sexta-feira, 18 de abril de 2014

A MALHAÇÃO DE JUDAS


A tradição de “malhar Judas” vem de muitos tempos atrás, uma herança da colonização portuguesa, representando o julgamento popular contra o Judas Iscariotes, o Apóstolo que traiu Jesus, em troca de dinheiro. Em decorrência do crescimento populacional, com o distanciamento das pessoas, essa e outras tradições vão aos poucos desaparecendo em nossa cidade – gosto dessa manifestação desde a minha infância e, para não deixar morrê-la, irei reviver em minha imaginação, malhando o Judas “Sugismundo”.

Na minha infância da Rua Igarapé de Manaus, o sábado era especial e às vezes temido, pois quando aprontava na Semana Santa, pegava a minha merecida surra dos meus pais somente nesse dia, por outro lado, era o dia de malhar os políticos e os vizinhos ranzinzas, com direito a leitura do “Testamento do Judas” - o que ocasiona sempre gozações e desavenças por parte daqueles que eram homenageados nesse dia.

Certa vez, participei da malhação de um Judas que estava de sandálias tipo havaiana, quando pegou fogo, parte dela colou no meu pé - sai em disparada pela rua, gritando de dor – todos achavam que eu estava tirando onda e não me ajudaram, passei maus momentos naquele dia.

Lembro do último Judas em que tive a oportunidade de confeccioná-lo, contando com a colaboração de vários colegas da “Ladeira da Rua Tapajós”, no centro da cidade – chamava-se “Pedrão”, uma homenagem a um morador da nossa rua - iniciamos pela parte da tarde e, conseguimos terminá-lo somente depois da meia-noite, quando foi amarrado num poste – cedo da manhã a galera pulou da cama e, ao chegarmos ao local, surpresa geral: tinham roubado o nosso Judas!

Falaram que foi o Felipe Viriato, um morador da Avenida Getúlio Vargas, todos correram para lá e, o encontramos pendurado em frente à Mercearia Aroeira – estava todo detonado, por lá ficou, mas, até hoje ele me pede desculpas pelo ocorrido.

Todo o ano gostava de andar pela cidade, registrando esse evento, mas, com o tempo foi acabando a tradição, sendo muito raro encontrar Judas pendurando nos postes – passei, então, a frequentar o Bar Cipriano, onde existia uma confraria que se cotizava para a confecção de vários bonecos, todos satirizando os políticos – no ano passado estive lá e, para minha surpresa, o Braga tinha deixando de coordenar os trabalhos – deixaram morrer a tradição, infelizmente.

Não sei se esse ano eles irão retomar a tradição, em todo caso, irei conversar com o meu amigo Rogério Português (um dos coordenadores), caso positivo, irei até lá para tirar fotografias e publicar no nosso blog.

Hoje, caso eu tivesse meios para poder confeccionar um Judas, o homenageado seria aquele cidadão que suja as ruas, um personagem de uma campanha publicitária levado ao ar faz algum tempo atrás “O Sujismundo” – seria uma forma de malhar essas pessoas que na maior cara dura, jogam nas ruas garrafas pet, copos plásticos, paus de picolés, papeis, restos de alimentos e tudo o mais, deixando a cidade feia, suja, com uma aparência de um povo mal educado, sem respeito ao próximo, ao meio ambiente, ao Rio Negro que recebe toda essa carga e, a novas gerações.

Não quero ser melhor do que ninguém, mas, sempre me policiei com relação ao lixo, ao cuidado com a minha cidade, com o meio ambiente – sou capaz de ficar horas com uma garrafinha de água na mão, para somente descartá-la na lixeira, pois não jogo de forma alguma na rua.


Eduquei os meus filhos a não jogarem lixo nas ruas e, eles estão agora educando os seus filhos a respeitarem a cidade. Semana passada, fiquei a observar um grupo de jovens que saíam de um colégio público, eles simplesmente jogaram latinhas de refrigerantes no meio rua e, davam gargalhadas daquilo – esses moleques não recebem uma educação adequada em casa e na escola, eles e outros que sujam a nossa cidade são os "Judas Sugismundo" do "Sábado de Aleluia". É isso ai. 

2 comentários:

Unknown disse...

É verdade muita coisa mudou mas vejo que hoje eles não são tão como era antigamente pois basta ver como está mudando a nossa sociedade mas é verdade não podemos deixar morrer essa prática não é mesmo?

Unknown disse...

Verdade não podemos deixar morrer essa cultura, mas mantendo a cidade limpa é claro.