O segundo quilombo urbano do
país, título recebido em 2014, localiza-se na Zona Sul de Manaus, na Rua Japurá,
no Bairro da Praça 14 de Janeiro – residem há 126 anos naquele lugar, formada a
partir da vinda de uma escrava do Estado do Maranhão, e que teve guarida do
governador à época, o negro e maranhense Eduardo Gonçalves Ribeiro (1862-1900).
O militar Eduardo Ribeiro
foi um árduo defensor da República, tendo fundado, em São
Luiz, no Estado do Maranhão, um jornal denominado “O PENSADOR”, para difundir as
suas ideias republicanas – com o advento da nova forma de governo, ocorrida em
1889, foi agraciado com um alto posto no governo do Estado do Amazonas, onde fixou
residência em Manaus, seguindo a sua espetacular trajetória política e,
morrendo precocemente.
Com a abundância de recursos
advindos dos impostos da exportação da borracha, embelezou a cidade,
construindo suntuosos prédios públicos, muitos deles ainda presentes no nosso
cenário – para trabalhar nessas obras, incentivou a vinda dos seus conterrâneos
– a exemplo o nosso Teatro Amazonas e o Reservatório do Mocó, com 126 anos,
foram construídos com o suor desses bravos negros maranhenses.
Todos eles se reuniram e
formaram uma comunidade no bairro da Praça 14, conhecido como “Vila dos
Maranhenses”, onde construíram um barracão (terreiro), para a pratica dos seus
costumes e crenças -tendo todo o apoio por parte do governador, que inclusive
doou o terreno onde é hoje conhecido como Barranco de São Benedito, um símbolo
da resistência negra.
Uma das primeiras a se
estabelecer naquele local foi a Dona Maria Severa Nascimento Fonseca, uma ex-escrava
que veio por escolha própria, em meados de 1890, após receber a carta de
alforria (liberdade) de seu senhor, conhecido como Dr. Tarquinho – a libertação
total dos escravos ocorreu em 1888, com a assinatura da Lei Áurea, foi um longo
caminho de lutas de resistência realizada pelos escravos durante todo o período
colonial e imperial.
Ela veio em companhia dos
seus filhos, Manoel, Antão e Raimundo, sendo recebido pelo seu conterrâneo
Eduardo Ribeiro – trouxe consigo o símbolo de maior devoção da família até
hoje, a imagem de São Benedito - contam que foi confeccionada em Portugal e foi
dado a ela como presente.
Durante mais de um século, a
Comunidade do Barranco permaneceu unida, resistente e lutando para manter viva
as suas origens e tradições – tiveram a sua história reconhecida com a vinda a
Manaus, em 2014, da Fundação Cultura Palmares, para conceder aos descendentes
dos escravos maranhenses, a certidão de auto definição de quilombo, tornando o
Segundo Quilombo em área urbana no país (o primeiro fica em Porto Alegre, o
Quilombo da Família Silva).
A Fundação Cultura Palmares
é um órgão federal, sediado em Brasília, integra o Ministério da Cultura, tem
por finalidade promover e preservar a cultura afro-brasileira – preocupado com
a igualdade racial e com a valorização das manifestações de matriz africana.
O Quilombo dos Palmares foi
um quilombo da era colonial brasileira, ficava na Serra da Barriga, atual
município de União dos Palmares, em Alagoas – resistiu a mais de um século à
escravatura – Zumbi era o líder do povo, tornou-se símbolo da luta dos
afro-brasileiros contra a opressão e a discriminação.
Para manter viva a tradição
e passar para as novas gerações, a Comunidade do Barranco comemoram, em abril
de cada ano, uma festa em homenagem ao santo protetor, com a Festa de São
Benedito, com a suspensão de um Mastro (de Envira) com oferendas, Novenas,
Procissão, Missa, Danças e rodas de capoeira - e o encerramento com a derrubada
do Mastro, onde são distribuídas comidas típicas da cultura afro (vatapá com
arroz e a tradicional bebida aluá).
Alguns historiadores afirma
que, São Benedito nasceu na Sicília, na Itália, em 31 de março de 1524 - era
pobre e descendente de escravos da Etiópia, outros, dizem que ele era um
escravo capturado no norte da África, o que era muito comum no sul da Itália –
ele era chamado de Benedito, o Negro ou Benedito, o Africano, bem como, Mouro,
pela sua cor de pele – foi cozinheiro no Convento dos Capuchinhos, tinha o
hábito de distribuir alimentos aos pobres, sendo considerado o Padroeiro dos
Cozinheiros.
O bairro da Praça 14 é
considerado o berço do samba de Manaus, da resistência, fé e da diversidade
cultural – leva esse nome em decorrência de uma revolta contra o governador
Gregório Thaumaturgo de Azevedo, que estava atrasando os salários dos
servidores e os serviços básicos, com a sua renuncia o Eduardo Ribeiro assumiu
o governo – abriga uma das melhores escolas de samba de Manaus, GRES Vitória
Régia, a verde e rosa.
A comunidade quilombola da
Praça 14 sente orgulho de suas raízes negras na Amazônia, tanto que promove
todos os sábados um encontro com a comunidade.
Segundo o meu irmão José
Henrique “O Projeto Samba de Raiz acontece todos os sábados, na Casa do Patecão
(a sede do Quilombo de São Benedito), com uma feijoada embalada pelo grupo Pão
Torrado, o samba entra pela noite, com a presença dos pagodeiros da Praça 14 e
vários convidados da Escola de Samba Vitória Régia”.
O nosso pai era um nordestino
negro, ele era muito amigo do saudoso Nestor Nascimento (fundador do Movimento
Alma Negra), dessa forma, valorizamos, também, as nossas origens.
Salve a Dona Severa, Dona
Lindoca, Nestor Nascimento, Eduardo Ribeiro e todos aqueles que guardam essa
preciosa página viva da história do Amazonas: O Quilombo Urbano do Barranco de
São Benedito de Manaus! É isso ai
Fontes e fotos: D24, A Critica, Wikipedia e Gov. do Amazonas.
Fontes e fotos: D24, A Critica, Wikipedia e Gov. do Amazonas.
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