fornecedor do Rio de Janeiro, para implantar o serviço de iluminação à gás carbônico, com 300 lampiões.  No entanto, o empresário faleceu e a cidade continuou a utilizar o querosene, sendo este considerado penoso e inconveniente.

No Rio de Janeiro era utilizado o sistema de iluminação chamado de Globe-Gaz. Foram reconhecidas as suas vantagens em 1878. Através da Lei Provincial no. 411/78 foi autorizado o presidente da província a substituir o querosene pelo Gás Globo.

Em 1882 tinham sidos instalados 25 lampiões na Estrada Conselheiro Furtado e mais 25 assim dispostos: Quatro no Bairro de São Vicente, na Rua dos Inocentes. Três na Rua Municipal. Dois na Rua da Matriz. Quatro no  Bairro dos Remédios, na Rua Boa Vista. Seis na Rua Aurora, Estada da Sete de Setembro até o Igarapé de Manaus. Quatro no Bairro do Espírito Santo, no Paredão e na Praça Paissandu  e Dois na Rua Costa Azevedo.

As colunas de ferro e os respectivos lampiões foram comprados pela empresa A. M. Baker & Co. Ltda. de Nova York/ USA (aumente a foto acima e poderá observar o nome do fabricante).

Anos depois foi efetivado um contrato com o comendador Manoel da Silva Leal Loyo, para iluminação a gás carbônico, saindo o de gás globo.

O contrato previa a duração de trinta anos o que revoltou a população, pois era caro  todos já queriam a iluminação elétrica.

O governador do Estado em exercício na época, Eduardo Gonçalves Ribeiro anunciou, em 1893, que já estava contratado o serviço de iluminação da capital do Amazonas por sistema de luz elétrica.       

Foi inaugurado em 22 de outubro de 1896 (o ano da inauguração do Teatro Amazonas) pelo governador Fileto Pires Ferreira, administrado pela empresa Manaós Electric Ligthing Company.




Os equipamentos expostos na Praça Antônio Bittencourt estão ali em torno de 140 anos! É pura história de Manaus.  Em 2012, o achado ficava exposto com vidro temperado em cima de uma grade de ferro. Com o tempo, os vândalos quebraram esta proteção de vidro, ficando a mercê do sol e da chuva.  Faz pena ver o local tomado de lixo e apodrecendo, sem nenhuma manutenção por parte da Secretaria de Cultura e Economia Criativa. Isto é uma vergonha!

É isso ai.

Fotos: José Rocha

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