Para: Berg Lessa Monica Lessa Marcia Lessa (in
memoriam) Tiko
Carlos Ramos Rogério
Dias Henrique
Martins José
Rocha Martins Graciete
Martins - turma da Rua Igarapé de Manaus.
O Zé Mundão era muito
danado, escalava os muros dos vizinhos para pegar “Mangas, Pitombas e Biribás”;
morcegava carroças e caminhões que passavam pela sua rua – era apaixonado por
cinema, todos os finais de semana assistia aos filmes de bang-bang no Cine Guarany
e Polytheama. Gostava também de pular da “Ponte Romana I e II”, na Avenida Sete
de Setembro – a única que ele respeitava era a “Ponte de Ferro” por ser bastante alta.
O Zé tinha a mania de subir em árvores, ao escalar um pé de Açaizeiro, deu uma ventania danada, ficou a balançar para lá e para cá, pensou que ia cair e morrer, depois da calmaria, jurou que nunca mais iria escalar árvores, no dia seguinte, já estava numa grande mangueira, quando estava no “olho”, o seu velho começou a gritar:
- Desce daí, Zé Mundão, a tua cama tá feita, tu irás pegar uma surra dobrada, ó menino danado, cruz credo!
Não tomava jeito, subia no Abacateiro e, peia, Jenipapeiro, Ingazeiro, Goiabeira,Coqueiro e, peia no Zé!
Existia um terreno bastante amplo na Rua Igarapé de Manaus, entre as ruas Lauro Cavalcante e Huascar de Figueiredo, pertencia a uma família de origem Síria, tendo como patriarca o Sr. Marcelino, comerciante de miudezas na Av. Joaquim Nabuco.
Para deleite do Zé Mundão e da garotada, o terreno era tomado de árvores frutíferas: açaí, biribá, graviola, goiaba, pitomba, tucumã, tamarindo, pajurá, dentre outros.
Mas o que chamava mais atenção eram as mangueiras! Havia de várias espécies, tais como: manga rosa, manga espada, manga massa e manguita.
A molecada ficava todas às tardes na espreita, tentando adentrar ao terreno para colher as mangas caídas, porém, era vigiada pelo Durau (filho do Marcelino, que nunca aprendeu a falar português), a Neide (filha) e por um cachorro bravo.
Quando a garotada entrava no terreno e era descoberto, além de devolver as frutas apanhava do Durau de galho de goiabeira!
Em vista disso, a molecada montou uma estratégia para roubar as mangas: entravam no terreno à noite, quando todos dormiam!
A farra acabou quando descobriu que à noite, no local, aparecia uma visagem (alma), da finada Dundum, ex-mulher do Marcelino.
Todos ficaram apavorados com a história da visagem, e nuca mais entraram lá à noite.
Tempos depois, se soube que a alma fora uma invenção dos moradores mais velhos, que pela manhã bem cedo, iam ao terreno e enchiam as cestas de mangas!
Na rua em que morava o Zé Mundão, tinha alguns carroceiros, todos eram nordestinos, principalmente do Rio Grande Norte – por não terem nenhuma qualificação e por serem poucas as oportunidades de trabalho, optavam pela carroça, movidas pela força de um cavalo e com estrutura feita de restos de camionete ou pequenos caminhões, principalmente das rodas e o eixo, onde assentavam uma caixa de madeira para as cargas de mercadorias ou pessoas.
Sempre às 5 da tarde, eles chegavam à Rua Igarapé de Manaus, vindo pela Rua Lauro Cavalcante, depois de um dia de trabalho no Mercadão Adolpho Lisboa, vinha um após outro: Manoel Hilário, João Batista e Expedito.
A garotada corria para morcegar (pegar carona) das carroças. Era uma festa para o Zé Mundão.
Quando os carroceiros faziam um bom trocado no dia, vinham todos sorridentes e deixavam a molecada toda morcegar.
Enchiam a carroça de meninos
desde a Rua Lauro Cavalcante até a uma estribaria, situado em um terreno baldio,
próximo a Rua Huascar de Figueiredo.
Porém, quando o apurado era ruim, eles chegavam de mau humor, e quem se atrevesse em morcegar era açoitado pelo chicote deles. Nesses dias, o Zé Mundão apanhava, mas, continuava a morcegar as carroças.
Por ser um trabalho duro, pouco lucrativo e sem nenhuma perspectiva de melhorias para esses trabalhadores, quando o Zé Mundão insistia em não ir à aula, a sua mãe gostava de falar:
- Se você não quiser estudar agora, quando crescer, vai ser carroceiro ou carvoeiro!
Era um sábio conselho, ele refletia bem sobre o árduo trabalho dos carroceiros nordestinos e dos caboclos carvoeiros que ficavam no final da Avenida Sete de Setembro e, de imediato se aprontava para ir à escola.
Texto escrito pelo meu irmão Jose José Rocha Martins e adaptado para um livro.
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